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Festival do Rio: Simonal segue a tendência do 'cinema biográfico brasileiro'

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O cinema nacional se tornou especialista em biografias. Mas expertise não é necessariamente sinônimo de excelência. Não mesmo. Simonal, cinebiografia de Wilson Simonal, grande cantor carioca que chegou ao estrelato num momento em que negros artistas estavam relegados ao papel de coadjuvantes, mas que caiu no ostracismo após ser acusado de conivência com a ditadura militar. O grande problema aqui está no fato dele ser procedido por um ótimo documentário Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei, que apesar de ser do já longínquo 2009, representou a redescoberta do artista culturalmente e o reconhecimento de sua importância no cancioneiro popular e pop nacional. O trabalho de pesquisa e a dimensão biográfica do cantor foi tão bem sucedida que acaba por ser maior que a tentativa de ficcionalizá-la.
Simonal, a ficção, é o primeiro filme do diretor Leonardo Domingues, que trabalhou na edição do documentário. Seu recorte vai do início do cantor na banda Dry Boys até ser descoberto por Carlos Imperial, que identificou seu carisma extremo e o levou para a TV. Assim como quando conheceu sua esposa Tereza (Ísis Valverde) e a odisseia que foi seu casamento.

Para quebrar um pouco o tradicionalismo, o diretor investe em elaborados planos-sequências – uma em especial consegue contextualizar o domínio popular de Simonal de maneira bem cinematográfica.
Fabrício Boliveira é um ator experiente e capta bem o difícil savoir faire de interpretar uma figura tão construída na subjetividade de seu próprio carisma. O roteiro tenta o tempo inteiro demonstrar a humanidade dele em suas atitudes e deslumbramentos. E nesses momentos, o ator rechaça seu domínio dramático.
Para um primeiro filme, Domingues faz um trabalho bem correto e assertivo, entretanto o filme cai na armadilha de seguir os fatos, e menos de desbravar o homem. Os fatos, o documentário já havia apresentado com muita competência. O aprofundamento de Simonal pela perspectiva ficcional, não. Ainda assim, com toda sua excelente produção de arte e acuidade musical, não tem como não sair do cinema tocado pela maneira como essa história reflete a melancolia do que representou o nome Simonal. Para o bem e para o mal.

Cotação: 3,5/5 estrelas

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