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“Escamas de Mil Peixes”, livro de estreia de Maitê Lamesa, será lançado na Casa Gueto, na FLIP

Com referências que vão desde clássicos como Guimarães Rosa a nomes contemporâneos como Ana Martins Marques e Aline Bei, novo livro de poemas da escritora paulista tem publicação pela editora Patuá e será lançado no dia 24 de novembro, Casa Gueto, na Flip 2023.

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“Ninguém quer nadar como os peixes, disse Maitê Lamesa. Eu ri. Peixe não dá nome a nenhum nado, ninguém quer falhar tentando imitar sua destreza. Penso que ser poeta é um pouco ser peixe. E os poros por onde nascem as escamas são a escrita.” 
Tatiana Lazzarotto, escritora e autora de “Quando as Árvores Morrem”, na orelha 

Reunindo produções ao longo de quinze anos – mais especificamente, entre 2009 e 2023 – “Escamas de mil peixes” (119 pág.) é o livro de estreia de  Maitê Lamesa, escritora de Jaú, cidade do interior paulista. Com publicação pela editora Patuá, a obra tem lançamento previsto para o dia 24 de novembro, às 17h, na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), dentro da programação da Casa Gueto (Rua Benedito Telmo Coupê, antiga rua Fresca, nº 277, Centro Histórico), iniciativa da editora. 

Definido por ela própria como “um cardume de poemas”, a obra não perpassa um único tema, mas é separada em eixos que abordam desde questões relacionadas ao fazer poético à maternidade. “Neste arranjo, os poemas trazem tons e circunstâncias diferentes, mas há uma linha que costura essa pluralidade que é a voz de um peixe, que fala sutilmente de uma vontade de se jogar na água, de se tornar peixe, de se ver o mundo a partir da ”pele de peixe”, de mergulhar nas profundezas e correr com o curso d´água”, explica a autora.

Nesse sentido, ela cita a proposta imagética dos poemas, que convidam ao mergulho nas águas turvas de um rio. Nesse sentido, há um peixe que aparece “de improviso, quando tem de aparecer”, como um personagem discreto que carrega mensagens ante a vida: o fazer poesia (multiplicar suas linhas), a maternidade (o multiplicar da vida), a relação com o tempo, amores, encerrando-se, naturalmente, com o tema da morte. Assim, nota-se um estilo intuitivo e sensorialista dos textos, característica que insurge com força que permite o enlace entre  tantos poemas e fases diferentes de escrita.

Ao falar de seus processos de escrita, Maitê menciona como grandes referências principalmente escritoras contemporâneas, como Aline Bei, Adília Lopes, Carola Saavedra, Ana Martins Marques, Helena Machado, Marina Grandolpho, Carla Paiva, Lilian Sais e Tatiana Lazzarotto (esta última, autora da orelha do livro), mas também cita nomes de autores consagrados e clássicos, como João Guimarães Rosa, Darcy Ribeiro e, claro, Clarice Lispector. Estes dois últimos estão, inclusive, na epígrafe do livro. 

Ela também ressalta a importância das redes sociais na construção de uma rotina de escrita criativa. “Só o fato de publicar, mesmo que apenas no Instagram, me inspirou a escrever muitas coisas. Esse último ano foi muito produtivo em termos de escrita”, conta a autora, que também faz parte da equipe de poetas do portal Fazia Poesia e é uma das participantes do Coletivo Escreviventes.

Entretanto, para Maitê, a literatura não foi uma descoberta recente, e sim algo que sempre esteve presente em sua vida. Fascinada por aulas de gramática, redação e inglês na infância, a escrita já ocorria, mas “não havia ritmo, organização, muito menos publicação”. Após passar a adolescência dedicada à leitura de clássicos, começa a escrever poesia ao ingressar no curso de Direito na Universidade Estadual de Londrina (UEL). 

“O início da faculdade de direito foi um período muito intenso na minha vida, acarretando na minha primeira (e tão desejada) mudança de cidade, à manutenção de um relacionamento à distância (que ruiu alguns anos depois), e na vivência intensa do ambiente universitário”, recorda. “Tudo isso me fez iniciar a escrita de poemas de forma contundente, tornando-a um hábito, principalmente noturno. Era o preenchimento dos primeiros silêncios e solidões.  Nunca mais parei”, explica.

Atualmente, além da publicação de “Escamas de mil peixes”, Maitê conta que está se dedicando a um projeto de plaquete artesanal, costurada à mão e um novo livro de poemas inspirados no período de vivência no meio rural: “Já existe um esqueleto, então é um bom sinal de que poderá caminhar em breve”. Há ainda outros projetos, dentre eles um em prosa, porém, em suas palavras, a escrita também é saber caminhar com paciência.

Confira poema “Mulher-peixe” que integra o livro: 

venho à superfície das águas
para tomar fôlego

venho à superfície das águas
apenas para matar
a saudade do ar

venho à superfície das águas…
engasgo
sufoco
me afogo

um peixe fora d ́água

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