No início dos anos 90, Kevin Costner estava no auge em Hollywood. Os filmes estrelados por ele eram sucesso de bilheteria (e, às vezes, de crítica) e seu poder de fogo aumentava cada vez mais. O que culminou com a grande expectativa gerada pelo seu projeto mais ambicioso: fazer um western, como ator, produtor e diretor, sobre a transformação de um homem desiludido com a vida ao entrar em contato com os índios, que deveriam ser seus inimigos. O tal filme, chamado “Dança com Lobos“, acabou sendo consagrado em várias premiações e deu a Costner os Oscars de Melhor Filme e Diretor, entre outros. O problema é que, depois disso, a carreira do astro desceu ladeira abaixo, com escolhas erradas de novos projetos, principalmente “O Mensageiro“, de 1997, um mega fracasso, que fez com que ele fosse “posto de castigo” por um tempo e, só recentemente, fosse aceito de volta, embora com menos poder do que antes.
A ascensão e queda de Costner pode servir de referência com o que aconteceu com Ben Affleck. Revelado pelo cineasta Kevin Smith no fim dos anos 90, Affleck se tornou bastante popular ao estrelar filmes como “Procura-se Amy“, “Armageddon” e até mesmo “Pearl Harbor“. Ele acabou ganhando, em 1998, um Oscar de Melhor Roteiro por “Gênio Indomável“, que escreveu junto com o amigo (e protagonista) Matt Damon e continuou a estrelar várias produções. Até cair do cavalo ao participar, junto com sua ex-namorada, Jennifer Lopez, de “Contato de Risco“, uma comédia policial sem graça que arrasou com a carreira de seus astros e do diretor Martin Brest, que não faz mais nada no cinema desde 2003.
Alguns anos depois, Ben Affleck resolveu se reinventar. Para a surpresa de todos, ele se revelou um diretor promissor após lançar, em 2007, seu primeiro filme atrás das câmeras: “Medo da Verdade“, protagonizado pelo seu irmão Casey Affleck, Morgan Freeman e Ed Harris. Logo depois, em 2010, veio o thriller de assalto “Atração Explosiva“, que Affleck dirigiu e atuou, ganhou vários elogios da crítica e conseguiu uma indicação para Melhor Ator Coadjuvante para Jeremy Renner em 2011. Mas nenhum dos dois filmes se compara à excelência mostrada por Affleck em seu novo projeto, “Argo“.
A trama, ambientada em 1979 e baseada em fatos reais, mostra uma revolução que aconteceu após a invasão de iranianos à embaixada americana em Teerã. Durante o ataque, seis funcionários conseguiram escapar e se esconderam na embaixada do Canadá. Mas a CIA, temendo por suas vidas, começa a elaborar planos para resgatá-los. É nesse momento que surge o agente Tony Mendez (Affleck), que tem uma ideia a princípio absurda: criar um falso filme, para que ele possa entrar no Irã, e tirá-los do país como se fossem membros da produção, que estariam atrás de locações para rodá-lo. Ele vai até Hollywood e pede a ajuda de John Chambers (John Goodman), maquiador vencedor do Oscar por “O Planeta dos Macacos”, e do produtor Lester Siegel (Alan Arkin) para executar a farsa.
O filme, produzido por Affleck, George Clooney e Grant Heslov, aliás, ganha muitos pontos ao mostrar os mecanismos usados por Mendez e seus companheiros para enganar a todos em Hollywood, criando até cartazes e figurinos para um pastiche de Star Wars e, assim, tornar o plano verossímil. Em seguida, o agente vai até ao Irã, para resgatar os americanos e tenta, sem praticamente nenhum apoio oficial, cumprir a sua missão e escapar da ira dos militares iranianos. São bem conduzidas e tensas as cenas em que Mendez e os funcionários da embaixada tentam passar por uma praça em Teerã e são reeprendidos pelos comerciantes locais.
Outro ponto positivo de “Argo” está na edição, feita por William Goldenberg, que mantém a tensão o tempo todo e faz muito bem algumas sequências ficarem sobrepostas a outras, especialmente na cena em que o falso elenco do filme lê o script para a imprensa, ao mesmo tempo em que americanos presos passam por uma tortura psicológica numa prisão iraniana. O elenco está todo exemplar, especialmente Affleck (que deixou de lado alguns vícios que o faziam um canastrão), Goodman, Arkin e Bryan Cranston (o Walter White de “Breaking Bad”), que vive Jack O’ Donnell, colega de Mendez na CIA e o único que decide ajudá-lo, desobedecendo ordens superiores.
Após a boa repercussão de “Argo” entre os executivos da Warner Bros, houve rumores de que eles dariam a Ben Affleck o comando do filme da Liga da Justiça, que assim como “Os Vingadores”, reuniria grandes herói da DC Comics (Batman, Superman, Mulher Maravilha e outros). O ator/diretor tratou de desmentir os boatos logo em seguida. Mas não deixa de ser curiosa a ideia, já que até dá vontade de saber como seria a visão dele para uma produção de grande poder de fogo nas bilheterias. Mesmo assim, isso mostra que a carreira de Ben Affleck está mudando e para melhor. É só ele não cometer os mesmos erros do Kevin Costner.
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