Tenho preparado a coluna do Olhares & Observações desta semana (que está atrasada), no entanto, acabei encontrando uma idéia muito legal em um site que costumo visitar. A proposta na verdade é bastante simples, como transformar as histórias presentes nos jogos do Mario em algo crível, e até interessante em uma perspectiva de roleplay, algo que apresente por exemplo noções de problema morais e outras questões presentes em RPGs mais “pesados”.
O Rei Cogumelo (Mushroom King, que aparece em alguns jogos) é um monarca autoritário, cuja base para sua justificativa no poder é o direito divino dos Reis, possui um domínio vasto, que per passa várias espécies e culturas que vivem no Reino Cogumelo (Mushroom Kingdom). O povo cogumelo sempre ganha do melhor e possui toda a assistência que eles necessitam, já os demais são alvos de interferência, exploração ou são totalmente ignorados por vossa Majestade Real.
Os Goombas são servos explorados e oprimidos do povo cogumelo. Já os Koopa possuem uma cultura guerreira, sempre subjugada no Reino. Seus primos são o Clã Martelo (os Hammer Bros. do jogo) que possui ferreiros e artesãos sem igual. Nas planícies desérticas de Kalimari vivem os nômades do Clã Bumerangue, e os Ossos Secos (Dry Bones) sacerdotes e guardiões das ruínas sagradas dos antigos seres dos quais todos eles descendem. O povo cogumelo explora as habilidades dos Clãs Martelo e Bumerangue, assim como violam as tumbas dos Ossos Secos em busca de tesouros.
A Princesa era uma humana que havia aparecido no reino a partir de circunstâncias misteriosas ainda bebê, tendo sido adotada pelo Rei e criada como uma pessoa Cogumelo. Eles a chamavam de Peach por causa do tom de sua pele, extremamente similar ao fungo branco dos homens cogumelo.
Os Snowies e os Flurries (que geralmente aparecem nas regiões geladas dos jogos do Mario) fazem parte de uma cultura teocrática do norte congelado, e falam uma língua que muito se assemelha ao movimento das geleiras. Eles veneram as grandes baleias, que foram caçadas quase até a extinção pelo povo cogumelo.
Os Pidgits são como os místicos Sufi, porém foram proibidos de praticar a sua dé dentro do Reino. Já os ShyGuys são de uma cultura de mercadores empreendedores assim como Snifits vêm de uma cultura tecnológica. Novamente, ambos tem seus talentos explorados pelo povo cogumelo.
Bowser o mais evoluído de todos os Koopas, provou a partir de conflitos durante toda a sua vida que era o mais forte e mais destemido de seu povo. Pelos seus costumes, esses atributos o instituíram como o Chefe da tribo. Sua liderança é pesada e sem compaixão, por que é desta forma que os Koopas gostam de viver. Ele é, para todos os efeitos, um representante eleito oficial (ao contrário do Rei Cogumelo e seu direito divino).
Kamek é o conselheiro de Bowser, o único feiticeiro do mundo e um socialista com ambições de reformas políticas. Ele está bastante abaixo na escala evolucionária, e se não fosse por seus misteriosos poderes ele com certeza seria um cidadão de segunda classe. Ele vê em Bowser uma ferramenta para a mudança e quer convence-lo a se aliar as demais culturas oprimidas (que colocariam suas diferenças de lado graças ao inimigo comum) e acabar com o Reino Cogumelo. Para esse fim Bowser se nomeia Rei dos Koopas e a rebelião se inicia.
Obviamente, Bowser acaba por raptar a Princesa Peach, mas com um motivo bastante claro. Ele não sabe que a mesma não é um fungo, quando a vê ele interpreta que a mesma e suas diferenças são simplesmente avanços na escala evolucionária. Ele vê nela a única mulher do mundo tão desenvolvida como ela, sua única igual. Ela se torna então uma obsessão para ele, que a rapta (com um alto risco para si) em vista de se casar com ela.
No meio de tudo isso entra o Mario, um simples encanador no mundo dos humanos que acaba parando lá por uma estranha circunstância. Pego pelo povo Cogumelo e alimentado pelos seus poderosos cogumelos, ele era capaz de dobrar de tamanho e multiplicar sua força, fazendo-o perder apenas para a de Bowser. Toad, o Chanceler do Rei, vê em Mario a única chance de resgatar a princesa e reverter os rumos da Guerra. Enchendo a cabeça do encanador com propaganda, ele o convence de assumir o posto de campeão do povo Cogumelo. Treinado para usar as mortais Flores de fofo e as poderosas estrelas, ele é enviado para sua missão.
Mario, Bowser, Peach e Kamek são os PCs. O desejo de Mario é fazer a coisa certa, seu objetivo é salvar a Princesa, e seu problema é o Poder. Ele acaba de ganhar muito poder, muito mais do que ele tinha quando era um simples encanador, e agora precisa aprender a usa-lo com prudência. O Desejo de Bowser é conseguir a independência do seu povo, seu objetivo é se casar com a Princesa, seu maior problema é compaixão e discrição, já que ele é um martelo em um mundo onde todos são pregos, e enquanto ele permanecer como um guerreiro selvagem e sem piedade, haverá apenas morte para ambos os lados. Peach também tem o desejo de fazer a coisa certa, seu objetivo é escapar de Bowser, e seu problema é uma questão classista, pois ela vê a si mesma como superior a todos os outros e acredita que Bowser é um servo ingrato afobado. Sua atitude é capaz de destruir qualquer chance para a paz e a reconciliação. Por fim, o desejo de Kamek é igualdade e seu objetivo é mudança política, seu maior problema é o confronto, pois ele teme o conflito direto, ele está tentando manipular uma pessoa perigosa, uma pessoa que não compartilha dos seus ideais. Para poder cumprir seu plano ele está atacando um problema delicado com um martelo volátil demais. Kamek poderia ganhar mais uma camada de complexidade se os seus poderes proviessem de uma fonte externa (como um espírito familiar) o que ilustraria que mesmo no que faz de melhor, é incapaz de uma abordagem direta.
Bem, é isso, esse é o cenário proposto por Marshall, é difícil pensar em um bom sistema para jogar isso, e com certeza também deve ser difícil conciliar quatro jogadores com objetivos tão diferentes, principalmente o Mario.
Devo dizer que eu particularmente gosto muito dessas dramatizações complexizantes com temas que são ícones da simplicidade. Um dos maiores exemplos disso é o Smurf Wars, uma revisão da mitologia do Smurfs que os levam para uma guerra civil. Isso mesmo, uma história com os bichinos azuis que gira em torno de guerra, sangue, traição, estupro e mais. Uma criação genial do Marcelo Braga.