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“Pequeno Segredo” força a barra para emocionar com melodrama barato

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Há filmes que chamam a atenção por suas qualidades cinematográficas. Outros atraem pela mensagem que querem transmitir para o seu público. Mas há aqueles que não possuem nenhum grande mérito e, ainda assim, conseguem marcar sua presença, mesmo que de uma maneira negativa. Esse é o caso de “Pequeno Segredo” (Brasil, 2016), que conseguiu atrair os refletores para si após ter sido escolhido para representar o Brasil na disputa uma das vagas entre os indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2017, deixando para trás adversários mais badalados, como “Aquarius”, “Nise: O Coração da Loucura” ou mesmo “Mais Forte que o Mundo: A História de José Aldo”.

O problema é que, infelizmente, a produção selecionada não apresenta um bom cinema e desperdiça o potencial da interessante história por utilizar uma narrativa digna de telefilme lacrimogênio, sem nenhuma originalidade, embalada por uma bela (mas impessoal demais) fotografia e outros recursos que, ao invés de gerar uma emoção genuína, só vai comover aqueles que choram por qualquer coisa.

Baseada em fatos reais, a trama é centrada no casal de velejadores Heloisa (Julia Lemmertz) e Vilfredo Schurmann (Marcelo Antony), que adotam a pequena Kat (Mariana Goulart) após a morte dos pais, Jeanne (Maria Flor) e Robert (Erroll Shand), e a levam para conhecer o mundo em várias viagens pelo mar. Quando Kat cresce, a menina passa a conviver com outros jovens e lida com novas questões relativas à sua idade. Ao mesmo tempo, ela passa a reparar em algumas coisas que acontecem em sua vida e desconfia que Heloisa guarda um segredo em relação a isso. Enquanto isso, a mãe de Kat precisa lidar com a avó da garota, a prepotente Barbara (Fionnula Flanagan), que tem planos que podem causar mais problemas para o Schurmann.

O que mais causa impacto em “Pequeno Segredo” é o fato de que e o filme possui um tratamento dos mais rasos para contar sua história, ainda mais quando se trata de uma produção que deseja conquistar o prêmio mais cobiçado do cinema. O diretor David Schurmann, filho de Heloisa e Vilfredo, mostra que ainda não está maduro o suficiente como cineasta e conduz a obra com clichês demais, apostando apenas na parte estética e criando uma dramaturgia frouxa, que até poderia render mais nas mãos de um realizador mais experiente. Nem quando o segredo que dá nome ao filme é revelado causa alguma comoção. Um dos únicos momentos que causam alguma surpresa é uma cena de atropelamento. Mas nem mesmo ela é capaz de tornar a produção memorável.

Outro problema está no roteiro, escrito por Schurmann, Marcos Bernstein e Vitor Atherino, que faz com que personagens apareçam e desapareçam da história sem a menor cerimônia. Para piorar, o texto possui diálogos que parecem ter saído de livros de auto-ajuda dos mais rasos, que os atores fazem o possível para torná-los dignos, o que nem sempre é possível. A montagem de Gustavo Giani  também não ajuda, já que não há uma coesão entre as duas histórias que o filme quer contar: a vida de Kat com os Schurmann e o romance entre Jeanne e Robert. As tramas rolam de forma quase independente, sem “interferir” uma na outra, o que é um erro básico e, ao mesmo tempo, incômodo.

A fotografia, assinada por Inti Briones, poderia ser um dos trunfos de “Pequeno Segredo”. Mas depois do terceiro ou quarto pôr do Sol que aparece na telona, fica a impressão de que o trabalho mais parece ter sido feito para cartões postais e não para cinema. A trilha sonora de Antônio Pinto é boa, mas derrapa em alguns momentos que reforçam a ideia de melodrama barato que permeia todo o filme, o que é uma pena. O que se percebe é que há muitos bons profissionais envolvidos nessa produção. Porém nenhum deles consegue realizar um trabalho que faça alguma diferença em relação ao que vem sendo lançado no país e fora dele.

Isso também vale para o competente elenco escalado para o filme. Julia Lemmertz faz o que pode com o seu papel e, mesmo com as falas ruins de sua personagem, consegue tornar crível a preocupação e o amor pela filha. Marcello Antony pouco tem a fazer como Vilfredo, já que o roteiro o coloca como uma peça pouco importante da história. Maria Flor também não tem muito o que fazer como Jeanne, mas compensa com o seu carisma já comprovado em outras produções.

A veterana Fionnula Flanagan tem um pouco mais de sorte porque aproveita bem o perfil politicamente incorreto de Barbara para mostrar seu talento e até gera algumas risadas nervosas. O neozelandês Erroll Shand, no entanto, se mostra o mais fraco entre os atores devido à sua atuação canastrona. A estreante Mariana Goulart demonstra ter potencial como atriz, ao tornar Kat uma menina vívida e cativante e obtém uma ótima interação com Lemmertz.

“Pequeno Segredo” vai enfrentar pedreiras para chegar ao Oscar, ainda mais num ano em que os novos filmes de Pedro Almodóvar (“Julieta”, pela Espanha), Paul Verhoeven (“Elle”, pela França), entre outros serão seus concorrentes pela estatueta careca. Mas tudo pode acontecer. Afinal, já que Donald Trump surpreendeu a todos e venceu a eleição para presidente dos Estados Unidos, por que não acreditar que a produção brasileira possa chegar lá? Mas verdade seja dita: esse é o nosso representante mais fraco desde que “Lula: O Filho do Brasil” tentou a sorte em 2010. O jeito é cruzar os dedos.

Confira também a crítica de Renan de Andrade sobre o filme

Filme: Pequeno Segredo
Direção: David Schurmann
Elenco: Julia Lemmertz, Maria Flor, Fionnula Flanagan, Erroll Shand, Marcello Antony e Mariana Goulart
Gênero: Drama/Biografia
País: Brasil
Ano de produção: 2016
Distribuidora: Diamond Films
Duração: 1h 48 min

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