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“Beijei uma Garota” traz riso e reflexão ao Festival Varilux

Vive la France! Há toda uma aura diferenciada que parece encobrir a França, as pessoas, a arte e a cultura francesas. Românticos? Provavelmente. Sofisticados? Talvez. Avessos ao banho? Este estereótipo não vem ao caso. São muitas as diferenças entre França e Brasil, e uma delas é o modo como o corpo e a sexualidade são mostrados e explorados nos dois países.

Foi em 2014 que conseguimos fazer um longa-metragem verdadeiro e tocante, sem ser piegas, sobre homossexualidade: “Hoje eu quero voltar sozinho”, sobre as descobertas e os desafios de um adolescente cego. A França está a anos-luz de nós no tratamento da sexualidade na tela, e em 2015 nos chega subvertendo as questões das comédias sexuais com “Beijei uma Garota”.

Há o maior drama quando um personagem desconfia que pode ser gay em novelas tupiniquins e alguns filmes americanos. O problema de Jérémy (Pio Marmaï), protagonista de “Beijei uma Garota”, é outro: talvez ele tenha se apaixonado por uma bela sueca após uma noite juntos, mas ele está de casamento marcado com Antoine. A questão “sou gay?”, “sou bi?”, “sou hétero?” poderia se desenrolar de maneira enfadonha, não fossem as figuras malucas que cercam Jérémy: o melhor amigo e sócio mulherengo Charles, os pais peculiares, a irmã ciumenta, o cunhado banana e o amigo artista Ursinho, que pinta quadros de… vaginas multicoloridas. Talvez seja a maneira como Jérémy lida com a situação que cause mais graça: ele é daqueles mocinhos atrapalhados com quem todos simpatizam, e suas tentativas de resolver problemas sem magoar ninguém envolvem muitas mentiras e confusões. Jérémy é um adorável palhaço, enquanto Charles (Franck Gastambide), o personagem mais divertido do filme, é um cafajeste intrometido, mas jamais desagradável.

Apesar de ser visto como um povo sensual, o brasileiro, enquanto criador de mídia, tem alguns pudores em mostrar o corpo. As produções mais mainstream cobrem tudo com lençóis, enquanto na França não há nada mais normal que uma bunda. Há um alarde geral com a tentativa de televisionar um beijo gay, e os franceses distribuem beijos (selinhos ou os autênticos beijos franceses) para as telas de cinema do mundo todo. Ainda estamos maquinando uma maneira de sair do armário sem ofender a família e a sociedade, e a França chega e nos dá essa goleada com um filme que faz a pergunta: “como eu faço para voltar para o armário?”. E a subversão não para por aí. Há, sim, a questão de escolher entre quem te dará uma vida tranquila ou quem chega virando seu mundo de cabeça para baixo, mas a maneira como isso tudo é mostrado vira nosso mundo também de cabeça para baixo. Basta ver a reação dos pais de Jérémy quando ele diz que está apaixonado por uma garota: eles ficam muito, muito desapontados por o filho não ser gay.

Obviamente, a França não pode ser vista como um paraíso para os direitos homossexuais por causa de um único filme. Há também homofobia nas terras da Torre Eiffel, infelizmente. O Brasil se compara negativamente à França neste assunto, cujas raízes são muito mais profundas e complexas do que se imagina. Talvez “Beijei uma Garota” não conquiste todos, talvez espante alguém do cinema com suas cenas de nudez logo no início, talvez não mude a opinião de um espectador sequer. Mas traz mais possibilidades ao debate, ao propor que talvez o maior problema não é gostar do mesmo sexo ou do sexo oposto: é se deixar dominar pelos rótulos.

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