Documentário, que foi exibido nos cinemas lá de fora e chega às lojas em junho, emociona até mesmo quem não é fã do guitarrista
Eric Clapton é um dos músicos mais famosos e talentosos do mundo. Já compôs canções que se tornaram clássicos do rock, já ganhou vários prêmios e amou várias mulheres. Porém, teve uma vida cheia de baixos e agora, depois dos 70 anos, decidiu abrir o coração em um documentário no qual, mais que narrar sua carreira, conta sobre suas mágoas, seus vícios (álcool e drogas) e seus traumas. “Life in 12 Bars” (Vida em 12 compassos, em tradução livre) serve como um belo complemento para alguma das inúmeras biografias do músico. E confirma que ele é mesmo um sobrevivente.
O filme, dirigido pela cineasta e produtora vencedora do Oscar, Lili Fini Zanuck, teve como base uma série de entrevistas em que Clapton foi acessível em relação a várias coisas. Por isso, talvez, a música fique em uma espécie de segundo plano, embora o próprio Clapton seja categórico: “A música me salvou”. O foco principal fica mesmo na vida do artista, desde a infância, quando foi abandonado pela mãe, criado pelos avós – ele passou boa parte da infância achando que a irmã era a sua mãe e só foi conhecer a mãe já grandinho -, até o family man dos dias de hoje, passando pelas loucuras dos anos 60 e 70 e pela morte do filho Connor, em 1991.
Vícios
Se os anos 60 foram a época da maconha e do LSD, os anos 70 foram a época – para Clapton – da heroína e do álcool. Embora amplamente divulgado, é diferente ler sobre os efeitos da droga em Clapton e ver e ouvir esses efeitos. Em uma entrevista, com a voz totalmente chapada, ele diz odiar a vida e que não vai ficar por aqui (na Terra) por muito tempo. Mais angustiante ainda é ver cenas de Clapton cheirando cocaína e bêbado no palco e fora dele, em um estado muito mais deplorável do que quando usava heroína. Os absurdos comentários racistas – que o documentário não mostra, apenas apresenta recortes de jornais sobre o assunto – e o comportamento errático do músico esclarecem a razão dessa década ser praticamente ignorada na maioria das biografias. Ele simplesmente não lembra de muita coisa.
Porém, em termos de vício, podemos dizer que tudo começou com uma mulher: Pattie Boyd/Harrison. A então mulher do beatle George Harrison, melhor amigo de Clapton, e dona de algum borogodó poderoso (vale lembrar que ela foi a inspiração para canções como ‘Something’, ‘Layla’, ‘Wonderful Tonight’ e ‘Breathe On Me’) revirou a cabeça do guitarrista, que mergulhou na heroína e acabou produzindo o seu melhor trabalho: “Layla and Other Assorted Love Songs”, um grito desesperado de amor, que acabou não surtindo efeito e só piorou a vida do Deus da Guitarra.
Música
Como citei anteriormente, “Life in 12 Bars” serve como complemento às biografias de Clapton, principalmente no que se refere a sua carreira. Há alguns momentos e outtakes interessantes da sua carreira com o Cream e, principalmente, sobre o processo de criação do primeiro e único álbum do Derek and the Dominos. Todo o resto, inclusive o encontro com Hendrix, é pincelado de maneira reverencial, mas que não dá a devida profundidade que sua música merece. Vários discos são apenas citados e outros totalmente ignorados, o que torna o documentário capenga nesse sentido.
A trilha sonora do documentário, que também será lançada em junho, traz algumas boas novidades, entre elas a versão completa do sucesso ‘I Shot the Sheriff’ e duas mixagens feitas pelo próprio Clapton para canções do seu primeiro disco solo, embora também fique mais restrita aos primeiros anos da carreira de Clapton.
Drama e emoção
Se a carreira musical é usada como uma estada secundária, fica impossível não se emocionar com momentos como o do nascimento do primeiro filho, Connor, de como Clapton nutriu e germinou o espírito paterno e de como a trágica morte do menino afetou para sempre a sua vida e, muito provavelmente, o manteve vivo. O momento no qual Clapton fica em casa lendo cartas de condolências e acaba descobrindo um tesouro do filho, é daqueles que fazem com que qualquer ser humano minimamente normal fique com os olhos cheios d’água. E se a primeira cena do documentário – uma mensagem de vídeo gravada no dia da morte do amigo e ídolo B. B. King – parece fora de contexto, a última cena do documentário faz tudo se encaixar.
“Life in 12 Bars” tem muitas qualidades e defeitos. Pode não ser o documentário definitivo sobre a carreira de um dos maiores nomes do rock e do blues de todos os tempos, mas é definitiva para alguém que precisava exorcizar tudo, exorcizar todos os fantasmas e demônios que tornaram possível se tornar um bom pai, marido e pessoa.
O CD, DVD e Blu-ray tem lançamento programado para o dia 8 de junho – sem previsão de lançamento no Brasil – e (tomara) deve trazer alguns extras que podem enriquecer ainda mais a obra.
Comente!