A Rio 2C 2019 recebeu, na última quarta-feira, o produtor e criador de “Black Mirror”, Charlie Brooker e a produtora do seriado Annabel Jones. No painel moderado por Peter Friedlander, vice-presidente da divisão de séries originais da Netflix, a dupla falou sobre o processo criativo dessa que é considerada uma das séries mais inventivas da atualidade.
Perguntada sobre qual o produto audiovisual recente mais relevante criativamente, Annabel revelou que considera “Homem-Aranha no Aranhaverso”. Charlie disse que a última coisa que teve acesso e achou genial foi o puzzle para PC e Nintendo Switch “Baba is You”, sob risos da plateia.
Sobre o processo de criar “Bandersnacth”, episódio da série que é um longa-metragem interativo, Annabel confessa que foi duro, confuso e desafiador. Charlie revelou que para desenvolver o episódio não linear, foi criado um software, o Branch Manager, que funciona como programação HTML. Sobre sua relação com tecnologia, o produtor explicou que fica aborrecido quando vê filmes ou séries em que os computadores procedem de forma equivocada.
Perguntados sobre como é trabalhar juntos, Annabel bricou “nós nos toleramos” e Charlie retrucou “diga isso por si mesma”. Ainda em tom bem humorado, Annabel contou que os dois se conhecem há 20 anos, então possuem “um desrespeito mútuo”. Isso permite que opinem sobre as decisões criativas do outro de forma aberta.
Tropical Mirror
No painel também foi apresentada a nova atração da Netflix Brasil, “Reality Z”, que é uma adaptação de Dead Set, programa britânico de zumbis criado por Charlie. Cláudio Torres será o diretor da atração, que será produzida pela Conspiração Filmes. Segundo Cláudio, atualmente vivemos em um apocalipse, então zumbis são o próximo passo. “Será um ‘Tropical Mirror’”, brincou o diretor, que teve a benção de Charlie e Annabel. Na trama, um grupo de participantes e produtores de um reality show chamado “Olimpo, a Casa dos Deuses”, se vê aprisionado no estúdio de gravação em meio a um apocalipse zumbi, bem na noite de eliminação do programa. Para divulgar o projeto foi exibido um vídeo em tom de comédia com Ted Sarandos – chefe executivo de conteúdo da Netflix, que teve um painel mais cedo na Rio 2C – com participação de Sabrina Sato.
Influências de Twilight Zone
Perguntado pela Ambrosia na coletiva de imprensa sobre quais filmes ou séries influenciaram a criação de “Black Mirror”, Charlie contou ter tido muita influência de Twilight Zone. “O mais interessante é que Rod Serlling criou o programa porque queria falar sobre assuntos que não eram permitidos na TV nos anos 50 e 60 como racismo, paranoia. E eu acho isso fascinante, já que hoje podemos falara sobre esses assuntos.”
Outra influência citada foi “Hammer House of Horror”, série de TV britânica dos anos 80 produzida pelo clássico estúdio de filmes de terror com cada episódio apresentando um estilo diferente dentro do gênero. “Irado, tratava de coisas inesperadas”, disse. “Em geral hoje você está mais exposto a mais e mais TV internacional, e você acaba tendo influência de todos os lugares, assim, em Black Mirror nós tentamos agrupar, às vezes tentamos enveredar diferentes gêneros. Então temos histórias de detetives, romances, filmes de terror” continuou.
“Quando começamos o show no Reino Unido parecia haver vários dramas históricos ou dramas policiais, programas de investigação. Parecia haver um programa ou dois sobre questões contemporâneas, sobre o mundo em que vivemos, isso foi um ponto chave”, disse Annabel.
“Na verdade quando rebotaram Dr Who pensei ‘ok, há chance de fazer uma fantasia’”, disse Charlie. “É, mas nós não fazemos fantasia”, retrucou Annabel. “É, mas eu digo algo um pouco pouco doido”, respondeu o bem humorado Charlie.
Àqueles que pretendem se aventurar pelo ramo da elaboração de roteiro, o criador aconselhou nunca comparar sua produção inicial ao produto acabado de outra pessoa. “Meus primeiros drafts são ruins”, afirmou, reforçando ser natural o primeiro tratamento do roteiro não ser satisfatório.
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