O que levaria um ator que está cada vez mais conhecido, a cada novo trabalho, a aceitar fazer um papel em que fica todo o tempo com o rosto coberto por uma cabeça gigante feita de papel machê? A resposta está em “Frank” (idem, 2014), comédia de humor negro bizarra que poderia simplesmente não funcionar por causa de seu argumento (à primeira vista) bem absurdo. Mas o diretor Larry Abrahamson tirou a sorte grande quando conseguiu a adesão de Michael Fassbender ao projeto para viver o estranho e divertido personagem-título. Graças à sua performance, o filme se torna algo acima da média do que tem se visto por aí em produções que se dizem engraçadas.
A história é contada sobre o ponto de vista do jovem Jon Burroughs (Domhnall Gleeson, filho de Brendan Gleeson), que deseja se tornar um astro da música e deixar para trás a sua vida pacata. Um dia, ele conhece os integrantes da banda Soronprfbs, quando o baixista do grupo tentava se afogar e, após uma rápida conversa com Don (Scoot McNairy), é incluído na trupe por saber tocar teclado. Assim, ele passa a conviver com os outros membros, que também têm suas estranhezas: o guitarrista Baraque (François Civil) não gosta de se comunicar com ninguém, a baterista Nana (Carla Azar) é bem agressiva com as pessoas, a tecladista Clara (Maggie Gyllenhall) tem tendências suicidas e Don confessa gostar de transar com manequins. Mas o mais esquisito e misterioso de todos é mesmo Frank (Michael Fassbender). O líder do Soronprfbs alterna frases geniais com outras que não fazem nenhum sentido, tem atitudes inusitadas e só anda com o rosto coberto por uma cabeça gigante.
Assim, Jon vai parar numa cabana isolada de tudo para participar do processo de criação e gravação do novo álbum da banda. O que ele não contava é que a experiência duraria tanto tampo e começam a surgir os conflitos, especialmente com Clara. O rapaz decide descrever nas redes sociais tudo o que acontece no lugar e acaba chamado a atenção de duas organizadoras do South By Southwest (um grande festival de música, cinema e outras manifestações culturais que acontece todo o ano no Texas), que convidam o Soronprfbs para se apresentar no evento. É aí que os problemas começam de verdade.
“Frank” tem uma história tão surreal que é incrível saber que ela foi inspirada em fatos reais. Durante boa parte do filme, o riso vem fácil por causa das situações inusitadas que acontecem com os personagens. Até que acontece uma reviravolta que muda o tom da trama, deixando-a um pouco mais melodramática. Mas isso não chega realmente a incomodar pelo simples fato de que faz sentido no meio de tanta insanidade que surge na vida de Jon e o roteiro escrito por Jon Ronson e Peter Straughan é bastante feliz ao fazer essa transição sem causar maiores danos para o prazer que a obra causava ao espectador até então. Isso se deve, além do bom humor, ao fato de que o público acaba se tornando cúmplice de Frank e seus companheiros, que mais parecem fazer parte de uma família disfuncional, graças também à boa direção de Larry Abrahamson, que segura as rédeas da situação, mostrando que está tudo sob controle.
Além de Fassbender, que usa sua ótima expressão corporal para compensar o fato de que não vemos o seu rosto, o elenco tem como destaque o jovem Domhnall Gleeson, que constrói com carisma o seu personagem, impedindo que sua ingenuidade o faça parecer bobo e até mesmo chato. Maggie Gyllenhall também está interessante como a fiel escudeira de Frank, que tenta protegê-lo e ajudá-lo a conseguir alcançar seus objetivos, sem tirar a ironia do seu rosto em alguns momentos, especialmente quando Jon tenta dar novas ideias a Frank, o que causa bons e divertidos embates entre os dois.
Para quem curte comédias do tipo “torta na cara”, “Frank” pode não ser uma boa experiência, já que o humor do filme é um pouco fora do comum. Mas quem está disposto a curtir algo bem diferente e inusitado, vai com certeza ter ótimos momentos durante 95 minutos. Portanto, embarque na proposta misteriosa e incrível do cantor cabeçudo e sua banda e divirta-se!
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