Bem longe da fama de mau

15
0

Minha Fama de Mau, cinebiografia baseada no livro escrito por Erasmo Carlos e o jornalista Leonardo Lichote, vem no embalo dos recentes Bohemian Rhapsody, que conta a história de Freddie Mercury, Nasce uma Estrela e do vindouro Rocket Man, que vai contar a história de Elton John.
Com estreia marcada para esta quinta-feira (14/02), o longa, dirigido por Lui Farias, filho de Roberto Farias, que dirigiu a trilogia histórica trilogia de filmes protagonizada por Roberto Carlos — Roberto Carlos em Ritmo de Aventura (1968), Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa (1970) e Roberto Carlos a 300 Quilômetros por Hora (1971) — segue um caminho parecido com os filmes do pai.

Apesar de tentar contar uma história real, há humor, fantasia e algumas licenças poéticas e temporais que tornam o longa mais leve e menos preciso. A produção teve a preocupação de reconstruir com detalhes um Brasil (Rio e São Paulo) da década de 60, onde as pessoas e a música eram mais ingênuos e até o trânsito menos feroz.

Bom elenco

Se a caracterização deixa a desejar na comparação, principalmente, com Bohemian Rhapsody, não há como negar que Chay Suede (Erasmo), Gabriel Leone (Roberto Carlos), Malu Rodrigues (Wanderléa), Bruno de Lucca (Carlos Imperial) e Bianca Comparato (que interpreta vários personagens femininos – Nara, Samara, Clara, Lara e Sara) fazem um bom trabalho. Vale destacar as interpretações de Isabela Garcia (como Diva, mãe de Erasmo) Paula Toller (Candinha) e Vinicius Alexandre (que rouba as cenas como Tião “Tim” Maia).

O elenco é um dos trunfos do filme, que sofre com um roteiro frouxo e que vai apenas até meados da década de 70, deixando de fora muitas histórias e canções. Não vemos menção aos sucessos de Roberto escritos em parceria com Erasmo ou aos sucessos da carreira do Tremendão, como “Mulher”, “Panorama Ecológico”, “Filho Único” ou “Pega na Mentira”.

Muito bonzinho

Roberto assistiu a pré-estréia ao lado do amigo Erasmo - Foto: Reprodução

Minha Fama de Mau pode até não ser considerada uma verdadeira biografia, já que fica focada na história do jovem Erasmo, desde os tempos de pobreza na Tijuca, quando fazia pequenos roubos com os amigos de bairro, entre eles nomes como os de Tim Maia e Jorge Ben.
O Erasmo do filme é família, amigo, cheio de inseguranças e contradições. Uma visão que fez o próprio Erasmo perguntar ao diretor a razão de ter sido retratado tão bonzinho. A razão? Não sabemos.

Mesmo nas cenas em que o filme retrata o sucesso da Jovem Guarda — o movimento musical e o programa de TV liderado pelo trio Roberto, Erasmo e Wanderléa — o que se vê é um homem íntegro, apaixonado pelo rock and roll e consciente da qualidade da música que produzia.

Trilha original

Um dos trunfos do filme é que a trilha sonora é interpretada pelos próprios atores, deixando de lado as normalmente péssimas dublagens da maioria das produções do gênero. As canções, que contam com a banda que acompanha Erasmo nos palcos, são afiadas e trazem frescor aos sucessos do início da carreira do Tremendão, do Rei e de Wanderléa.

“Eu Sou Terrível”, “Gatinha Manhosa”, “Negro Gato”, “Parei na Contramão” e a faixa-título ganham destaque e não decepcionam em relação aos registros originais. Infelizmente, a fase mais adulta do compositor é praticamente ignorada, apenas com algumas canções sendo usadas como trilha incidental, o que deixa de fora muita coisa daquela ótima safra do artista.
“Eu ouço de tudo o que aparece na internet, na TV ou no rádio. Algumas vezes eu ouço e falo: ‘boa música’, mas logo em seguida já estou ouvindo outra coisa. É muito grupo, muita música, muita informação, muitas cantoras. Isso acaba confundindo a cabeça da gente. Não dá para seguir e conhecer todo mundo. Já desisti disso faz muito tempo. Quando eu quero mesmo ouvir música, eu ouço meus discos antigos de rock básico, bossa nova, etc”, revelou Erasmo.

Licenças poéticas e fim abrupto

Apesar de ir apenas até meados dos anos 70, o filme se utiliza do recurso de transferir certos eventos para datas bem diferentes das verdadeiras, para acomodar esses acontecimentos nas pouco mais de 2 horas de duração. É o caso da cena em que Roberto mostra a canção “Amigo” para Erasmo, que no filme se passa muitos anos antes do que realmente aconteceu.
https://youtu.be/2sRhBkUREzo
Vale destacar que as razões que formataram tal amizade não são muito exploradas, um dos principais defeitos do roteiro.
O filme termina com cenas gravadas pelo Tremendão e família na intimidade. Suas paixões — incluindo o Vasco da Gama — aparecem nos registros que ilustram os créditos.

Diversão garantida

Minha Fama de Mau é diversão garantida. Não deve ganhar o Oscar ou concorrer a prêmios importantes, mas serve como documento de um dos mais importantes movimentos musicais da história do país e parte da trajetória de um dos maiores compositores da nossa época.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *