Adaptar sucessos cinematográficos para o Teatro, ou mais precisamente, para um legítimo Musical, é um hábito constante na Broadway e até no West End londrino. O que faz com que essa migração não vire um mero exercício oportunista é a apropriação do Espetáculo sobre a matriz do Cinema. Billy Elliot, Matilda e Mudança de Hábito são exemplares bem-sucedidos disso. Se Eu Fosse Você, o musical surgiu desse raciocínio. Tremendo sucesso nos cinemas (com dois filmes), foi levado aos palcos aproveitando a cada vez maior aceitação do gênero nas plateias brasileiras. Entretanto, o paradigma ficou na intenção. O roteiro do experiente Flávio Marinho, segue à risca a linha narrativa do filme, mas não consegue enquadrar a pretensão de figurar a trama com clássicos do rico cancioneiro de Rita Lee. Aí já fica evidente um dos grandes problemas do musical: a banalização do repertório que destoa da história de forma inexplicável.
A direção é do coreografo Alonso Barros (com supervisão artística do diretor do filme Daniel Filho), e seu ofício principal fica bem claro nas marcações que imprime, o que, por outro lado, revela uma despreocupação incômoda com o conjunto. Uma certa falta de concisão também fica evidente, quando cenas musicais que nada acrescentam à trama principal, desgastam a narrativa, já tão esquizofrênica. A iluminação – condescendente – também não ajuda muito. Por outro lado, as soluções cenografias são eficazes e os figurinos reluzentes. E os atores fazem o ingresso valer a pena (a inversão sexual de Claudia Netto e Nelson Freitas é impagável). Aliás, os dois e a intimidade de seus papéis, são o melhor de tudo. Há ainda a hilária participação de Fafy Siqueira. Musicalmente, o elenco secundário é bem regular, com poucos destaques como as ótimas Kacau Gomes e Marya Bravo. E no fim, quando todos entoam um medley de sucessos da cantora, você fica se perguntando qual a relação dramatúrgica entre obra musical e história original. Acaba chegando à conclusão que Se Eu Fosse Você, o musical é o resultado de uma tendência, mas que se amortiza na própria incapacidade de ser um espetáculo, e não o filme (mal) encenado.
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