Os leitores do Ambrosia sabem da minha total paixão por RPGs diferentes (vulgos Indies) e o mundo acaba de ganhar mais um. Publicado pela Thoughtful Games, o livro se chama “Montsegur 1244” em referência ao cerco do Castelo de Montsegur em março de 1244, talvez o maior marco da cruzada albigense, dedicada ao extermínio dos Cátaros, que só teria seu fim derradeiro em Queribus em 1258. Para aqueles que desconhecem, o Catarismo foi uma crença que surgiu no século XII, notoriamente em Languedoc, no sul da atual França. Caracterizada pelo forte tom gnóstico em seu discurso, os cátaros acreditavam que a existência terrena era uma prisão para a alma, e que o mundo material/carnal não era nada além de um claustro maligno concebido por Demiurgo (que fazia contraponto ao Deus que estes veneravam, puramente imaterial e amoroso, levando a idéia de que o Catarismo possuiria influências maniqueístas) do qual os homens deveriam se purificar buscando a libertação.
Assim como os livros de Storytelling, a capa de Montsegur apresenta uma pequena descrição: “A story game about burning for your belief / um jogo de narrativa sobre queimar pelo o que você acredita”. Particularmente, gosto bastante dessas frases epítomes que alguns desenvolvedores colocam, acredito que trazem beleza ao transcrever o conceito do jogo de forma simples (nada melhor que Changeling: The Lost: A Storytelling Game of Beautiful Madness, um jogo de narrativa sobre bela loucura) . Portanto, apenas pela capa já me vi bastante intrigado pelo conteúdo do livro.
“Você renuncia suas heréticas crenças e deseja receber o perdão de nosso Pai?”
“Em março de 1244 essa questão foi colocada diante de centenas de cátaros. Eles haviam finalmente se rendido para o exército que havia sitiado o castelo de Montesegur por nove meses. Mais de duzentos responderam não, e portanto, escolheram a morte pelo fogo, destas, cerca de vinte haviam se convertido há menos de quinze dias. Quem foram estas pessoas que morreram por suas crenças?
Nós sabemos sobre isso por que os inquisidores escreveram textos detalhistas sobre os sobreviventes. Nós sabemos os nomes de muitos Cátaros, nós sabemos quem foram seus familiares e nós sabemos quais foram as suas vocações. Mas nós não sabemos por que eles agiram daquela forma.
Em “Montsegur 1244” os jogadores colaboram para criar uma história sobre quem foram estas pessoas. Cada um deles interpreta o papel de um Cátaro sitiado que agora deve fazer uma escolha entre a vida e a fé. É o seu dever, junto com os demais jogadores, criar uma história sobre estes homens e sobre o por que muitos decidiram pelo fogo. Ao jogar você decidirá qual será o destino desta pessoa, invariavelmente a história poderá terminar de três formas:
· Se arrepender diante da Santa Igreja
· Queimar na estaca
· Fugir pela noite
“Montsegur 1244” não possui narrador. Todos trabalham juntos para contar uma história. Um jogo para três à seis jogadores, estimado para durar cerca de três à seis horas”.
Resta apenas o custo de envio da Lulu.com voltar ao normal para que eu compre esse intrigante livro…
Soa interessante, mas não sei, soa como um plot, uma ambientação, mas não como um tema para um desenvolvimento de um livro completamente novo. A única coisa que soou diferente (da estrutura dos rpgs mais famosos) foi o quesito “sem narrador”, característica não restrita a ele apenas.
Mas isso é o normal no que concerne aos RPG Indies, não é um livro com regras e dados genéricos, ele apresenta uma idéia para uma narrativa completa, cuja as poucas regras são devotadas ao complemento deste cenário…
Parece bastante tocante de se jogar….
Sim, mas a impressão que tive é que este livro é uma idéia divertida, legal de se jogar e tal, mas não apresenta algo realmente diferente, como é o caso de Agon ou Don’t Rest Your Head.
O cenário é interessante, mas talvez seja focado demais no acontecimento, não parece ser um jogo pra se levar uma campanha não, acho que é mais diversão pra uma tarde chuvosa.
Mas a contra capa deixa claro, de seis à três horas de jogo. Raramente esses livros aguentam campanhas muito grandes, a idéia mesmo é um tarde de reflexão…
Mas o legal dos indies é justamente isso: não estão presos aos paradigmas do RPG convencional. Não são necessariamente desenhados para serem jogados copiosamente por meses/anos, não são necessariamente projetados para acomodar uma gama ampla de narrativas… eles são o que nasceram pra ser e ponto. Alguns deles caminham muito perto do limite daquilo que ordinariamente podemos rotular “RPG”. Pra mim, esse é o grande charme dos indies.
E Montsegur me parece muito massa!
Muito interessante, seria um reflexão interessante.
O tema me chamou muito atenção, acho que um tarde de jogo revelaria bem mais que simplesmente escolher um dos três finais, ou o escolha da fé e vida.