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Nomadland: sobre todas as coisas, o pertencimento

Diante da fotografia espetacular que circunda a vida dos indivíduos retratados em Nomadland, está sempre em perspectiva, uma paisagem crepuscular de fim de tarde. Por diversos momentos, numa quase obsessão estética, lá está o crepúsculo como testemunha, muitas vezes única, da história contada no filme, baseado no livro homônimo de Jessica Bruder.

Essa singeleza quase imperceptível diz muito sobre o olhar delicado e pungente da diretora Chloé Zhao sobre um microcosmo que no macro reflete a falência do sonho americano e no íntimo acompanha a vida de Fern (uma Frances McDormand absurda), uma viúva, 61 anos, que perde tudo quando sua cidade no Nevada, praticamente desaparece após o fechamento de uma grande fábrica de gesso. Assim, ela opta pelo nomadismo, comprando uma van e desbravando a Dakota do Sul, Nebraska e o noroeste do Pacífico, fazendo bicos, sobretudo em depósitos da Amazon, se juntando a uma comunidade de nômades e, diferente dos clichês dos road movies, não necessariamente numa viagem de auto descoberta, mas de desencanto com o que a vida dita normal lhe ofereceu até ali.

Há uma legitimidade no filme explicada na bela sacada da diretora de praticamente só trabalhar com não atores, ou seja, personagens reais que vivem aquilo que a história mostra. Frances e David Strathairn são quase os únicos atores interpretando personagens, e o que eles entregam, especialmente ela, é tão preciso, que se confundem com a proposta cênica do filme, quase como personagens documentais.

Zhao é uma diretora muito inteligente, e seu trabalho parece todo construído através da força do olhar sobre aqueles indivíduos. Nomadland não julga nem romantiza aquelas pessoas, e Chloé está interessada no prisma de Fern sob o mundo que ela embarca.

O filme é todo um extraordinário estudo de personagens. E por estar mais interessado nisso, prescinde de uma narrativa clássica em três atos. Não precisa. A Fern, a comunidade, o longo caminho, a precarização social. Todos se mimetizam no crepúsculo onipresente de Chloé, que entre o belo que é e o melancólico que representa, deixa escapar apenas a sensação de observação do pertencimento. Apenas isso.

Nota: Épico – 5 de 5 estrelas

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