No início de dezembro de 2014, o escritor americano Timothy Zahn esteve em São Paulo e no Rio de Janeiro para prestigiar o relançamento de seu livro “Star Wars: Herdeiro do Império”, a primeira parte de uma nova trilogia que continua as aventuras de Luke Skywalker, Han Solo, Princesa Leia Organa e outros personagens criados por George Lucas para a saga espacial mais popular do cinema. Em “Herdeiro do Império” (relançado pela Editora Aleph), os eventos acontecem cinco anos após “O Retorno de Jedi” e os heróis precisam enfrentar uma nova ameaça: O grão-almirante Thrawn, que deseja impedir a criação da Nova República e levar o Império Galático de volta ao poder. Neste novo cenário, surge também Mara Jade, que deseja matar Luke, mas acaba se envolvendo com ele.
Bastante simpático, Zahn conversou com Célio Silva, Cesar Monteiro e Thais da Cunha sobre seu trabalho e deu sua opinião sobre o novo filme da saga, “Star Wars: O Despertar da Força”, dirigido por JJ Abrams, que será lançado no fim do ano de 2015, além de outras franquias como “O Exterminador do Futuro” e o remake de “RoboCop”, dirigido pelo brasileiro José Padilha. Confira abaixo a entrevista:
Senhor Zahn, qual a primeira coisa de que o senhor se lembra a respeito de “Star Wars”?
A primeira coisa que me lembro é ver a nave da princesa Leia passando e o Star Destroyer vindo atrás. E continuava vindo, e vindo e vindo. Foi a primeira vez em um filme que eu tive a sensação real de algo grande. Naquele momento eu vi que ia mesmo gostar daquele filme.
E como você se sentiu quando foi convidado para escrever “Herdeiro do Império” e os outros livros?
Foi uma tremenda honra, me senti muito agraciado, muito gratificado, aterrorizado (risos). Era uma grande responsabilidade ser a primeira pessoa a levar a saga Star Wars para além do final de “O Retorno de Jedi”. Então foi a chance da minha vida, algo que fiquei empolgado em fazer e foi simplesmente incrível quando me pediram para fazê-lo.
Como você experimentou aquele período entre 1985, 1986 quando não tinha mais nada relevante sobre star wars , nenhum rumor sobre um novo filme, nenhum videogame, nenhuma HQ até você vir com Herdeiros do Império?
Bom, até tínhamos os filmes em VHS na época, nada de DVDs ou Blu Rays, mas, realmente, não tinha nada de novo vindo. “West End Game” lançou na época um RPG de “Star Wars”, e havia os sourcebooks e tal. Mas as pessoas consideravam esses produtos licenciados bastante inúteis. Até atraíram alguns adeptos, mas a maior parte do público via aquilo como uma licença falida. Não se sabia se os fãs estavam por aí, pois eles não estavam fazendo nenhum barulho, até porque não tinha nada para que eles comprassem ou assistissem. Mas tínhamos uma indicação antes de “Herdeiro” ser publicado, em 1991, eu fui falar com uma turma de 4ª serie levando umas ilustrações, e aqueles garotos nem eram nascidos quando o primeiro filme saiu. Mal tinham nascido quando veio “O Retorno de Jedi”. Eles olhavam para a ilustração e apontavam “esse é Han, esse é Chewie esse é Luke”. E eu pensei “Uau, mas o último filme saiu há 8 anos”. Os garotos da nova geração estavam prontos para estar em contato com aqueles personagens porque assistiram a trilogia em vídeo. Vi que talvez ainda houvesse interesse em relação a Star Wars, e Herdeiros do Império posteriormente comprovou que ainda havia empolgação em relação à galáxia muito muito distante. Já que não poderiam ver novas histórias na telona, talvez ficassem felizes em ter um lançamento em livro.
Capa do relançamento de “Star Wars: Herdeiro do Império” (Foto: Divulgação).
O que ou quem te inspirou a criar personagens como Mara Jade e Grão-Almirante Thrawn?
