Grande sucesso da segunda metade dos anos 1990, “Independence Day” conquistou fãs pelo mundo inteiro pelos ótimos efeitos especiais (que chegaram a ganhar o Oscar daquele ano), mesmo com sua trama nada plausível, situações pouco críveis, e muito patriotismo, para a alegria dos americanos. O filme foi importante para o início da consagração de Will Smith, que se tornou um astro do cinema a partir daí, e também para o cineasta alemão Roland Emmerich, que virou um dos maiores realizadores de filmes-catástrofe das últimas duas décadas, alternando bons momentos (“O Dia Depois de Amanhã”) com outros nem tanto (como sua versão de “Godzilla”, “O ataque” ou “2012”).
Durante muito tempo, seus admiradores esperaram que uma sequência deveria ser feita, algo que era tratado com certas reservas por Emmerich, alegando que faltava a história certa para ser contada em uma segunda parte. Pois bem: vinte anos depois, a hora finalmente chegou e, infelizmente, “Independence Day: O Ressurgimento” (“Independence Day: Ressurgence”, 2016) decepciona com uma história que consegue ser pior do que a do filme original, graças a um excesso de clichês, piadas sem graça, um bom elenco desperdiçado e uma história fraca que é esticada até a exaustão. Quem curtiu a produção original, e não se importar com esses “pequenos” detalhes, pode até curtir essa continuação. Mas quem já tinha reservas com o primeiro filme, talvez seja melhor passar bem longe.
Na trama, a Terra está prestes a comemorar o aniversário de 20 anos da batalha vista no primeiro filme, em que os alienígenas foram derrotados graças ao esforço de um grupo de militares americanos e a estratégia montada pelo cientista David Levinson (Jeff Goldblum), realizada com auxílio do Capitão Steven Hiller (Will Smith, que decidiu não voltar para essa sequência). Com a vitória, as nações mundiais utilizaram a tecnologia dos inimigos que ajudou a criar um grande sistema de segurança contra possíveis invasões extraterrestres, além de dar ao mundo um período de paz e maior integração. Só que o ex-presidente Thomas Whitmore (Bill Pullman), que tem as estranhas visões que passam por sua mente desde o contato que teve com os ETs malvados, percebe que os aliens têm novos planos de retornar com uma armada ainda maior para se vingar de seus algozes e conquistar de vez o planeta.
Os Estados Unidos, agora liderados pela presidente Lanford (Sela Ward), precisam lutar mais uma vez para defender o mundo, enquanto David, auxiliado pela especialista Catherine Marceaux (Charlotte Gainsbourg), tenta descobrir o que significam estranhos símbolos encontrados na África, que podem ser decisivos para o resultado do novo combate. Além disso, os pilotos Dylan (Jessie T. Usher), filho de Steven, e Jake (Liam Hemsworth), namorado de Patricia Whitmore (Manika Monroe), filha do ex-presidente Whitmore (Bill Pullman), deixam as diferenças de lado para liderar uma missão contra os vilões, mesmo que isso custe suas próprias vidas.
Assim como no filme original, “O Ressurgimento” até começa bem, criando uma boa tensão que vai se desenrolando até que acontece o primeiro grande ataque dos alienígenas. Porém, depois disso,a história tem muito pouco a acrescentar, dando uma sensação de “deja vu”, já que muitas situações são bem semelhantes ao que já foi visto antes. Para piorar, o roteiro escrito por cinco (!) roteiristas falha em criar situações de humor ou personagens interessantes. Tanto que alguns, como Floyd, interpretado por Nicolas Wright (o guia da Casa Branca em “O Ataque”) são tão chatos que chega a dar vontade de torcer para que algum ET o fuzile com sua arma laser.
Além disso, chega a ser constrangedor um momento em que o ex-presidente Whitmore começa a conversar com um personagem e suas palavras começam a ganhar um tom eloquente, a ponto de todos que estão ao seu redor pararem para ouvi-lo como se fosse um discurso motivacional. Isso sem falar numa subtrama envolvendo crianças abandonadas por adultos, que se fosse eliminada da trama não faria nenhuma falta. Os clichês do roteiro são tantos que não falta nem a cena de um cachorro em perigo no meio do fogo cruzado de um combate. Não precisava tanto para desafiar a inteligência do espectador.
A direção de Emmerich até funciona nas cenas de ação e as sequências das batalhas dos caças americanos (modificados com a tecnologia alienígena, um dos acertos do filme) contra as naves extraterrestres são bem realizadas e provam que o cineasta alemão não é como Michael Bay, deixando tudo bem claro e compreensível para o público, ao contrário do que faz o diretor da franquia “Transformers”. No entanto, continua pecando na condução de seus atores, tornando suas atuações fracas e nada marcantes.
Encabeçando o elenco, Liam Hemsworth deve agradar apenas aos fãs de “Jogos Vorazes”, pois o ator ainda não realizou uma atuação convincente em nenhum dos seus trabalhos e não é diferente aqui. Jeff Goldblum, sempre confiável, não faz nada de muito diferente do que já realizou antes (e melhor), chegando a dar um grito estranho numa cena que deveria ser engraçado, mas fica constrangedor. Bill Pullman até que não se sai mal, mas é prejudicado pela direção, que não soube dosar os momentos em que aparece mais fragilizado para outros em que está mais ativo.
Sela Ward pouco tem a fazer como a presidente, assim como Manila Monroe e Jessie T. Usher, que não tem nada do carisma do “pai” Will Smith. Mas o maior desperdício é mesmo ver Charlotte Gainsbourg, uma das “musas” de Lars Von Trier, num papel fraco, que serve para ser “escada” de Goldblum, que qualquer atriz iniciante ou mediana poderia fazer. Judd Hirsch, que volta como o pai de David, e Brent Spiner, que interpreta o Dr. Brakish Okun, são prejudicados pelo péssimo roteiro quando precisam ser engraçados. Algo que funcionou muito melhor no filme original.
Além do ótimo design de produção, “Independence Day: O Ressurgimento” também se vale dos excelentes efeitos especiais, que se sobressaem no clímax do filme, e da boa trilha sonora, assinada por Harald Kloser e Thomas Wander. Mas isso é o que se espera de produção orçada em cerca de US$ 200 milhões. O problema é que o resto fica abaixo da expectativa, resultando num blockbuster “comum”, como muitos que têm surgido nos últimos meses e facilmente esquecível, ao contrário da primeira parte, que é guardada com carinho no coração de muitas pessoas, especialmente aqueles que viveram a adolescência nos anos 1990. Mas dificilmente criará novos admiradores ou será lembrado como um dos melhores de 2016.
Em tempo: Outro destaque positivo do filme está em sua edição de som e efeitos sonoros, que ficaram mais envolventes na nova sala UCI XPlus no New York City Center, na Barra da Tijuca, no Rio, que foi apresentada para a imprensa. A sala conta caixas de som até no teto do cinema, que proporciona uma experiência inovadora e interessante para assistir a um filme. Quem puder conferir, com certeza não vai se arrepender.
Filme: Independence Day: O Ressurgimento (Independence Day: Ressurgence)
Direção: Roland Emmerich
Elenco: Liam Hemsworth, Jeff Goldblum, Bill Pullman
Gênero: Ficção/Ação
País: EUA
Ano de produção: 2016
Distribuidora: 20th Century Fox Classificação: 10 anos
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