Após abordar a natureza das trupes (krewes), duas prévias de Geist: The Sin-Eaters foram dedicadas aos encontros dos Devoradores de Pecados: a primeira apresenta seus aspectos mais gerais, enquanto a segunda enfoca as vigílias e assembleias.
Prévia de 5 de julho – Você está cordialmente convidado…
Encontros
Em um velho cemitério na periferia da cidade, duas dúzias de homens e mulheres se reúnem para dançar, beber e homenagear o morto. Muito abaixo da cidade, abaixo das linhas do metrô, abaixo dos esgotos, eles se encontram diante de uma porta que não é uma porta. Coisas vêm até eles, coisas que foram, talvez, outrora homens vivos, as quais oferecem poder terrível em troca do aroma de uma simples rosa recém colhida. Conforme um assassino em série invisível de “quarto fechado” (Nota do tradutor: “locked-room” é um sub-gênero da narrativa policial em um crime ocorre em um lugar fechado, sem que ninguém tenha entrado ou saído) reclama sua sétima vítima, duas gangues rivais põe de lado seus rancores e suas Glocks, reunindo-se sob uma bandeira de trégua para compartilhar informações sobre como pará-lo. Alguns preferem chamá-las de Feiras da Carne, um termo carregado com a habitual carga de duplo sentido com que a cultura dos Devoradores de Pecados se compraz: são encontros daqueles que conhecem a morte mas ainda tem corpos físicos, mas também são muitas vezes oportunidades para ceder aos prazeres da carne.
À parte da Rede do Crepúsculo, encontros dos Atados são habitualmente as interações em maior escala que os Devoradores de Pecados têm com outros de seu próprio tipo. Reunindo numerosas trupes, às vezes mesmo de numerosas cidades, encontros podem ser qualquer coisa desde festas barulhentas e orgiásticas a negociações tensas entre rivais que de outro modo poderiam atirar um nos outros antes que fossem vistos. Pode ser um lugar para uma Devoradora de Pecados ganhar contatos, informação, ou mesmo mementos negociados – ou pode simplesmente ser um lugar para ela liberar as rédeas de seu geist, para provar dos prazeres relembrados de uma existência terrena.
Em acordo com a falta de uma “cultura dos Devoradores de Pecados” global e extensa, não há um único padrão aceito para os protocolos de um encontro. A única regra que é (habitualmente) aplicada é que rancores são deixados à porta – esperá-se que trupes rivais se comportem e deixem qualquer discordância grave lá fora. Em algumas partes do mundo, essa advertência é tomada muito seriamente: nas Filipinas, por exemplo, todos os Atados são considerados irmãos quando um encontro é convocado, e esperá-se que mesmo trupes no meio de uma contenda de sangue em andamento paguem drinques uns aos outros e compartilhem algumas risadas. Em outras regiões, as coisas são menos cordiais: por todo os Estados Unidos, o melhor que você provavelmente vai ver são rivais recebendo algo mais violento do que revides em voz alta. Além disso, as regras e etiqueta de um encontro são tão fluidas e flexíveis quanto tendências entre os mortais. O que é considerado adequado e esperado em um encontro pode ser absolutamente gauche e tabu poucos meses depois ou a poucas milhas pra baixo da estrada.
Convocando um Encontro
Não há práticas uniformes no que diz respeito a quem pode convocar um encontro, ainda que na maioria dos casos poucos Devoradores de Pecados darão atenção a um convite de alguém menos importante que o líder de uma trupe – e mesmo aí, quantos se preocuparão em aparecer depende largamente do quão influente e respeitado o líder da trupe é. Não é apenas uma medida de tamanho ou poder bruto e sobrenatural; mesmo uma trupe pequena e arrivista pode construir uma reputação por montar um encontro verdadeiramente épico, que fará muito mais Devoradores de Pecados sentarem e prestarem atenção quando for a hora de uma vigília (q.v.). Essa reputação também conta para solicitações de encontros mais sombrios, deste modo sendo uma reputação que vale a pena cultivar.
O modo tradicional de anunciar um encontro é colocá-lo na Rede do Crepúsculo e deixar que se espalhe, embora trupes que estejam em bons termos com sua vizinhança sejam cada vez mais propensas a abandonar a formalidade e apenas fazer alguns telefonemas. Na maior parte do mundo, um anúncio “aberto” (isso é, uma mensagem na Rede do Crepúsculo anunciando um encontro) é considerado como sendo um convite a qualquer um que o veja – negar o acesso a alguém que encontrou o convite de boa fé é considerado desprezível ao extremo, sem mencionar um insulto flagrante. Essa regras às vezes se estende mesmo a não-Devoradores de Pecados: habitualmente o código da Rede do Crepúsculo afasta a turba, mas se um mortal qualquer (ou mesmo um outro ser sobrenatural) reconhecer e decifrar a mensagem escondida, é considerado convidado. O quão estritamente essa prática é mantida depende da natureza do encontro: se for apenas os Atados se reunindo para relaxar e se divertir, os forasteiros são geralmente aceitos para freqüentar uma das mais bizarras festas de suas vidas. Concílios de Guerra e afins tipicamente mandam embora qualquer caçador de emoções à sua porta, para sua própria segurança assim como para o sigilo da comunidade de Devoradores de Pecados.
Encontros são tipicamente anunciados em qualquer intervalo entre uma semana e um mês de antecedência para assegurar que a maioria dos Devoradores de Pecados na área tenham a chance de ver o convite. Assuntos especialmente urgentes, como um geist renegado acumulando uma contagem de corpos ou um necromante capturando Devoradores de Pecados para os mais nefastos propósitos ocultos, podem ter um “tempo de resposta” menor, e alguns encontros maiores e regulares são anunciados com cerca de um ano de antecedência.
