Em “Tabu” o cinema encontra sua expressão de provocar e refletir…

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Independente do que se faz dele, o cinema é, em sua essência, a forma mais amplificada de arte. Quando sua realização se estabelece com a proposta de estimulação e experimentação estética, isso ganha uma propriedade ainda mais latente. Tabu é um filme de propostas. Propostas afetivas, propostas críticas e propostas do próprio jogo cênico que estimula. O roteiro é um reimaginação do filme homônimo de 1931, assinado por F.W. Murnau e Robert Flaherty, no entanto existe uma inversão clara de valores. Ambos se dividem em dois capítulos: Paraíso e Paraíso Perdido, o original segue esta ordem, enquanto aqui caminha na direção contrária.

aurora ventura moto-blog

As histórias de PilarSantaAurora Gianluca Ventura tudo contado de forma singular. Pilar vive os seus primeiros anos de reforma a tentar endireitar o mundo e a lidar com as culpas dos outros. Os seus dias dividem-se entre vigílias pela paz e grupos católicos de intervenção social, mas inquieta-se, sobretudo, com a solidão da sua vizinha Aurora, uma octogenária temperamental e excêntrica, que foge para o casino se tiver dinheiro, fala da filha que pouco se importa com ela, ressaca antidepressivos e desconfia que Santa, a sua  empregada cabo-verdiana, dirige contra ela práticas de voodoo. De Santa pouco se sabe, é de poucas palavras, executa ordens e acha que cada um deve meter-se na sua própria vida. É a partir de um misterioso pedido de Aurora, que as outras duas se unem para o tentar cumprir. Quer encontrar-se com um homem, Gianluca Ventura, que até então ninguém sabia que existia. Pilar Santa descobrem o seu paradeiro, mas informam-nas de que já não está bom da cabeça. Ventura tem um pacto secreto com Aurora e uma história por contar. Uma história passada há cinquenta anos, pouco antes do início da Guerra Colonial portuguesa. Daí, dá-se a complementação das duas tramas, do passado justificando o presente.

Em Tabu o cinema encontra sua expressao de provocar e refletir

Ser em preto e branco e, principalmente na segunda metade, praticamente todo narrado em off, sem diálogos, pode assustar o espectador mais fissurado na sedução barulhenta dos blockbusters, mas o diretor português Miguel Gomes constrói um drama até bem mais simples que a própria “crítica especializada” está ventilando. O que se destaca é o implícito da proposta. É perceber que o filme vai se valendo de um enquadramento aqui, um uso da trilha ali, para explicitar como as questões do foro íntimo de seus personagens são concomitantes às questões sociais de um país que se legitimou por suas relações imperialistas. Isso está presente até na sofisticação dos diálogos, que presumem uma constante reflexão espacial de um modo e um meio. Dá até para encontrar ecos no ótimo O Som ao Redor. Nessa habilidade, o filme é de uma efetividade (com muita delicadeza) impressionante. Se precisa ser estimulado pela sétima arte, veja Tabu que cumpre a badalação de ser o melhor filme de 2013 até o momento. IMPERDÍVEL!!!

[xrr rating=5/5]

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