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Surpreendente Homem-Aranha

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Não, eu não errei o nome do filme. Apenas me referi ao fato de ter sido surpreendido pela qualidade deste reboot (podem negar o quanto quiser, foi um reboot) da franquia do Homem-Aranha.

Prometo tentar fazer essa resenha com o mínimo de spoilers. Quando eu fiz a resenha de Prometheus a primeira coisa que eu me perguntei sobre o filme é: Ele tinha necessidade de ser feito? Aqui eu me fiz a mesma pergunta e cheguei a conclusão que o terceiro filme da trilogia do teioso foi muito aquém do esperado pelos fãs. E com a Marvel fazendo milhões e milhões com uma franquia que pode se encaixar perfeitamente um Homem-Aranha, a Sony teria toda razão em colocar um ator mais novo e recontar a sua história de forma que, eventualmente, ambas as produtoras possam vir a unir as franquias em algo que só poderia ser considerado Espetacular.

Para começo de conversa o filme é sim um reboot da trilogia do diretor Sam Raimi, agora com a direção de Marc Webb (500 Dias com Ela) e Andrew Garfield no papel principal.

Desde cara o filme nos mostra um Peter Parker diferente e ainda assim igual ao que já estávamos acostumados. A grande diferença é o modo como Peter é mostrado ao público. Ele não é vítima de humilhações constantes, na verdade o que se percebe é que ele é mais um em meio a balburdia de alunos, cada um sofrendo a sua dose de humilhações. Ele tem seus problemas, claro, mas ao mesmo tempo, ele não é constantemente humilhado sem provocação como seria de se esperar.

Até mesmo Flash Thompson (Chris Zylka) não age como um ignorante a todo momento, mostrando que o diretor e os roteiristas escolheram pautar o filme em uma situação de vida mais plausível para o herói e isso talvez seja algo que sempre foi uma marca do Homem-Aranha não só como personagem, mas como demonstrativo de que até mesmo um grande herói tem seus dias ruins. Por maiores que fossem os poderes de Peter Parker, ele sempre teve problemas que todos os leitores e fãs tiveram. Seja se apaixonar pela garota mais bonita e inteligente da sala, seja o abandono familiar e a criação por tios e seja, eventualmente, a necessidade de trabalhar para poder pagar as contas.

Somos dispostos perante todas essas situações de vida comum e ainda assim, todas as cenas de ação e tensão com o Lagarto (Rhys Ifans) agradam ao público que busca filmes de heróis exatamente por causa da sua ação, sem se preocupar demais com a história. O que se vê aqui é diversão de primeira pautada em uma história firme e complexa, mostrando as nuances dos relacionamentos interpessoais do herói e como isso leva ele a tomar a decisão de ajudar a população e não só buscar suas motivações egoístas.

O interessante é que o filme todo é bem centrado no herói e em sua relação com Gwen Stacy (Emma Stone), o verdadeiro e único amor da vida de Peter Parker. Perto de Gwen, Peter claramente muda e age como um bobo apaixonado só que, ao mesmo tempo, ele fica mais centrado e comedido após o primeiro beijo dos dois, mostrando mais uma vez o quão bem o diretor trata seus personagens com o devido respeito. O casal principal também é um show a parte de atuação desde as primeiras interações. Aqui, contrariamente aos filmes de Raimi eu realmente torci para que os dois dessem certo porque simplesmente é a coisa certa a acontecer.

O filme é a história de um jovem que descobre que tem muito mais sobre suas costas do que ele acharia capaz de suportar e as responsabilidade que advém disso, sem ficar sendo forçado a lembrar disso a cada 10 minutos com uma voz vindo ao seu subconsciente e dizendo: “com grandes poderes vem grandes responsabilidades”. Diga-se de passagem, essa frase não é dita em momento algum do filme, apenas implicada de forma genial pelo tio Ben (Martin Sheen) em um momento crucial da história, quando todos percebem que há algo de errado com Peter mas, pensa-se que, seria mais uma revolta juvenil transparecendo.

Logo que Andrew Garfield começa a usar a máscara para caçar o homem que matou seu tio, de uma forma muito mais verídica que qualquer um poderia imaginar que seria feita, vemos quase uma nova personalidade aflorando. O garoto acanhado da escola ganha asas e praticamente vira uma metralhadora de frases de efeito e tiração de sarro como todo moleque seria. A perseguição ao assassino de seu tio se torna uma obsessão e ele começa a capturar apenas bandidos que tenham o mesmo biotipo do assassino e isso é bem ressaltado pelo Capitão George Stacy (Denis Leary). Ainda assim, a realidade bate a sua porta e ele percebe que seus atos podem estar sendo vistos com bons olhos pelos jovens mas, os adultos o vem de forma diferente, uma ameaça ao status quo.

Nisso nos focamos no Capitão Stacy, pai de Gwen e chefe de um dos departamentos da polícia. Stacy é o oposto do Aranha. Ele luta pela justiça mas conforme a lei e ver um vigilante mascarado espancando bandidos que tem diversas características físicas similares é algo inaceitável para ele. Mas até mesmo ele percebe a necessidade de ter o Homem-Aranha por perto após um tempo e após Peter se tocar que se focalizar na busca pela vingança não iria ajudar todos da forma que seu tio iria gostar de ver ele agindo.

O roteiro, baseado na história criada por James Vanderbilt é muito bom e tem seus momentos de tensão, comédia, drama e ação, todos bem dosados e editados pela produção. Os efeitos visuais, especialmente aqueles que mostram o herói andando pela cidade em sua teia e escalando os prédios é um show a parte. É interessante que em diversos momentos, se analisarmos cada um em seu contexto, os efeitos lembram muito a jogabilidade do game Mirror’s Edge.

Há alguns buracos na história, especialmente a fuga dos pais de Peter, da razão da criação das teias artificiais que o herói usa e as motivações do Lagarto serem apenas a da recuperação de seu braço e a cura de Norman Osbourne, especialmente vindo de um homem que supostamente é genial e que trabalha na mesma fórmula a coisa de 15 anos.

Ainda assim, as motivações do Lagarto são dignas e realmente, é um deleite ver a atuação de Ifans quando seu braço ressurge após o uso do soro, para logo em seguida vir o desespero em perceber que seu corpo todo estava sofrendo a mutação. Ainda assim, houveram exageros, especialmente em dada parte quando baixa o Duende Verde nele e ele começa a ouvir vozes que mandam ele agir de forma criminosa.

A trilha sonora é outro ponto forte do filme, se incorporando a ação sem ser intrusiva e atrapalhar o espectador, tirando seu foco. Ela, porém, não é épica ao ponto de se criar um novo tema a ser repetido infinitamente nos próximos filmes. Temos mais um norte a seguir e isso é muito bom já que uma das maiores fraquezas dos outros filmes era exatamente sua trilha sonora, pouco inspirada.

Por fim, uma dica aos fãs mais antigos de cinema. Procurem entre alguns dos atores secundários um certo ator de comédias dos anos 80. Na época ele era bem moleque, hoje deve estar com mais ou menos uns 50 anos de idade e ainda tem a mesma cara de moleque de antes.

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