Com “Macho Man” Fernanda Young e Alexandre Machado comprovam o êxito do humor inteligente na TV aberta

O mercado nacional de séries é trepidante, mas vem crescendo muito ao longo dos últimos anos, subsidiadas em sua totalidade por praticamente duas emissoras: a TV Globo e vertente latina da HBO.

O braço da principal emissora paga dos EUA é a que, seguindo o DNA de sua matriz, mais tem ousado na conjuntura de seus produtos. Séries como Filhos do Carnaval e Alice primaram pela notável produção (geralmente com direção de nomes tarimbados do nosso cinema como Karin Aïnouz e Cao Hamburger) e o capricho na implementação de seus roteiros.

Já a maior TV aberta do país tem o domínio da indústria e por isso esses gabaritos se diluem. A Globo vem, nos últimos dez anos, investindo pesado no formato em sua tradicional linha de shows (após a novela das nove). Geralmente são produções pautadas no humor e com pouco espaço para ousadia. Nisso, temos exemplos como A Grande Família, que já passa da décima temporada, tem grande apelo com a audiência, mas pouco se difere – em linhas gerais – das novelas da casa. O policial Força Tarefa (que volta no segundo semestre) tem em sua forma uma pretensão além do que vem sendo produzido ali, mas, apesar de contar com um roteiro escrito por roteiristas consagrados do cinema (como o ótimo escritor Marçal Aquino), a estrutura narrativa é engessada e nada acrescenta ao gênero, de uma maneira geral (corroborado pela cumplicidade da direção de Zé Alvarenga)

Um dos poucos nomes na TV que consegue ir além dos estigmas preocupados com audiência, em sua linguagem nonsense e inteligência textual é a excêntrica roteirista, apresentadora, escritora e afins Fernanda Young, que junto com seu marido, o publicitário Alexandre Machado, foi responsável por obras como o já clássico (e verdadeiramente ótimo) Os Normais, além de Os Aspones, Separação!? e o originalíssimo O Sistema.

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Macho Man é o seu projeto atual e não poderia ser mais inusitado, ainda que a idéia não seja necessariamente nova. A história de um homossexual afetado que após um acidente numa boate acorda hétero é até bem batida. O tempero está na abordagem sempre bizarra e engraçada de Young e Machado (foto abaixo, com a dupla principal da atração). Eles reúnem o melhor da influência de formatos de sitcom americanos (principalmente os do período entre o fim da década de 80 e início de 90), com certa inconseqüência podendo encontrar reflexos na chanchada nacional. O humor da série se estabelece por gags, mas os autores não banalizam a estrutura por isso. Até quando se vale de piadas e situações surradas, há um contexto embasado a serviço disso. Algo muito comum nas (cada vez mais constantes) boas comédias americanas, mas raro por aqui.

Jorge Fernando, mais conhecida como diretor de novelas (e alguns filmes) tem uma atuação apenas correta, mas conta com a companhia da maravilhosa Marisa Orth e um elenco de coadjuvantes muito bons – como a atriz Rita Elmor, hilária como a cliente do salão que vive embriagada. Até a abertura, divertida ao som da música homônima, demonstra que Hans Donner também saiu um pouco de sua zona de conforto, no design da emissora.

Diante de um cenário promissor, pelo menos no tocante à produção de séries em série no Brasil, nos resta torcer para que isso acompanhe a ambição por conteúdos que realmente instiguem e de dignidade como aconteceu (e acontece) com a TV americana hoje, suplantando o cinema em cifras e cacife. Fernanda Young já atentou para isso…

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