Os anos 2010 nos apresentou animações que passavam por uma reconversão. Por um lado, retomavam ou, talvez melhor, redesenhavam o estilo slapstick (pastelão) em suas histórias e, por outro, davam profunidade às narrativas que os personagens viviam ao longo dos episódios e temporadas.
Um tom mais sofisticado foi dado aos personagens, como uma razão ao seu comportamento. Ações sem sentido foram substituídas pr uma história a ser descoberta que o tornava especial. O que antes era engraçado, ao longo da série foi interpretado e revelado ao público como algo mais profundo e complexo.
Títulos anteriores a esse período, como Samurai Jack ou As Trapalhadas de Flapjack e projetos como Hora de Aventura (Adventure Time), Steven Universo, Gravity Falls e O Segredo Além do Jardim são exemplos da serialização da história, para além da aventura diária, de uma equipe como um todo ou de um protagonista que passa por um processo de iniciação e descoberta ao longo da série.
Os streamings usam essa fórmula, desenvolvendo animações que nos presenteiam com mais riqueza e profundidade aos personagens e suas histórias. E após este longo prólogo pelo qual o leitor tem passado pacientemente, para dar continuidade ao que expomos, à linha de animação para todas as idades cheios de fantasia e focados no enredo; tratamos da nova série animada que a Netflix traz, O Mundo dos Centauros (Centaurworld) que segue outras produções do estilo, como O Príncipe Dragão ou She-Ra e As Princesas do Poder. E nos presenteia com muita ação e música, com uma hilária comédia física que beira o lisérgico.
O protagonista é Égua, um cavalo fêmea treinada para a guerra que perde seu cavaleiro no meio da batalha quando um objeto mágico a envia para um universo paralelo onde pode conversar e fazer novos amigos.
O Mundo dos Centauros é, como o nome indica, um mundo de diferentes tipos de centauros – corpo animal e torso “humano” – que podem ser desde lhamas, zebras, girafas, gazelas, esquilos, ursos, toupeiras ou outros animais.
Um universo perfeito em cor e harmonia, bastante diferente daquele de onde vem a Égua, devastado por guerras, arruinado pela passagem dos minotauros – vilões da série. Nesse mundo começará sua jornada para voltar ao seu cavaleiro e encontra alguns companheiros que irão ajudar nessa sua empreitada: Lindaura, a líder carismática e superprotetora do grupo, metade lhama/alpaca; Gazelda, metade gazela com vários problemas, cleptomania uma delas; Zé Luís, meia zebra, narcisista; Pescoço, metade girafa e metade fisiculturista, um tanto bobo e com bom coração; e o pássaro Tiko, que vive irritado.
Da ex-animadora da DreamWorks, Megan Nicole Dong, O Mundo dos Centauros é uma reviravolta centrada em animais numa fantasia envolvendo um portal, onde um personagem em um mundo mundano encontra seu caminho para um mágico.
Em sua primeira temporada de 10 episódios, a série mescla tolices com conteúdo sério e usa inteligentemente das diferenças estilísticas de animação, bem como a abordagem única de música para uma animação, faz com que valha a pena assisti-lo – pelo menos para os espectadores que toleram piadas de pum.
A jornada
A jornada é significativa em questões internas da personagem, que é convidada a levar as coisas menos a sério. Ou seja, a Égua é instruída em outros assuntos além do dever marcial e da luta constante, de ser feliz e alegre, de cultivar relacionamentos interpessoais sem medo. Para deixar os sentimentos aflorarem sem inibições e permitir-se ser natural, para se expressar sem preconceitos.
O design dos personagens, de Alex Myung (Steven Universe) aborda a coexistência de dois mundos, o primeiro com uma abordagem mais realista e mais próxima da série de animação, com cores menos saturadas; e a outra mais lúdica, com uma proposta alegre e colorida. É a imersão da protagonista num universo onde tudo é possível, contado a partir do humor bem pastelão, tipo do Turma do Pernalonga.
Por outro lado, a seleção musical, composta por Toby Chu (Bao da Pixar) é uma maravilha de referências, estilos e formas, conduzem e expressam bem a ambientação do episódio. O ritmo acaba ficando mais parecido com um musical no teatro. As conversas evoluem para canções, que movem a trama e cada personagem revela suas emoções em solos e usam os números musicais para moldar os momentos climáticos de história.
Veredito
O Mundo dos Centauros é uma tentativa ambiciosa de misturar travessuras a la Looney Tunes com uma história de fantasia séria. A primeira temporada, para além da sua simplicidade; possui personagens interessantes, usos bem deliberados de animação e músicas envolventes, é intrigante o suficiente para deixar o público esperando por mais.
A trama ganhou corpo com a inserção de um antagonista e uma segunda temporada desponta, espero que não ocorra como em outras séries seu cancelamento; pois além de ser uma produção singular, tem um toque fantástico, meio que épico, meio que louco, o suficiente para ser uma das melhores séries em animação que a plataforma lançou neste estilo. Vamos aguardar.
Nota: Ótimo – 3.5 de 5 estrelas
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