“Filhos do Éden: Herdeiros de Atlântida”, segunda publicação do escritor brasileiro Eduardo Spohr, expande a mitologia deste universo de anjos e demônios – proveniente do primeiro romance, “A Batalha do Apocalipse” – trazendo-nos uma narrativa que aprofunda a personalidade das castas angélicas, bem como a fabulação anteriormente concebida, reafirmando o talento do autor carioca para criar enredos envolventes e ambientes vívidos. É uma obra que encanta, ainda que falhe em alguns aspectos.
Eis a sinopse oficial:
“Há uma guerra no céu. O confronto civil entre o arcanjo Miguel e as tropas revolucionárias de seu irmão, Gabriel, devasta as sete camadas do paraíso. Com as legiões divididas, as fortalezas sitiadas, os generais estabeleceram um armistício na terra, uma trégua frágil e delicada, que pode desmoronar a qualquer instante.
Enquanto os querubins se enfrentam num embate de sangue e espadas, dois anjos são enviados ao mundo físico com a tarefa de resgatar Kaira, uma capitã dos exércitos rebeldes, desaparecida enquanto investigava uma suposta violação do tratado. A missão revelará as tramas de uma conspiração milenar, um plano que, se concluído, reverterá o equilíbrio de forças no céu e ameaçará toda a vida humana na terra.
Juntamente com Denyel, um ex-espião em busca de anistia, os celestiais partirão em uma jornada através de cidades, selvas e mares, enfrentarão demônios e deuses, numa trilha que os levará às ruínas da maior nação terrena anterior ao dilúvio – o reino perdido de Atlântida”.
Diferentemente de seu primeiro livro, onde o foco era sobre o universo e, principalmente, sobre um evento específico – o seu fim, a trama de
“Filhos do Éden” trata quase que exclusivamente dos personagens, e considera a guerra celeste como pano de fundo para explorar a característica de cada casta angélica, bem como as motivações individuais deste grupo de protagonistas. Apesar de haver certa urgência nos acontecimentos que permeiam a missão de Kaira, nada é tão importante quanto a revelação de seu passado, algo extremamente ínfimo dada as dimensões da guerra, mas de extrema importância se olharmos para a trama atual.
O foco mais intimista do romance é uma escolha pertinente, da maneira que diante dela o monomito (Campbell, 1949) pode ser melhor explorado, criando um elo mais forte de identificação e sedução entre o leitor e a obra; embora o autor tenha utilizado tal estratégia de maneira um tanto óbvia, obedecendo quase que religiosamente a “cartilha” sem qualquer indício de incursões arriscadas. Certamente em “A Batalha do Apocalipse”, Spohr usou seu talento na forma mais purista, conquistando seu público quase que unicamente por sua inventividade, o que não desmerece completamente seu segundo trabalho, mas realmente demonstra uma escolha mais segura.
Talvez o maior mérito de Spohr seja sua capacidade de criar conceitos inteligentes, sendo eles originais ou reaproveitados de mitologias humanas – como quando discorre sobre vértices, vórtices, tecido da realidade e os diferentes céus. Sua narrativa, entretanto, ainda carece de brilho, e esboça algumas decisões equivocadas ao intercalar de forma confusa diversos acontecimentos em uma suposta teia de eventos que compartilham relações de causa e consequência. A concepção desses conceitos juntamente à sua habilidade descritiva extremamente incisiva faz de Spohr um magnífico escritor de livros de RPG, mas um não tão brilhante autor de romances de fantasia.

Segundo o próprio autor, “Filhos do Éden” é a gênese de uma saga que terá de dois a quatro volumes, servindo ao mesmo tempo como um “romance didático” para os novos leitores e spin-off para os fãs de “A Batalha do Apocalipse”. Publicado pela editora Verus em 2011, certamente é uma obra que possui o potencial para alavancar um expoente da ficção fantástica nacional, sendo altamente recomendada para os adoradores do gênero, muito embora a história não seja retratada no clássico universo pseudo medieval – ambiente recorrente destes tipos de história.
Para maiores informações, visite o site oficial: http://www.filhosdoeden.com/
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