“Como eu, então uma menina, pude pensar e me debruçar sobre ideia tão terrível?”
Mary Shelley na introdução da edição de 1831 de Frankenstein, ou O Prometeu Moderno.
A atriz Bruna Longo provoca uma fricção entre o romance Frankenstein, ou O Prometeu Moderno e a vida de sua autora, Mary Wollstonecraft Godwin (Shelley), no solo Criatura, Uma Autópsia. O trabalho, que estreou em 2019, agora tem novas apresentações no Teatro Cacilda Becker (de 29 de junho a 02 de julho).
Fruto de dois anos de pesquisas dentro e fora da sala de ensaio, o espetáculo foi originalmente imaginado como uma adaptação para o palco de Frankenstein, ou O Prometeu Moderno, sob o ponto de vista da Criatura. Mas os caminhos da pesquisa são frequentemente misteriosos: por vezes busca-se algo e outra coisa nos encontra. Ao tentar falar da Criatura cada ação, cada palavra, cada dor encontrava Mary Wollstonecraft Godwin (mais tarde Shelley), a jovem que escrevera o livro. Sua história se impunha através da narrativa que ela mesma escreveu.
Em junho de 2018, com a pesquisa avançada e já em meio aos ensaios, Bruna Longo é convidada pela Bodleian Libraries da Universidade de Oxford e pelo curador do acervo especial Stephen Hebron a acesso total aos diários, cartas e manuscritos originais de Mary Shelley, reservado geralmente apenas a acadêmicos ligados a grandes centros de pesquisa.
A visita à Inglaterra a levou ainda a todos os lugares relevantes à vida de Mary Shelley em Londres e Bournemouth (onde está o túmulo da família). Além disso teve acesso a outros documentos na British Library. Voltando à sala de ensaio, a atriz chega à versão final da dramaturgia física, criada tendo como base duas narrativas: a do romance e a da vida de Mary Shelley, buscando os pontos de fricção.
Dois anos depois do início da pesquisa, o espetáculo que nunca se propôs uma biografia da Criatura ou tampouco da autora, tornou-se uma autopsia de um romance e de uma personagem, revelando as entranhas, artérias, musculatura de dores pessoais e universais.
Outra grande questão que circunda a peça é uma reflexão sobre a morte e o luto, que a dramaturga Bruna Longo evoca motivada pela perda do próprio pai. “A morte é, para nós ocidentais, talvez o último intransponível tabu. Não falamos sobre ela. Não sabemos lidar com ela. No entanto, ela é também a única certeza inexorável. Desde o início do processo de pesquisa do espetáculo, eu queria falar sobre morte e luto, mas sempre acabei entrando mais na esfera feminista, da questão da autoria. Agora, com a morte do meu pai, as mortes na vida de Shelley – centrais no espetáculo, assumiram uma camada mais pessoal. Vivemos nos últimos anos num estado de necropolítica em meio à maior pandemia da história recente, e ainda assim não conseguimos falar de morte, da nossa própria morte, daqueles que amamos. Falamos de morte como uma generalidade social, como um elemento político, mas não conseguimos discutir a morte como um assunto cotidiano”, revela.
Criatura, Uma Autópsia realizou temporada de estreia na Oficina Cultural Oswald de Andrade (SP) em agosto de 2019 (sendo estendida até fim de setembro). Em novembro de 2019, realizou curta temporada no Espaço Cia da Revista (SP). Foi indicado ao Prêmio Aplauso Brasil 2019 na categoria Melhor Atriz. Em 2021, cumpriu circulação em versão audiovisual por quatro teatros da cidade de São Paulo como parte do Projeto Anônimo Muitas Vezes Foi Mulher, idealizado por Bruna Longo e contemplado pela 11a Edição do Prêmio Zé Renato.
Em 2022 o espetáculo participou da Mostra Solo Mulheres, no Teatro de Contêiner (São Paulo), Festival Monofest22, organizado pelo Tyiatro Medresesi em Sirince, Turquia, e do Festival Internacional de Teatro do Mindelo – Mindelact, em Cabo Verde. Em 2023 participará do Festival Internacional de Teatro e Artes organizado pelo Elinga Teatro, em Luanda, Angola. E volta a São Paulo em circulação por teatros públicos como parte do projeto Memento Mori . Memento Vivere – Ou Precisamos falar sobre a morte, contemplado pela 16ª Edição do Prêmio Zé Renato.
Atividades formativas
Além de Criatura, Uma Autópsia, Bruna Longo realiza a oficina gratuita MEMENTO MORI / MEMENTO VIVERE: a morte como disparador para a criação e bate-papos gratuitos sobre a morte e o luto na contemporaneidade sob a perspectiva de diferentes religiões e filosofias – Budismo, Religiões Abraâmicas (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo), Tradições Afro-Brasileiras, Tradições Indígenas e Humanismo. Datas a confirmar (Informações: @espetaculo.criatura e @brunaflongo).
