Quem disse que roqueiro não pode ser romântico? Erasmo Carlos é a prova viva de que rock e amor combinam. Responsável por grande parte das mais conhecidas canções de amor do país (compostas em parceria com o amigo Roberto Carlos) e depois de três discos de estúdio voltados mais para as guitarras, mas sem perder a gentileza – Rock n’ Roll (2007), Sexo (2011) e Gigante Gentil (2014) – o Tremendão vira o jogo e lança “…amor é isso”, baseado em e-mails com poesias que escreveu para a mulher, Fernanda Passos, durante os oito anos de namoro do casal.
O resultado, além das composições solo de Erasmo, é uma coleção de ótimas parcerias – Marisa Monte, Dadi, Samuel Rosa, Adriana Calcanhoto, Arnaldo Antunes, Emicida e Tim Maia – e presentes de amigos como Marcelo Camelo e Nando Reis, formando um repertório de altíssima qualidade, que fala sobre todas as faces do mais intenso dos sentimentos e passeia por vários estilos, não ficando preso apenas as baladas.
Paixão e inocência
Já na primeira canção – ‘Convite para nascer de novo’ (Erasmo Carlos / Marisa Monte / Dadi), o ouvinte é levado a deixar a tristeza de lado e abraçar a oportunidade de uma nova paixão.
Houve um tempo em que eu chorava quase todo dia / Dando linha a uma vida extremamente chata / Com a vontade disponível de não existir… / Houve um tempo em que eu morava com minha tristeza / Era amigo e confidente das manhãs sem sol / Prisioneiro de mim mesmo, sem poder fugir… // De repente, o infinito de uma coisa boa / Começou devagarinho a orbitar em mim / Como num conto de fadas dos Irmãos Grimm… / Era um universo puro de uma pessoa / Que me viu um mundo morto portador de vida / Como um beija-flor perdido no próprio jardim… //
https://youtu.be/gDBPxIglwV8
Mas se as letras dão o norte do disco, o instrumental também merece destaque. O baixo de Dadi, os violões e guitarras de Luiz Lopes, e os backings de Pedro Dias e Luiz, dão peso e unidade ao material pinçado por Erasmo. A faixa-título é um ótimo exemplo disso, com um arranjo delicado onde se destacam os violões e a ótima melodia.
Uma alegria de luz, o orgasmo da arte / Um sonho, uma ardência na alma / Uma dor, uma sorte / Mais que uma oferta egoísta e possessiva / Uma canção de ninar em carne viva… // Um universo inteiro de prazer no céu / A ressonância da paz no coração do seio / Nobre ilusão do horizonte da febre sem fim / E o som da banda avisando que o show é assim…
Sempre moderno
O romantismo não pode ser considerado uma novidade na carreira de Erasmo, e mesmo assim ele ainda consegue encontrar formas de se manter novo e atualizado. Uma das surpresas do disco é a sua parceria com Emicida, que também faz uma participação vocal em ‘Termos e Condições’, faixa que fala sobre tecnologia e que é um dos destaques do disco.
Erasmo pensou mesmo em tudo. O CD está sendo vendido (no site da Som Livre) com um lápis para que as pessoas possam expressar sua própria opinião sobre o que é o amor, já que o sentimento tem significados diferentes para cada alma.
Homenagem ao amigo
Se o sexo já foi tema de um disco recente, o amor expressado nas faixas de “…amor é isso” é daqueles que todos deveríamos querer viver: intenso, traidor, romântico, idealista e sem fim. Mesmo as canções em que o sentimento veio por conta de uma amizade – como a versão que Erasmo fez para a canção ‘New Love’, do companheiro de infância Tim Maia – têm um saboroso toque de inocência.
Eu amei / Todo o amor / Que eu tinha pra amar / O que eu não sabia / É que ela não me amava… / Eu chorei / Toda a dor / Que eu tinha pra chorar / E o pranto que eu chorava / Não fez ela voltar… / Foi então / Que a vida entre o cinza e o azul / Me mostrou / A beleza do mundo em você / Me pergunto / Se eu tenho alguma chance / De contar com seu amor nesse romance… / Ôôô love / Meu novo love / Foi tão bom achar você…
Muitos altos
Toda a unanimidade é burra, já diria Nelson Rodrigues, e dizer que “…amor é isso” é um trabalho perfeito seria um pouco de exagero. Mas os altos são tantos que mesmo os mais exigentes vão se dobrar diante da qualidade das (12) canções e da produção (Pupillo). ‘Convite para nascer de novo’, ‘Novo sentido’, ‘Novo Love’ e ‘Parece que foi hoje’, fazem os 50 minutos do álbum passarem muito mais rápido do que o normal, como num jogo de futebol bem jogado, que sempre passa mais rápido do que uma pelada.
Erasmo Carlos continua produzindo com um ritmo e uma qualidade que impressionam, principalmente se compararmos com a preguiça do seu velho parceiro. Com “…amor é isso”, Erasmo deixa a estrada livre para mais canções e álbuns.
Graças a Deus!
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