Resenha de Os Ritos do Dragão (DEVWW25300, 120 páginas, R$ 34,80)
Poucos romances foram lançados desde que apertaram o botão do Julgamento Final no War Room da White Wolf. Three Shades of Night traz contos sob perspectivas de diferentes criaturas em Chicago e, dizem por aí, chega a divertir. A trilogia A Hunger Like Fire, Blood In, Blood Out e Marriage of Virtue and Viciousness é um aborto literário que até hoje me arrependo de ter lido, embora tenha deixado em minha mente personagens memoráveis como o Bispo Birch, que diz a um espião Nosferatu : “Fale ou vou te dar de comida a meu peixinho dourado”. Esse, aliás, um Daeva extremamente austero e meticuloso.
Os Ritos do Dragão é o quinto romance do novo Mundo das Trevas e está no limite entre ficção e suplemento. O veterano Greg Stolze parece ter dividido seus esforços em três frontes: tentou criar um minissuplemento sobre Drácula ao mesmo tempo em que buscava transformá-lo em ficção interessante tanto para novatos quanto aqueles com mais tempo de White Wolf; tudo isso evitando se distanciar muito do mito original. Se estiver procurando um misto entre esses três, o livro vale cada centavo. Agora, se quiser um bom suplemento, boa ficção ou o mito original de Drácula, fuja. Esteticamente o livro é ideal: capa forrada, imagens e mais imagens que vão do grotesco ao sublime sutilmente e atenção a minúcias como diferentes planos de fundo. Deram um show. A versão brasileira está, aliás, à altura da original. Sim, o tom de vermelho e o tamanho do símbolo da capa mudam, mas não é uma desvantagem, apenas uma diferença. A tradução em si é impecável.
O enredo se desenvolve na forma do diário do próprio Vlad que narra, de modo relativamente artificial, suas experiências de vida e não-vida. Infelizmente, vai ser perceptível a intenção do autor de bater nos mesmos temas desgastados de sempre. Todo maldito livro ou fanfic de vampiro – qualquer tipo de vampiro – costuma trazer as mesmas questões em cenários óbvios. Cansa ler em todo conto o deslumbramento de um vampiro ao beber sangue: Sim, já estamos cansados de saber como é inefável e fascinante e incrível; sim, já ouvimos analogias a sexo; sim, já sacamos o horror de ser um monstro sensual. É sempre o mesmo jorro de angústia e desejo juvenis espalhado de forma desconexa em longos trechos que poderiam, sabe, conter algo diferente. No caso do livro, você vai encontrar um vampiro de trocentos anos que ainda não se acostumou à ideia de sorver sangue e se deslumbra toda santa vez que fortalece seus músculos com ele ou usa alguma disciplina. The Blood, suplemento valioso, traz um capítulo inteiro discutindo como funciona a cabeça doentia de um membro da Família, frisando as diversas diferenças que poderiam surgir. O autor, por sua vez, traz às páginas personagens que vão pouco além de estereótipos com nomes – isso quando alguma personalidade transparece. Mas estamos falando de Greg Stolze, que em outros livros nos abençoou com um Lúcifer que tenta ser Constantine e Elísios decorados com crânios e várias bacias cheias de sangue putrefato. Aparentemente, qualquer senso de estética morre com o bom senso durante o Abraço.
Ritos parece querer ser o novo Livro de Nod. Por um tempo, achei que fosse, afinal é uma narrativa que trata da vida de um personagem icônico, explica a origem de um elemento de jogo importante (no caso a Ordo Dracul) e conta com seu próprio Livro do Apocalipse. Aí saiu Testament of Longinus, que faz basicamente a mesma coisa, melhor e com formato mais próximo ao Livro de Nod (incluindo notas de rodapé, discussões, etc). Fora isso, em jogo o Lancea Sanctum apresenta um dogma básico baseado completamente no livro, o que aumenta seu valor para jogadores. Já Ritos se enquadra mais no quesito “curiosidades”, até por a Ordo não possuir preceitos tão rígidos que, por sua vez, pouco tem a ver com o livro.
Assim, Os Ritos do Dragão é um volume ambicioso que tentou mastigar mais do que podia. Não é uma leitura de todo desagradável (ao contrário de Blood In, Blood Out), mas provavelmente o fará torcer o nariz mais que uma vez antes de chegar ao fim. Se for ler, faça-o sem pretensão ou expectativa alguma. Não espere Drácula, um suplemento, um romance, o novo Livro de Nod, originalidade nem tradição. É simplesmente Os Ritos do Dragão.
Eis uma das piores coisas que li nos últimos anos.
Aos seus apontamentos acrescentaria mais um: falta coesão as ilustrações.
Ninguém consegue me explicar por que um texto que tenta emular um diário seria ilustrado de maneiras tão distintas.
Resenhista: Klaus Rilke.