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Entrevista com o cineasta Daniel Gravelli

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Embora desprestigiado, o curta-metragem ainda é a melhor forma de se introduzir na produção cinematográfica. O formato teve exibição obrigatória nos cinemas antes dos filmes nos idos dos anos 80, mas agora fica restrito a  festivais e mostras específicas. Nesse cenário, cineastas que apostam e incentivam a produção do cenário são heróis. É o caso de Daniel Gravelli. Autor da produção “Cinzas e Café”, o diretor e ator conversou com a Revista Ambrosia e deu um conselho a quem pretende se aventurar por essa seara sem patrocínio: Arrisque-se!

Geralmente, curtas metragens são restritos ao meio acadêmico, de forma experimental. “Cinzas e Café” foge bastante disso, tem cara de superprodução. Você acredita na viabilidade dos curtas como um produto comercial?

Sim, com certeza, existem muitos curtas de ótima qualidade no mercado, qualidade essa que nos surpreende até nos detalhes. Tudo se torna ainda mais interessante, quando descobrimos que grande parte dessas produções é realizada sem nenhum incentivo financeiro, apenas com a ajuda de amigos e outros parceiros de trabalho, tornando possível enxergarmos a destreza dos profissionais em relação ao que foi construído ali. Sendo assim, por que não apostar nessas produções? O curta-metragem precisa ser visto pelo público, no final é ele que vai ditar se esse merece ou não o seu tempo. Enquanto isso, cabe a nós produtores continuarmos mostrando que esse tipo de trabalho tem potencial e pode sim abrir novas possibilidades.

Em relação ao “Cinzas e Café”, desde o inicio eu me via preocupado com os detalhes, me fazia bem saber que o que eu realmente queria estava acontecendo do jeito certo. Foram dias pesquisando antes de começar a escrever o roteiro e até eu definir o viés de minha direção. No final passamos por uma pulsátil finalização até o momento de poder exibi-lo em um espaço que era tudo o que estávamos buscando.

Dada a verba normalmente destinada a curtas, isso quando o diretor não tira do próprio bolso, você realizou um trabalho luxuoso em “Cinzas”. Qual foi o custo total do filme?

Antes de qualquer coisa, devo deixar claro que o filme não teve nenhum incentivo financeiro do governo e/ou de patrocinadores. Todo o trabalho realizado durante qualquer uma das fases dessa produção veio diretamente do apoio da equipe e elenco que abriram mão do cachê por acreditarem no projeto; de marcas apoiadoras que disponibilizam seus serviços e de alguns produtores que puderam investir no projeto.

Durante o processo de pré, produção, pós e finalização, no total, o filme teve um custo de quase 22 mil reais.

Muitas pessoas que assistiram a Cinzas e Café dizem que poderia render um longa. Você pretende fazer a versão longa metragem do filme?

Confesso que isso é um sonho, César! Mas, um sonho que pretendo realizar um dia, pois sou um pouco perfeccionista e olhando o filme hoje, já penso em quais detalhes eu mudaria na produção e fazer isso seria ótimo. Entretanto, não seria por agora que eu realizaria esse feito, simplesmente, por estar envolvido em outros projetos. Mas quem sabe um longa ou, como alguns me sugeriram, uma série possa surgir um dia?

Fale sobre a produtora Wallaroo Corp.

A ideia da Wallaroo Corp. surgiu quando eu morava na França. Foi por lá que comecei a traçar todos os objetivos que ainda tenho para ela. Depois que cheguei ao Brasil, diversas pessoas colaboraram com a produtora a fim de nos ajudar a desenvolver os produtos que tínhamos.

Tivemos a parte boa, mas também enfrentamos dificuldades e momentos complicados, como falsas promessas de apoio e parcerias. Mas tudo isso serviu para o nosso crescimento como profissional! Nos fez amadurecer, passamos a analisar melhor o mercado e focar ainda mais em nossas metas. E, aos poucos, vamos construindo nosso caminho, com muito trabalho e determinação. Hoje, ao lado de minha sócia, a produtora Aimée Borges, estamos focados em nossos próximos trabalhos que podem render um infinito de possibilidades. Estamos seguindo, como diz o nosso slogan, “Reinventando a imaginação”.

