O que é o mal? O contrário do bem? Bem, ao indagar sobre as perguntas, fica complicado respondê-las se não houver uma predefinição do que é o bem e do que é o mal e das circunstâncias dessas definições. Sabemos que há uma série de acontecimentos na vida que podem ser englobados na definição do mal – a violência em qualquer de suas formas e suas consequências, por exemplo – porém, perante as circunstâncias, o mal e o bem se convertem em dois conceitos muito difíceis de definir.
Imprecisos que sejam, o mal descreve tudo aquilo que é ilícito, imoral, errôneo ou nocivo, ou que provoca dano. E o bem, pelo contrário, é a perfeição, o equilíbrio, o objeto da vontade e a qualidade de excelência ética que leva a uma melhor compreensão do amor, da irmandade, da humildade e da sabedoria.
Heróis e vilões. O bem e o mal. Dois conceitos que a humanidade não nunca deixou de refletir e tampouco de tentar compreende-los. E as narrativas gráficas. ou melhor os quadrinhos, não deixam de ser mais um meio de aprofundar tais perguntas, com as quais podemos se aproximar a uma resposta que, por esquiva, certamente nunca deixaríamos de contestar.
Apresentar e centrar um evento editorial nos vilões não é uma novidade na DC Comics. No ano de 1995, Mark Waid, a frente da editora, planejou evoluir alguns vilões esquecidos com um evento que colocaria na linha de frente da batalha com os super-heróis. Foi o evento do ano que golpeou todas as outros títulos, salvo a do Superman.
Era a A Vingança do Submundo (Underworld Unleashed, no original), uma mini-série de três títulos, com o traço de Howard Porter, que apresentava Neron, uma entidade demoníaca, que dava novos poderes a diferentes vilões para ajudá-los, mas que na verdade queria obter suas almas.
Ano passado, a DC voltou a usar os vilões, que sempre foram o motor e o espelho por o qual os heróis se mediam, um macroevento que ficou por aqui conhecido como Vilania Eterna, corruptela do título original
O catalisador da narrativa está no grupo conhecido como O Sindicato do Crime, surgido em 1964, nas páginas da JLA por Gardner Fox e Mike Sekowsky. Originários da outrora Terra-3, cansados de governar o seu planeta, descobrem a Terra Ativa e a Terra Paralela e o desafio que precisavam para sua sede do poder.
Anos depois, em 1999, na narrativa gráfica de Grant Morrison, Terra-2, o conceito do Sindicato do Crime se atualiza, oferecendo uma visão mais maligna desta contraparte da Liga da Justiça.
Posteriormente passaram por novos retoques na série semanal 52, e serem redefinidos por completo por Geoff Johns no Novo Universo DC na minissérie de 7 números conhecida por aqui como Vilania Eterna, tradução meio que errônea, pois considero o termo raso “vilania” como um reflexo superficial da Maldade, que é o mote das edições.
Tratar de Johns a frente de vilões é algo imprescindível. Sua trajetória dentro de todos os títulos que esteve a frente, fez com que desfrutássemos arcos argumentais dedicados exclusivamente ao desenvolvimentos dos vilões. Dois exemplos temos quando estava a frente das séries do Lanterna Verde e do Flash, onde o protagonismo dos vilões chegarão a rivalizar com o herói do título. Portanto não surpreende está a frente de Forever Evil.
Mas o que ocorre nessa Vilania Eterna?
O Sindicato do Crime, após os acontecimentos da Guerra da Trindade, consegue chegar ao nosso mundo. Logo, desencadeiam um confronto entre a JL e a JLA que termina com a morte da dos heróis com sua contraparte maligna. Cyborg libera de um programa IA que que anula todos os sistemas informáticos do planeta e toma para o seu controle. Enquanto Sindicato se concentra em convidar/ obrigar aos vilões a por de seu lado para dominar a Terra.
E até aqui implica fazer spoiler da série. Vilania Eterna merece ser lida com o desconhecimento da mesma a fim de desfrutar todas as surpresas que encontraremos nas suas páginas. O grupo de vilões que emerge contra o Sindicato, os personagens que se apresentam pela primeira vez neste Universo dos 52 , a tortura de um conhecido herói, os segredos que o Sindicato esconde, as identidades secretas reveladas… Toda uma avalanche de regalos, bons ou ruins, alguns bem plausíveis outros não, mas que mantém o leitor do inicio ao fim a cada um dos sete números e nos títulos extras que os vilões assumiram após o desaparecimento dos heróis.
Mas o que é a Vilania Eterna mesmo? É uma série do Lex Luthor, que Johns dá o valor que o personagem merece. Luthor se mostra, porque sempre foi assim, como uma mente brilhante, analítica, fria e calculista, capaz de tomar decisões difíceis em situações mais difíceis ainda, com o único fim de alcançar seus objetivos. Porém o melhor de tudo não é Johns mostrar um Luthor mais inteligente de todos os tempos, mas desenvolver um Luthor com um coração que segue sendo humano, escravo de suas emoções, numa tridimensionalidade pura.
Também é a série do Sindicato. Johns traz um grupo letal, sanguinário, violento e obscuro como nunca antes. Com personagens favoráveis à violência sem sentido, transtornados, manipuladores, traiçoeiros e o principal, tão escravizados pelas emoções como todos os demais personagens. O mal que engendra o mal. Uma combinação perigosa, ainda mais, quando os personagens demonstram no âmago um medo em segredo. E logo saberemos que algo pior aparecerá?
Johns torna a minissérie um evento com consequências, muitas das quais, em como está estruturado o Universo DC. Como uma preparação para uma saga maior, como a frase promocional já diz nada voltará a ser o mesmo. Talvez o mais negativo da série seja o sétimo número, onde notamos uma certa precipitação em finalizar a história, motivada pela escassez de páginas e pela quantidade de arcos desenvolvidos ao longo dos títulos principais. Johns construiu nos números anteriores e em tie-ins um argumento com várias linhas e que chegou ao último número sem espaço, precipitando num final com “peças de dominó” demais. Mas que não ofende muito o arcabouço de toda a série.
Também merece comentário o trabalho gráfico que David Finch faz para a série, consegue transmitir a força que a série precisa, em alguns pontos, espetacular, outros irregular, inclusive totalmente inadequado para alguns momentos da história, mas, analisando pela obra, não impede de desenvolver um bom trabalho.
A série se mostra como um evento que entretém seus leitores, eficaz para o que se queria desenvolver e com força suficiente para golpear e sacudir vários dos conceitos já assentados pelo Universo DC e mesmo alguns nossos. Recomendo não só pela obra em si, mas pelo conceito para descobrirmos que os vilões que tanto odiamos são muito mais que uma cara maligna.
A Panini publicou Forever Evil por aqui em edições caprichadas e aplaudamos a decisão, que enfim aporta com empenho os lançamentos da DC Comics.
Bom post mas eu discordo da arte……o Finch fez um trabalho podre nessa saga,totalmente oposto ao excelente trabalho feito em LJA