De Hare Krishnas que recusam qualquer leitura não védica a pequenos autores e editores. Na noite da FLIP 2009 só não se encontram os que mais se quer ver. Enquanto as estrelas palestrantes e seu seleto grupo de seguidores habitam um mundo paralelo, uma Torre de Babel toma conta das ruas de Paraty.
Aqui não há apenas diferença de língua, mas de interesses e motivações. Autores já publicados, mas ainda desconhecidos, buscam seu lugar ao sol, panfletando, trajando vestidos com exemplares de seu livro dele escorrendo como penduricalhos. Há, também, quem lance livros na noite de Paraty. Lance? Bem, talvez essa não seja a palavra mais adequada. Bichos grilos anunciam lançamentos caminhando com zines dentro de mochilas, que vendem pelas moedas que você tiver no bolso. Não procuram editoras. Não, não se venderiam ao sistema incapaz de compreender seus poemas que transcendem a interesseira lógica de mercado. Colocam, então, seus chapéus, cultivam suas barbas, grampeiam meia dúzia de folhas, tomam Gabriela e seguem ao vento. Assim como suas vendas.
Gabriela, aliás, é o catalisador do encontro dos vários personagens que circulam pelo Centro Histórico da cidade. Bebida feita de cachaça com cravo e canela e paratiense da gema, digo, da cana. Graças a ela incontáveis debates acontecem. E não tente imaginar, posto que impossível, o que ocorre quando um devoto de Krishna depara-se com um falante fã de Richard Dawkins.
Em meio às diferenças, um evento parece ser unanimidade. Em horas o Dinho’s Bar é tomado por transeuntes, alguns editores e escritores, imprensa… Mas o que ocorre, afinal? Lançamento da antologia “Clube da Leitura: Modo de Usar”. Resumidamente, um grupo de leitores que aos poucos se tornaram escritores reuniram-se por dois anos no sebo Baratos da Ribeiro, em Copacabana. Produziram bem mais de cem contos e decidiram publicar vinte e quatro deles com a mesma energia que toma seus encontros, ou seja, festivamente. Para isso, muita animação, DJ Ácaro (Maurício Gouveia, o dono do sebo) e cerveja. Entrada franca. Leitores ansiosos por novidade e pessoas querendo simplesmente curtir a noite passavam lado a lado nesse espaço. Horas mais tarde, terminado o evento, podia-se ouvir o mesmo bar entoando os mais populares funks. Sim, temos poposudas e purpurinadas para dar e vender. A FLIP atrai fanáticos, simpatizantes e nadas-a-ver-com-literatura. Muita gente reunida significa festa e não precisa ser um amante das letras para curtir uma farra. Ao contrário, tem quem reclame que o evento conta com gente cult demais.
Há, ainda, quem confesse ser mais uma adoradora de Chico Buarque. Carolina Oliveira, uma das incontáveis estudantes de jornalismo presentes, confessa que saiu de sua cidade, Macaé, até Paraty, para assistir a palestra do músico-autor, o que não conseguiu. Paciência, Gabriela afoga as mágoas.
Já André Gremisia veio do Rio Grande do Sul para fazer seu trabalho de conclusão de curso da faculdade de jornalismo e, em meio à entrevista, passou a sabatinar o entrevistador.
Falando-se na Terra dos Pampas, encontra-se até quem tenha se deslocado desde lá para divulgar uma antologia, mas que se rendeu ao poder de Gabriela, o que não a impedia de estender sua mão e entregar, displicentemente, alguns panfletos.
Na noite de sexta-feira não houve palestras, mas as ruas de Paraty ofertaram material para farta produção literária.
Por Renato Amado, participando do lançamento do livro Clube da Leitura: Modo de Usar, Vol. 1, direto da FLIP 2009.
Podiam colocar algumas fotos do evento não?
ótimo txt renato, o melhor entre os modos. parabéns!
A moça da antologia, seduzida pela Gabriela, mas ainda resistente na função de divulgar literatura na farra! Bem lembrado! Ótimo texto!
Comprei o livro do clube da leitura e achei o máximo. Não sei como autores tão bons estejam fora do mercado, o que mostra o quanto as editoras estão incapacitadas. Aliás, achei muito inteligente a tática do monstro que li no ancelmo gois. Moro em brasília e quero muito que vcs lancem o livro aqui
Sensacionais impressões da festiva Paraty! Mesmo com a tentação de tantas Gabrielas o escritor foi fiel ao descrever o clima da babel literária. Parabéns!
Quero ir!!!