A atriz Helga Nemeczyk é sua frequente colaboradora, certo? Como se iniciou essa parceria?

Casos do acaso! Durante a pré-produção do filme “Cinzas e Café”, uma atriz que admiro muito, a Mabel Cezar, teve que deixar o elenco devido a conflitos de agenda (Uma vez que tínhamos mudado a data de início da produção). Foi um momento difícil para o filme, pois ela estava ótima na personagem.

Cheguei a testar algumas atrizes durante vários dias, mas não estava encontrando nenhuma que tivesse a química necessária para com a personagem.  Faltando dois dias para o início das filmagens, de madrugada, eu recebi um telefonema das outras atrizes do filme, dizendo que tinham conhecido a pessoa perfeita para interpretar a Barbara (A personagem em questão) e que ela gostaria de encontrar comigo. No mesmo dia, mais tarde, fizemos uma reunião e, em menos de 10 minutos, a Helga tinha me convencido que era perfeita para o papel.

Depois disso, ela teve um dia e meio para estudar a personagem e conseguiu fazer um lindo e elogiado trabalho. – Ali nascia um carinho e admiração por essa atriz que se transforma a cada personagem, o que pode ser notado se você assistir a leveza de sua personagem em “Cinzas e Café”, seguido da angustiante interpretação em “A delirante historia de um homem morto”.

Quais foram as suas influências tanto para o roteiro quanto para a direção?

Especificamente, para esse filme, eu não tive nenhuma influência direta, mas acho que no geral fui beber um pouco na água dos cinemas francês e italiano. Sempre fui apaixonado pela estilo europeu de fazer cinema. Gosto muito dos trabalhos de Claude Chabrol, Éric Rohmer, Claude Lelouch, Federico Fellini e Vittorio de Sica.

Se aprofundarmos por outras terras, posso dizer que também aprecio os trabalhos de Terrence Malick, Martin Scorsese, Woody Allen, Tarantino e Clint Eastwood.

Quando poderemos ver o “Cinzas e Café” exibido em festivais?

Essa é uma pergunta que me faço todos os dias. Acho que todo diretor se faz essa pergunta. (rsrsrs). Mas, vai depender dos festivais. Estamos começando a enviar o filme para vários lugares, todavia o nosso filme tem quase 21 minutos e nem todos os festivais aceitam. Sendo assim, estamos vendo as nossas opções e espero poder dividir uma boa noticia em breve com vocês.

Fale-me de seus outros filmes realizados por você na produtora.

Além do “Cinzas e Café”, produzimos dois curtas-metragens que abordam o drama psicológico e o confinamento como ponto de partida.  Ambos foram produzidos em Minas Gerais pela Wallaroo Corp, em parceria com a Cropbox, a Manjubinha Filmes e a Shoot Gun.

O primeiro chama-se “Soldado de uma Guerra Vazia” dirigido por Paulo Olivera e roteirizado por mim. O Filme mostra um homem preso em suas próprias memórias, lutando para descobrir o que está acontecendo ao seu redor. Já o segundo leva um título ainda mais diferente “A Delirante Historia de um Homem Morto”, no qual trabalhei como roteirista e diretor, conta a conturbada relação de uma mãe que sofre de diversos distúrbios, com o seu filho que foi aprisionado por ela dentro de um quarto durante 20 anos.

Ambos os filmes foram produzidos pela mesma equipe na cidade de Muriaé. Cada filme levou um dia para ser filmado.

Para fechar, qual o conselho que você dá para quem quer começar a fazer cinema no Brasil, mas tem medo, por achar que precisa de muito patrocínio?

Arrisque-se! Foque em seus objetivos e atinja cada um deles, determinando o tempo necessário para todos. Não vai ser fácil e você vai tropeçar várias vezes, por isso estude bastante, por você, pelo público e para não ficar para trás no mercado de trabalho. E, principalmente, lembre-se: Fazer cinema não é só apontar uma câmera e gravar, existe toda uma análise por trás que você precisa levar em conta. Você pode até fazer um filme sem dinheiro, mas nunca conseguirá terminá-lo sem ponderar suas ideias.

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