Sentinela, Illuminati, Shield e os Retcons da Marvel

[Este artigo fala sobre diversos eventos do Universo Marvel que ainda não ocorreram aqui no Brasil e está portanto cheio de Spoilers.]

Estamos todos aguardando a nova fase da Marvel denominada The Heroic Age que tem como principal destaque a reunião dos três grandes heróis dos Vingadores depois do Reinado Sombrio de Norman Osborn (aguardem um artigo sobre esta saga da mesma forma em que realizamos nossa avaliação da Invasão Secreta).

O objetivo deste artigo na verdade é falar um pouco sobre a nova série, denominada Shield. Primeiramente é importante dizer que ela não trata da força-tarefa mundial que foi controlada por Nick Fury, Maria Hill e Tony Stark. Esta Shield provavelmente irá retornar com a morte da Hammer (a agência que a substituiu), mas não nesta revista (pelo menos por enquanto).

O que temos com esta série é mais um dos sempre debatidos (a altas vozes) retcon. O que aconteceria se a Shield fosse na verdade uma organização que tivesse sempre existido?

A revista em si é excelente, tanto em termos de desenho (Dustin Weaver) quanto em seu roteiro (Jonathan Hickman), quer dizer, o roteiro em si tem um bom ritmo e uma boa estrutura narrativa, a história ainda está muito no início para saber se ela realmente é boa.

O que realmente eu gostaria de discutir era esta nova onde de retcons da Marvel, iniciada por Bendis desde seu primeiro número de Novos Vingadores onde ele trouxe de volta o Sentinela para o universo 616, que vale lembrar foi originalmente concebido por Paul Jenkins na minisérie homônima lançada pela linha Marvel Knights.

Naquela edição (ou talvez em sua predecessora Avengers – Disassemble ou Vingadores a queda) Bendis inauguraria a Marvel contemporânea, que teve seu auge durante a Guerra Civil de Mark Millar. Confesso que na época, não só gostei muito da série, mas também da própria figura do Sentinela, que já havia se mostrado um personagem interessante sob os argumentos de Jenkins. A Marvel ganhava seu Super-Homem na figura de um agorafóbico esquizofrênico que se transformava no maior vilão da Terra como reflexo da psicopatia.

E ainda que tenha sido fruto de uma idéia brilhante o personagem do Sentinela (The Golden Guardian of Good) amargou uma série de momentos fracos, sub-aproveitados (como sua atuação durante a Guerra Civil e a Invasão Secreta) e uma fraca segunda mini-série (nas mão de seu criador Jenkins e do sempre competente John Romita Jr.). Na verdade chegou um momento que eu, e acredito que muitos leitores, tenham começado a questionar a validade da presença do personagem nas principais revistas da Marvel…. Ele era interessante, tinha seus momentos, mas era tão absurdamente poderoso que os escritores sempre inventavam uma desculpa fraca para ele não resolver tudo em segundos.

Felizmente a fase do Reino Sombrio chegou e transformou a vida de nosso Bob Reynolds, agora como o mais poderoso dos Vingadores Sombrios sob a coleira de Osborn. E no fim das contas ele até se tornou um dos grandes protagonistas, rendendo momentos fantásticos, o que na minha opinião justifica completamente o uso do retcon.

O segundo grande retcon são os Illuminatis, o grupo composto pelos “mais influentes” heróis da terra, reunidos por Tony Stark após a guerra Kree-Skrull. O grupo é composto pelo próprio Tony, Reed Richards, Namor, Xavier e Stephen Strange (T’challa foi o único dos convidados que recusou uma posição). O mais interessante deste grupo é que a mini-série e o especial onde tomamos conhecimento dos mesmos, é composto por dezenas de retcons, explicando algumas coisas no universo Marvel, desde o destino das Jóias do Infinito até a verdadeira identidade do Beyonder.

Devo dizer que tirando a edição que envolve o Beyonder (como um mutante inumano), toda a existência e participação dos Illuminati me pareceu excelente e extremamente coerente com a personalidade dos personagens envolvidos. Na verdade eu acho que foi o melhor exemplo de retcon que eu já vi em uma linha regular de quadrinhos e me divertiu muita na época reler algumas velhas edições enxergando a mão invisível dos Illuminati por trás de certos eventos.

E claro que temos retcons forçados e esquisitos como o recente arco do Homem-Aranha (Brand New Day), mas eu sou da opinião que estas reformulações mágicas e propositais da história do mundo (vide Crise nas Infinitas Terras) não pode/deve ser considerado um retcon.

Por fim temos o mais recente deles: Shield. Algo bem inesperado (se bem que todos os retcons foram bastante inesperados para mim como leitor) lançado em pleno grande evento da Marvel (Siege) e que a priori não tem nenhuma relação com ele.

Shield mostra algumas coisas legais que fazem com que o passado do Universo Marvel seja mais distinto do nosso. Coisas como invasões da Ninhada no Egito Antigo, celestiais na dinastia Han, Galileu salvando o mundo de Galactus, o pai de Reed e do Stark trabalhando juntos nos anos 50 e aí por diante…

A série pode ser muito legal, teve um bom inicio, mesmo com uma premissa ainda um tanto confusa, e só o tempo irá nos dizer se ela será mais um excelente retcon, ou uma cagada completa da Marvel.

Esperamos ansiosos.