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Só falta dramaturgia em "Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos"

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Chico Buarque é um verdadeiro patrimônio cultural de nosso país. No teatro musical, pode se colocar como uma espécie de Gershwin ou Bacharach, principalmente na habilidade em agregar dramaticidade cênica à suas composições. A dupla Charles Möeller e Cláudio Botelho, já havia debruçado sobre a obra do compositor com direcionamentos diversos em espetáculos como “Ópera do Malandro” e Suburbano Coração”. Agora, têm a boa ideia de mimetizar a palavra de Chico num espetáculo só em “Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos”. Entretanto, ainda que a força da obra agregue um valor absoluto ao todo, o resulto é mediano – muito pela conceituação equivocada da própria pretensão.

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O musical se ancora numa história “mambembista” de uma companhia de atores, cujo líder (um saudosista vivido por Botelho) vai relembrando passagens de sua trupe através de um bloquinho de notas. Essas memórias são imprecisas e desconectas, um campo fértil para a utilização de mais de 50 composições de Chico. Os diretores já haviam trabalhado numa espécie de opereta/recital com bastante sucesso – e digo aqui artístico – em Beatles num Céu de Diamantes” e no espetacular Milton Nascimento – Nada Será Como Antes”.

Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos

Com a “epopeia” sobre Chico Buarque não obtiveram o mesmo êxito. A dramaturgia criada por Botelho é frágil e fragmentada demais para estabelecer um universo cênico sólido dentre as densidades musicais apresentadas. A desconexão das ideias do protagonista são literais na narrativa, ou seja, entre uma acepção ou outra da obra do artista, ficamos a mercê de cenas quase soltas com as quais não conseguimos criar qualquer ligação com a história. O figurino de Marcelo Pies é inspirado, o que não se pode dizer da cenografia, de Rogério Falcão, bem questionável. Cláudio Botelho não tem o carisma de um líder de trupe mambembe, mas o restante do elenco cativa eficientemente, com destaque para Soraya Ravenle, Lílian Valeska, Malu Rodrigues e Davi Guilherme. Esse não é nem de longe um dos notáveis espetáculos da grife Möeller/Botelho. Assim como “7, O Musical“, outro musical autoral da dupla, nota-se que se a expertise artística é (quase) uma constante, na dramaturgia ainda falta o preciosismo esbanjado nas adaptações. Um ideia boa, uma material excelente e uma tentativa aquém de suas próprias possibilidades.

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