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Cinema em Casa: Pink Floyd The Wall

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Pink_floyd_the_wallCom nossa comemoração de 30 anos do álbum The Wall, do Pink Floyd, a coluna Cinema em Casa desta semana não poderia falar de outra coisa senão da adaptação cinematográfica de toda a história que envolve esta grande obra do rock progressivo/psicodélico. Pink Floyd: The Wall, ou The Wall – O Filme, foi lançado três anos depois do lançamento do álbum, e teve uma produção tão grande quanto o próprio disco duplo. Vamos conhecer um pouco mais sobre esta filme cult a partir de agora, aqui no Ambrosia.

 

Concepção e Produção

Desde que começou a ser bolado, The Wall seria um filme, mas de início ele seria um grande recorte de imagens ao vivo dos shows da vindoura turnê entrelaçadas com animações políticas envolvendo o conceito lírico da história. As mudanças desta ideia inicial começaram quando um produto fã da banda, Alan Parker, foi até à EMI pedir que pudesse adaptar a história, fazendo com que a gravadora lhe pedisse que procurasse Roger Waters em pessoa, já que eles simplesmente não entendiam o conceito de tudo aquilo. E Parker o fez, e conseguiu – não apenas a liberdade de adaptar, mas fazer isso ao lado do ídolo Waters e ainda colocar dois amigos cineastas na jogada, fazendo com que o baixista e então líder da banda compreendesse que não poderia ser o diretor do filme.

Quando se chegou ao primeiro roteiro definido, foi decidido que Waters também não interpretaria o protagonista Pink, o que tirou de vez a possibilidade de imagens ao vivo da banda no filme. Com isso, o músico punk e revolucionário da Inglaterra, Bob Geldof, foi escolhido para o papel, mudando toda a ótica da produção de um apanhado de imagens contando uma história para algo mais complexo e primoroso. Curiosamente, após estas reviravoltas, os amigos de Parker foram tirados do projeto, e ele se tornou o único responsável e diretor do filme.

Muitas cenas da obra mostram a naturalidade de Geldof durante as filmagens, pelas quais passou por momentos de reais apuros, como em cenas na piscina não sabendo nadar ou quando tem que destruir o hotel, o que o deixou totalmente machucado.

 

A História do Filme

the-wall-geldof-inicioO filme não muda tanto da obra lírica para seu novo formato, aliás, adapta a história com grande fidelidade, sempre com músicas álbum intercaladas algumas poucas vezes por linhas de diálogos dos personagens. Tudo começa com um Pink destruído no quarto de hotel e se lembrando de tempos passados, quando seu pai morre na Segunda Guerra Mundial e de como foi sua infância nos anos 1950 em uma Inglaterra fruto das Revoluções Industriais com uma mãe super protetora.

A partir daí o que se tem é um grande desfile de imagens e sons, formulando uma história contada de forma totalmente não convencional, artística e, às vezes, difícil de ser digerida, mas mesmo assim bem completa. A ordem das músicas não mudou tanto do álbum para o filme, mas algumas sofreram modificações para serem mais funcionais à necessidade do formato. Temos momentos de total lucidez e total psicodelia, como quando Pink (Geldof) despila todos os pelos do corpo e sua sobrancelhas tentando, ao menos, conseguir sentir algo após ter se alienado por trás de seu muro psicológico – o que também é uma analogia ao próprio Syd Barrett, lendário ex-membro da banda, que apareceu repentinamente nos estúdios do Floyd anos antes, durante a gravação de Wish you Were Here, neste estado e querendo voltar a fazer parte de tudo aquilo.

Geldof_wall.0.0.0x0.660x282Há outros momentos memoráveis também, como quando Pink é reprimido na escola pelo professor por estar escrevendo poemas (que, por sinal, são letras da música “Money”) ou quando é traído pela esposa e coloca o último tijolo em seu muro que o coloca fora da sociedade normal. Isso sem falar, é claro, dos fantásticos momentos animados mostrando pesadelos e ilusões feitos pelo artista político Gerald Scarfe. De forma geral, o filme é extremamente artístico e permite que cada pessoa torne aquilo uma experiência pessoal, podendo ter a liberdade de tirar suas próprias conclusões, mas se lembrando de que os conceitos de alienação e isolamento da sociedade estão presentes o tempo todo e são unânimes.

Assim como no álbum tudo se fecha de forma cíclica, dando ainda mais maestria para o filme e sua história, bem como aumenta a própria identificação do telespectador com o protagonista e seu sofrimento interno.

 

Lançamento e Recepção

A estreia da película aconteceu em Londres, com a presença de todos os membros do Pink Floyd (menos Rick Wright que havia sido demitido por Waters anos antes), além de contar com músicas de muito renome como Sting, Roger Taylor (Queen) e Pete Townshend (The Who). Muitos críticos receberam a obra extremamente bem, com comentários como “uma verdadeira obra prima dos musicais”, mas também houve os que reagiram com total indiferença – o próprio diretor Steve Spielberg declarou publicamente não ter achado o musical à altura de um lançamento em cinema.

Na banda, Waters ainda hoje não expressa muita simpatia pelo resultado final, mas mesmo assim elogia, e muito, a interpretação de Bob Geldof como Pink, uma de suas favoritas no cinema até hoje. De qualquer forma, ainda hoje, o filme é bem visto em vários meios cinematográficos, além de ter se tornado um cult entre fãs de cinema e da banda também.

O filme adquiriu, nos cinema, por volta de 22 milhões de dólares, um valor considerado muito bom pela sua produção, que não foi tão alta, e também por ser um musical considerado, por muitos, underground na época, mesmo com toda a fama da banda.

 

Legado

O que podemos dizer de The Wall – O Filme é, a princípio, que pouquíssimas bandas tiveram a capacidade de produzir tamanho espetáculo em todos os meios. Tudo começa com o princípio básico da arte, envolvendo a escrita (as letras das músicas formando um conceito fechado) e os sons (as músicas em si), passando pela arte visual com os conceitos desenvolvidos para os encartes do lançamento até passarem pelo próprio show ao vivo, que é um espetáculo à parte, e fechando no cinema, onde tudo se une a favor de passar uma experiência única ao telespectador.

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The Wall é uma obra difícil, e por isso precisa ser digerida aos poucos, conforme seu próprio desenvolvimento cronológico, e se transformar numa das coisas favoritas de nossas vidas em todos os âmbitos artísticos possíveis. É triste, emocionante, revigorante e memorável.

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