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Crítica: “A Série Divergente: Insurgente” tem bons momentos, mas não supera o original

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Grande sucesso de vendas nas livrarias de todo o mundo, “Divergente”, escrito por Veronica Roth, assim como as suas sequências (“Insurgente”, “Convergente” e “Quatro”, respectivamente), faz parte de um nicho que não para de crescer, assim como os romances “apimentados” no estilo de “Cinquenta Tons de Cinza”: os futuros distópicos, onde a sociedade (geralmente a americana) vive num ambiente não muito feliz e próspero, onde os governos são totalitários e opressores e ter emoções “fora dos padrões”, como o amor, é visto como algo nocivo e perigoso. Embora George Orwell já tenha feito isso antes (e melhor) há dezenas de anos atrás com “1984”, é curioso ver o interesse de jovens por obras com esta temática, que acabou consagrando, especialmente, a franquia de livros de filmes “Jogos Vorazes”. Logo abaixo, está a série criada por Roth, cuja primeira parte de sua saga foi a que melhor se saiu comercialmente nos cinemas. Um ano depois, foi lançada a sua continuação, “A Série Divergente: Insurgente” (“The Divergent Series: Insurgent”, título que é uma cópia descarada, e lamentável, dos capítulos cinematográficos de “A Saga Crepúsculo”), cujo resultado final não compromete, mas também não mostra nenhuma inovação ao que está sendo mostrado até agora, o que pode causar uma certa indiferença para os não-iniciados.

O filme começa exatamente onde parou “Divergente”, com Tris (Shailene Woodley), seu irmão Caleb (Ansel Elgort), Quatro (Theo James) e seu pai Marcus (Ray Stevenson), além de Peter (Miles Teller) fugindo dos soldados comandados por Janine Matthews (Kate Winslet), a líder da Erudição, uma das facções que divide a população de uma Chicago futurista e devastada. O grupo consegue chegar à comunidade onde vive os integrantes da Amizade, que é comandada por Johanna (Octavia Spencer), e são bastante pacifistas. Não demora muito e os fugitivos são descobertos por seus perseguidores, o que leva Tris, Caleb e Quatro a uma complicada fuga de trem. Mas o que eles não contavam é que acabariam entrando em contato com um exército de Sem Facção, que vive numa área afastada e é liderada por Evelyn (Naomi Watts), mãe de Quatro, que era considerada morta pelo filho. Sentindo a pressão pelos trágicos eventos acontecidos no primeiro filme, além de novos problemas causados por Janine, Tris acaba se vendo obrigada a lidar novamente com sua arqui-inimiga, que tem interesse na garota porque ela pode desvendar os segredos de um estranho artefato que pode ser útil em seu plano para acabar com todos os divergentes.

Com um ritmo mais intenso do que aquele visto em “Divergente”, “Insurgente” privilegia mais a ação com cenas com muitos tiros, saltos e lutas, onde é visível que os atores (e seus dublês, claro) tiveram que suar a camisa, para a alegria do público jovem, o principal alvo de franquias como esta. Por isso, a direção de Robert Schwenkte, dos bons “Plano de Voo” e “RED – Aposentados e Perigosos”, é mais do que apropriada, embora não seja capaz de criar momentos mais inovadores ou até mesmo memoráveis. Ele joga para a galera, sem se importar em realizar algo mais fora dos padrões já preestabelecidos. Um dos pontos mais polêmicos é o roteiro de Brian Duffeld, Akiva Goldsman (de “Uma Mente Brilhante” e “Batman & Robin”) e Mark Bomback (“Planeta dos Macacos: O Confronto” e “Wolverine: Imortal”), que toma diversas liberdades em relação ao livro, e cria situações inexistentes na trama criada por Roth, em particular as questões que envolvem o artefato que precisa ser desvendado, e muda drasticamente o destino de personagens, como Marcus, bem menos importante na aventura do que deveria. Algo que, certamente, vai desagradar os fãs da história original e que não torna o filme nem melhor nem pior e causa apenas indiferença para quem nunca pôs os olhos na obra.

No elenco, Shailene Woodley volta a se destacar como a protagonista que luta para ser forte contra seus inimigos e suas próprias inseguranças. Uma de suas cenas mais impressionantes é quando Tris é obrigada a revelar segredos para integrantes da facção Franqueza, embora resista aos efeitos do soro da verdade que foi injetado em seu corpo. Graças a seu carisma, não fica difícil torcer por sua personagem, assim como Jennifer Lawrence fez com a sua Katniss Everdeen na franquia “Jogos Vorazes”. A atriz também mostra uma boa química com Theo James, que está adequado como Quatro, embora precise de mais tempo para ser um ator mais intenso, o que é especialmente notado nas cenas em que precisa mostrar mais rancor com seus pais. Ansel Elgort até que não se sai mal ao demonstrar as fraquezas de Caleb e um bom exemplo disso é quando ele percebe que não é tão corajoso quanto gostaria durante um confronto. Já Miles Teller rouba a maioria das cenas que aparece como o irônico e irritante Peter, que usa provocações para tirar todos do sério, além de ter um comportamento bastante ambíguo, que o torna fascinante. Kate Winslet também está mais do que confortável como a vilanesca Janine, que gera ódio no espectador, assim como no primeiro filme, e consegue mais uma ótima atuação em sua carreira. A principal novidade no elenco, Naomi Watts, dá o tom certo para a misteriosa Evelyn, que deve ser melhor explorada em “A Série Divergente: Convergente” que, como já está virando tradição, será dividida em duas partes. Infelizmente, Octavia Spencer, Jai Courtney e Mekhi Phifer foram mal aproveitados na trama.

Utilizando um 3-D que só é mesmo notado na parte final da história, “A Série Divergente: Insurgente” serve apenas para saciar a fome dos aficionados do gênero, mesmo com tantas mudanças em relação ao livro em que se inspirou. Mesmo assim, possui qualidades como o design de produção, que mostra o mundo devastado de forma convincente, e um desfecho que até dá vontade de ver o próximo filme, previsto para estrear em 2016, e que também será dirigido por Schwentke. Vale como simples diversão e nada mais.

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