Mara Jade foi criada como um personagem que usa a Força. Ela foi feita para ser em relação a Luke o que Han foi para Leia. Leia tem a personalidade nobre virtuosa e marcante e Han é o canalha que a irrita. E eu queria algo dessa mesma dinâmica entre Luke e Mara. Algo mais sério, já que Mara tenta matá-lo. Ela é aquela com passado obscuro e ele tem o perfil certinho do garoto fazendeiro. Quanto a Thrawn, eu queria fazer algo em “Star Wars” que George Lucas ainda não tivesse feito, que não seguisse o modelo de Darth Vader ou Imperador. Então seria um vilão que comandaria suas tropas com a realeza e não através do medo. Então criei o melhor gênio militar que o Império já viu e o coloquei a frente dos remanescentes do império, e o tendo apertando o cerco sobre a Nova República e Han, Luke e Leia, criando uma grande ameaça ao novo governo.
Para muitos fãs de Star Wars, “Herdeiros do Império” é ‘A’ sequência de “Star Wars”. E para muitos fãs Episódio VII deveria ser uma adaptação do seu livro. Como você se sente em relação a isso?
Seria legal, mas a trilogia de Thrawn não era para ser a nova trilogia. George Lucas planejou as trilogias em filme para que fossem sempre separadas por uma geração. A trilogia clássica é Luke Skywalker, o prólogo é seu pai, Anakin e a nova será sobre a próxima geração. Então, em vez de ser os Episódios VII, VIII e IX, a trilogia de Thrawn foi feita para ser os Episódios 6.1, 6.2 e 6.3 (risos).
Bom, por falar nisso, o senhor provavelmente viu o trailer de “O Despertar da Força”. O que o senhor achou?
Eu acho que o trailer mostrou que eles entenderam o que os fãs de “Star Wars” querem ver. X-Wings voando baixo e em formação, a Milenium Falcon dando looping no ar, um personagem bastante intrigante no fim. Não sabemos se é homem, mulher, humano ou alien com um sabre que é ao mesmo tempo muito velho, e com um design estranho, possivelmente confeccionado por alguém que não sabia exatamente o que estava fazendo, ou algo completamente diferente. Mas, de qualquer maneira, é uma arma intrigante com um personagem intrigante. Eu espero que eles façam algo com grande êxito em relação à história em si.
O nome do senhor está sempre sendo associado a “Star Wars”, mas o senhor também possui outras publicações de ficção científica e outras do universo expandido já conhecido pelo público.
Sim, tenho dois livros de Exterminador do Futuro. Um é “Terminator Salvation: From the Ashes”, um prequel de ”O Exterminador do Futuro: A Salvação” e o outro é “Trial By Fire”, uma sequencia.
E por falar nisso você gostou da ideia desse novo reboot, com Schwarzenegger de volta?
Eu não vi o trailer, mas, não sei. Gosto dos dois primeiros filmes. Não sei o que poderão fazer melhor. Fazer reboot só pelo reboot não é a melhor ideia. Muitos dos filmes que ganharam reboots, sinceramente, não achei que ficaram bons como “Robocop”. Mas vamos ver, de repente fazem desse algo diferente. O reboot de “Onze Homens e Um Segredo” teve grande êxito. É algo possível, mas vamos ver o que irão fazer.
Na Comic Com Experience, em São Paulo, você autografou muitos dos seus livros. Você achava que iria ser um grande sucesso?
