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“Até o Último Homem” e seu olhar sobre convicção e redenção

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A convicção é quando a fé mais se aproxima da razão. Diria até que uma ajuda a outra a fazer sentido. “Até o Último Homem” deve ser visto como uma parábola sobre como essa relação dimensiona um indivíduo. Ainda mais sendo uma história real. Real também é o fato desse filme ressignificar o papel do diretor Mel Gibson numa Hollywood que o virou as costas. Por culpa dele mesmo.

A história acontece durante a Segunda Guerra Mundial e tem como protagonista o médico do exército Desmond T. Doss (Andrew Garfield, excelente), que se recusa a pegar em uma arma e matar pessoas, o que gera muita celeuma no meio militar. Ele resiste no propósito e durante a Batalha de Okinawa trabalha na ala médica, salvando mais de 70 homens no front.

A convicção aqui começa na direção certeira de Gibson que primeiro romantiza (de forma bem clássica) a infância e a descoberta do amor de seu protagonista, para depois imergir seu universo na urgência gráfica e espantosamente realista do epicentro nervoso da guerra. Esse contraste é importante para compreendermos a importância que esse homem ganha perante seus atos.

A narrativa é permeada pelas convicções religiosas de seu herói, endossada pelo diretor, em planos sentimentalistas e solenes, que quase desandam o andamento que propõe nessa radiografia. Mas Gibson é bem mais habilidoso que evangelista, e o roteiro procura apenas estruturar uma historia já tão impressionante. O discurso vai impulsionando a dramaturgia, e tem muita facilidade para nos envolver dentro de seus clichês. Tanto que no fim, o Desmond real é apresentado de uma maneira com que suas falas o representem mais que qualquer tentativa de mitifica-lo (mesmo o filme fazendo isso, querendo ou não).

Desmond é convicção pura, e o filme só é grande pois o diretor soube tornar essa faceta o seu grande esteio dramático. “Até o Último Homem” é mais um grande filme de Mel Gibson, muito mais talentoso na arte que íntegro na vida. Essa contradição faz bem ao longa. É o toque de controvérsia que faltava na fábula que apresenta. As intensas imagens da guerra grudam na nossa memória. A atitude de Desmond perante ela, também. Sua razão era sua convicção.

Agora, pensa comigo: um filme de guerra em que os EUA promovem uma retaliação nos japoneses (por Pearl Harbor), dirigida por um diretor que já proferiu grosserias anti-semitas e homofóbicas, com um herói que se agarra na bíblia para viver e conviver, e após isso tudo, ainda servir como uma espécie de parábola pessoal é muita complexidade para uma história só. Por isso, é um filme tão interessante em seus (tímidos) defeitos e (grandes) qualidades.

Filme: “Até o Último Homem” (Hacksaw Ridge)
Direção: Mel Gibson
Elenco: Andrew Garfield, Vince Vaughn, Teresa Palmer
Gênero: Drama biográfico
País: EUA/Austrália
Ano de produção: 2016
Distribuidora: Diamond Filmes
Duração: 2h 20min
Classificação: 16 anos

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Cadorno Teles -

Cearense de Amontada, um apaixonado pelo conhecimento, licenciado em Ciências Biológicas e em Física, Historiador de formação, idealizador da Biblioteca Canto do Piririguá. Membro do NALAP e do Conselho Editorial da Kawo Kabiyesile, mestre de RPG em vários sistemas, ler e assiste de tudo.

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