Prévia de 7 de julho – Razões para se Encontrar
A maioria das regiões com algum tipo de presença de Devoradores de Pecados realizam vigílias na maioria dos principais feriados, com a maior e mais extravagante acontecendo, sem surpresa, no Dia dos Mortos. (O festival maciço do Dia dos Mortos é na verdade uma invenção relativamente recente, ao menos fora da América Latina, datando da metade do século XX. Outras culturas realizam vigílias similares durante feriados análogos, como o festival Bon japonês ou o “Festival da Vaca” nepalês). A maior parte das comunidades também realizam uma vigília quando uma celebridade proeminente morre, particularmente de forma inesperada. Os Devoradores de Pecados do Reino Unido supostamente realizaram uma vigília que se espalhou pela nação inteira e durou por quase um mês quando a Princesa Diana morreu, um encontro rivalizado somente pela vigília de Nova Iorque por John e Robert Kennedy.
Além desses eventos principais, trupes individuais realizam vigílias para celebrar vitórias maiores, introduzir novos membros ou apenas porque se sentem assim. Tradições locais também desempenham um papel; uma trupe de Nova Iorque cujos membros operam um bar de esportes oferece um drinque a qualquer um que se sentir “tocado pelo morte” depois de alguma derrota dos Yankees. Em Nova Orleans, a vigília do Mardi Gras diminui mesmo a celebração do Dia dos Mortos.
Assembleias e mercados são realizados menos frequentemente, e habitualmente apenas pelas trupes maiores e mais proeminentes na área. Isso demanda um bocado de músculos para proporcionar a segurança para manter os demagogos na linha e assegurar que os mercadores sejam honestos, para não falar de cacife para fazer com que as pessoas apareçam para um encontro sem a promessa de bebida e música. Quando uma trupe menor precisa da convocação de tal encontro, eles tipicamente buscam um contato em uma trupe mais influente para convocar o encontro em seu nome. Algumas trupes construíram elas próprias um empreendimento próspero em torno dessa prática, aparentado com o velho sistema romano de patronato. Essas trupes podem mesmo servir como supervisores da Rede do Crepúsculo local, dando-lhes ainda mais desenvoltura para monopolizar a habilidade em solicitar um encontro.
Concílios de guerra são os mais raros encontros de todos (e se não forem, pode ser a hora de considerar uma mudança) e as razões para convocá-los são bastante auto-explicativos. Porque ocorrem tão raramente, quando um é convocado é geralmente menosprezado como um ataque de pânico por parte de algum novato infeliz, a não ser que venha de uma das mais importantes trupes locais. Mesmo chegar ao ponto de um concílio de guerra poderia ser uma crônica por si só, como uma trupe devendo primeiro descobrir a ameaça, então imaginando quem poderia ter a influência para efetivamente convocar um concílio de guerra e finalmente convencê-los da necessidade de convocá-los.
Recorte
Assembleias: Para a maior parte, Devoradores de Pecados fazem o que fazem em seu próprio tempo e do seu próprio jeito. Não há supervisores se certificando que os Devoradores de Pecados estão pondo os mortos para descansar (e mesmo se houvesse, seria rapidamente contestado pelos Devoradores de Pecados de Arquétipos diferentes), e assim os Devoradores de Pecados habitualmente não costumam se preocupar em demasia com o modo como seus companheiros usam seus dons fora de circunstâncias extraordinárias. Às vezes, contudo, uma ameaça revelá-se grande demais para que um Devorador de Pecados, ou mesmo uma trupe, lide com ela. Às vezes há um mistério que não pode ser solucionado por grupos menores, e então um encontro é convocado. Essas assembleias são habitualmente para lidar com uma questão específica, seja algo fora dos meios da trupe para lidar sozinha ou uma questão tão ampla que afete a população local inteira de Atados , mas às vezes uma assembleia é convocada apenas para compartilhar novidades gerais e informações que possam ser relevantes.
Assembleias geralmente são muito mais sóbrias que vigílias, e uma etiqueta tipicamente de funeral se aplica: fique quieto, seja respeitoso e sombrio. Omitir informação na assembleia, particularmente informação que possa ser relevante para a questão tratada, é um forma certeira de ir para lista negra de todas as trupes presentes. Algumas podem mesmo seguí-lo e educá-lo depois que o encontro acabar.
Se vigílias assemelham-se a celebrações da vida, assembleias são mais próximas de se assemelhar às práticas funerárias mais solenes. O Atado tipicamente renuncia às modas mais espalhafatosas em favor de ternos e vestidos sóbrios e conversadores que os fazem facilmente confundíveis com uma festa de funeral. Se um dos Devoradores de Pecados abrigando a assembleia possuir uma funerária (uma ocorrência não incomum), a assembleia deverá ser realizada lá; caso contrário qualquer lugar com uma ressonância convenientemente sombria de morte pode servir: museus dedicados à práticas funerárias ou assassinatos em massa, capelas de hospitais (em horários singulares para minimizar o risco dos pacientes ou suas famílias aparecerem), ou mesmo o lugar de uma morte particularmente notável (como o Massacre do Dia de São Valentim ou o Ponto Zero). Um altar é frequentemente montado para ofrendas, como é a norma quando os Atados se encontram, mas esperá-se que as oferendas sejam mais sombrias e respeitosas: dinheiro queimado, uma fatia de pan de muerto, uma vela votiva ou semelhante.
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