Eu não tinha ideia do que me esperava, era o primeiro ano da convenção eu sabia que havia uma edição em português saindo, e eu esperava que isso trouxesse interesse, mas não sabia o quão grande era o número de fãs de “Star Wars” no Brasil e quantas pessoas iriam à sessão de autógrafos na livraria como que teremos hoje à noite. A editora Aleph me convidou para vir até aqui e quis ver o que ia acontecer. Foi muito impactante para mim, eu fiz várias rodadas de autógrafos no fim de semana e eu acho que se houve um momento em que não havia ninguém esperando na fila deve ter sido por uns 15 segundos, quando veio alguém pedindo para assinar o livro e uma nova fila se formou. Mas foi maravilhoso. Tivemos ótimos momentos na segunda feira em Campinas, ontem à noite em São Paulo, que teve um bom público e parece que terá bastante gente aqui no Rio hoje a noite (Quando o escritor se encontrou com fãs na Livraria Cultura). Sinto como se o livro estivesse sendo lançado de novo, é como foi em 1991 quando eu recebi muita atenção, muita gente querendo o livro autografado. É apenas outro país, e alguns anos depois, mas é como um lançamento e está sendo ótimo. Fãs brasileiros são muito educados, agradáveis e calorosos. Fãs de “Star Wars” em geral costumam ser educados. Eu nunca tive problemas em meio a um monte de fãs de “Star Wars”, especialmente os leitores de “Star Wars”, porque pessoas que leem são ainda mais educadas do que o público geral. Eu acho que ficaria nervoso em um auditório com fãs de Stephen King (risos), porque me parece que eles tendem a ser um pouco mais estranhos. Mas fãs de “Star Wars” são pessoas maravilhosas.
O senhor aceitaria um novo convite para escrever algo novo sobre “Star Wars”?
Sim, o editor que cuida das publicações de Star Wars disse que é muito cedo para decidir o que vão fazer com os novos livros. A Disney e a Lucasfilm ainda não decidiram, mas eles sabem que estou interessados e estão pensando em mim. Quanto à decisão ser tomada eu não sei, talvez seja quando filme sair podem resolver fazer livros spin offs sobre os personagens. Parece que pode haver alguns personagens no filme sobre os quais poderão ser escritas histórias. Não sabemos o que ocorrerá neste ponto. Então, diria para os fãs esperarem para ver o que vai acontecer, se eles estão mesmo interessados. Se não, eu tenho 10 novelas e 19 contos mais curtos. Eu tenho uma boa carreira em “Star Wars”. Se algo for feito eu tenho material, se não for feito, bem, eu ficaria feliz em escrever mais. Vamos ver o que acontece.
O senhor teve alguma dificuldade em escrever esse livro?
Eu tive aqueles problemas típicos que os todos os escritores têm, como estar no meio da história e saber para onde eu quero ir. Ou como, muitas vezes, você se questiona: “Essa história vai animar as pessoas? Os personagens vão se conectar com os leitores? Alguém vai gostar do que eu escrevi?” Eu não posso julgar isso, porque se eu ler mais profundamente, eu sei que é o melhor a fazer, mas eu conheço os personagens, eu sei como eles vão crescer e mudar, eu sei todas as reviravoltas no texto, conheço todas as surpresas, não posso me surpreender. Então, eu não sei se os leitores vão gostar desta viagem que eles estão embarcando. Acho que todo o escritor tem essas dúvidas e tudo o que podemos fazer é dar o melhor de nós e esperar que os leitores consigam se conectar com o que escrevemos.
Na sua opinião, por que “Star Wars” é um sucesso permanente?
Eu acho que George Lucas trouxe de volta a maneira antiga de contar histórias, com um grande pano de fundo, um grande evento, mas focado nas pessoas envolvidas nele. Você vê isso na “Ilíada” e na “Odisséia”, do grande poeta Homero. Temos a Guerra de Tróia, com os troianos enfrentando os gregos por dez anos, num grande cenário de batalha, mas focado em Odisseus (ou Ulisses), Aquiles, Heitor, Agamenon, Paris e Helena de Tróia. Eles estão envolvidos no conflito e fazendo a diferença no resultado final. E foi isso que Lucas fez, com a Grande Rebelião contra o Império. Mas focado em Luke, Han, Leia, Wedge, Mon Mothma, Darth Vader e o Imperador. Você vê o conflito que eles comandam e mudam através de seus atos. E é uma história de amor, lealdade, amizade, sacrifício, riscos, coragem… Tudo o que os seres humanos reconhecem e respondem. E ele conseguiu a química correta entre Luke, Han e Leia, pessoas que vivem nos nossos corações para sempre. A saga nunca vai se apagar porque de suas qualidades universais. Eu espero ter conseguido a mesma mágica e as novas continuações também.
Timothy Zahn também gravou uma mensagem em vídeo exclusiva para o Ambrosia:
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