Não importa a época; dramas desilusões, aventuras e aflições relacionadas com o amor são inerentes à condição humana, e quem sofre mais, claro, são as pobres das mulheres. Seja na idade média, seja na era digital, é sobre elas que recai a obrigação de casar com um bom homem, constituir uma bela família com lindos filhos, mesmo que isso não traga exatamente felicidade. E na busca por esse status o caminho é árduo e cheio de solavancos. É sobre esse caminho que trata a peça Sexo Champanhe e Tchau, em cartaz na Casa da Gávea de sexta a domingo.
Escrita por Monica Montone e dirigida por Juliana Betti, filha do ator Paulo Betti e da atriz Eliane Giardini, a peça mostra as desventuras de Jezebel, magistralmente interpretada por Ana Cecília Mamede, em sua para lá de mal resolvida relação com seu príncipe-sapo, e a expectativa do romance casual se transformar em uma linda história a leva a uma verdadeira paranóia ampliada pela gama de meios de comunicação dos dias de hoje, do celular (será que vai tocar?) às redes sociais (e se não veio nenhuma mensagem?). Na verdade esse é apenas um fio condutor para uma inteligente, leve e bem humorada divagação sobre as dificuldades de adaptação à vida adulta além do velho questionamento: o que é amor? Como separar amor de sexo? Como diferenciar paixão de obsessão? O que fazer depois que um romance acaba? Quem conduz a reflexão é a própria autora, que interpreta o papel de Ela, a consciência (pesada) da protagonista.
Quem já conhece Mônica Montone do blog Fina Flor (que chegou a ser um dos mais acessados da rede no fim da década passada), do livro Mulher de Minutos, além de sua carreira de cantora, vai identificar vários pontos abordados em textos ou em música. Também se faz notar o olhar cômico e cáustico sobre a pequena tragédia humana, seguindo a escola de Woody Allen e Domingos Oliveira, com quem Mônica já trabalhara na peça O Apocalipse Segundo Domingos Oliveira.
A direção de Juliana é precisa, o timing é perfeito, ela faz o texto crescer e colabora para que o drama de Jezebel gere empatia com o público. Ana Cecília, por sua vez, incorpora o alter ego da autora, outro ponto que os que já conhecem o trabalho de Monica Montone irão identificar: do vestido branco de bailarina ao gestual. É como ver Larry David em Tudo Pode Dar Certo interpretando Woody Allen.
A peça participou do ciclo de leituras dramatizadas nas unidades do SESC-RJ e do Festival Satyrianas de São Paulo. O entusiasmo das plateias, em geral formadas por jovens, atraiu a atenção da editora Oito e Meio, que decidiu publicar Sexo Champanhe e Tchau como livro (64 pp., R$ 20).
É interessante observar ao longo do espetáculo, o jogo das duas cadeiras usadas pelas atrizes em cena, recurso tão bem executado que dá vida ao palco, nos faz vislumbrar situações. Claro, há também todo um trabalho de efeitos sonoros (e de uma bela trilha sonora). No palco, além de duas cadeiras, há uma máquina de escrever no chão, livros espalhados e várias bolinhas de papel, como se fossem rascunhos inutilizados.
Sexo Champanhe e Tchau é entretenimento de qualidade, uma grata surpresa na badalada temporada de estreias teatrais de inicio de ano no Rio de Janeiro. Quem for conferir, além de dar boas risadas, vai se identificar e até mesmo achar algumas respostas que estava procurando. E não digo isso apenas ao público feminino. O público masculino também irá tirar um ótimo proveito. Quem disse que a gente também não sofre?
SEXO, CHAMPANHE E TCHAU
- Local: SESC Casa da Gávea
- Data: 11 de janeiro a 24 de fevereiro
- Horário: Sextas e sábados, às 21 h. Domingos, às 20 h.
- Endereço: Praça Santos Dummont, 116, Gávea
- Telefone: (21) 2239-3511
- Ingresso: R$ 30 (estudantes e associados pagam meia)
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