Histórico do Espetáculo
Criatura, Uma Autópsia realizou aberturas de processo no Espaço Elevador (SP), Teatro Irene Ravache (SP), Teatro de Contêiner Mungunzá (SP), Núcleo Educatho (São Francisco Xavier / SP) e Escola Nacional de Teatro (Santo André) antes de realizar temporada de estreia na Oficina Cultural Oswald de Andrade (SP) em agosto de 2019 (sendo estendida até fim de setembro). Em novembro de 2019, realizou curta temporada no Espaço Cia da Revista (SP). Foi indicado ao Prêmio Aplauso Brasil 2019 na categoria Melhor Atriz. Em 2021, cumpriu circulação em versão audiovisual por quatro teatros da cidade de São Paulo (Teatro Cacilda Becker, Arthur Azevedo, João Caetano e Alfredo Mesquita) como parte do Projeto Anônimo Muitas Vezes Foi Mulher – circulação dos solos autorais femininos Criatura, Uma Autópsia, Inventário e Quebra-Cabeça, idealizado por Bruna Longo e contemplado pela 11a Edição do Prêmio Zé Renato de Fomento para o Teatro na Cidade de São Paulo. Em 2022 o espetáculo participou da Mostra Solo Mulheres, no Teatro de Contêiner (São Paulo), Festival Monofest22, organizado pelo Tyiatro Medresesi em Sirince, Turquia, e do Festival Internacional de Teatro do Mindelo – Mindelact, em Cabo Verde. Em 2023 participará do Festival Internacional de Teatro e Artes organizado pelo Elinga Teatro, em Luanda, Angola. E volta a São Paulo em circulação por teatros públicos como parte do projeto Memento Mori . Memento Vivere – Ou Precisamos falar sobre a morte, contemplado pela 16ª Edição do Prêmio Zé Renato.
Sobre Bruna Longo
Atriz, dramaturga, produtora, diretora de movimento, pesquisadora corporal e educadora, tendo trabalhado em dezenas de projetos na Europa, Brasil e Estados Unidos. Colaborou com companhia dinamarquesa Odin Teatret, dirigida por Eugenio Barba, de 2006 a 2010, e foi membro da Cia. da Revista, de São Paulo, de 2010 a 2016. Mestre em Movement Studies pela Royal Central School of Speech and Drama – University of London, Reino Unido, 2010. Entre seus trabalhos mais recentes como atriz estão: Os 3 Mundos, com direção de Nelson Baskerville, no Teatro Popular do SESI (2018); Um Dez Cem Mil Inimigos do Povo, de Cassio Pires sobre texto de Henrik Ibsen. Direção: Kleber Montanheiro (2016); Ópera do Malandro, de Chico Buarque de Hollanda. Direção: Kleber Montanheiro (2014/15); Crônicas de Cavaleiros e Dragões, de Paulo Rogério Lopes. Direção: Kleber Montanheiro. Teatro Popular do SESI (2013); Kabarett, direção: Kleber Montanheiro (2012/14); Cabeça de Papelão, de Ana Roxo sobre conto de João do Rio. Direção: Kleber Montanheiro. Prêmio de Melhor Atriz no Festival de Teatro de Taubaté em 2013 (2012/16); Cada Qual no Seu Barril, dramaturgia corporal de Bruna Longo e Daniela Flor. Direção: de Kleber Montanheiro. Indicada como melhor atriz ao prêmio FEMSA de Teatro Infantil e Jovem em 2012 (2011/2018); Carnavalha, de Bruna Longo. Direção: Kleber Montanheiro (2011); The Marriage of Medea. Direção: Eugenio Barba. Holstebro, Dinamarca (2008); Landrus & Cassia, escrito e dirigido por Brian O’Connor. Virginia, EUA (2007); Shentai – The Circus Must Go On. Direção: Martha Mendenhall. Virginia, EUA (2007); Ur-Hamlet. Direção: Eugenio Barba. Ravenna, Itália – Helsingør, Dinamarca – Holstebro, Dinamarca – Wroclaw, Polônia (2006/09).
Ficha Técnica
Concepção e elenco: Bruna Longo
Assistentes: Giovanna Borges e Letícia Esposito
Dramaturgia: Bruna Longo
Cenário: Bruna Longo e Kleber Montanheiro
Cenotécnica: Evas Carreteiro, Nani Brisque e Alício Silva
Figurinos: Kleber Montanheiro
Objetos: Bruna Longo
Desenho de luz: Rodrigo Silbat
Trilha: Bruna Longo
Direção de Produção: Jota Rafaelli
Assistente de Produção: Amanda Chaptiska
Fotos: Danilo Apoena
Design Gráfico: Kleber Montanheiro
Colaboradores artísticos: Larissa Matheus (provocações de dramaturgia), Lino Colantoni (edição de trilha), Mateus Monteiro (interpretação textual), Victor Grizzo (direção de arte) e Anna Toledo (canto).
Sinopse
Criatura, Uma Autópsia, espetáculo solo de Bruna Longo, é uma fricção entre o romance Frankenstein, Ou O Prometeu Moderno e a vida de sua autora Mary Wollstonecraft Godwin (Shelley).
Serviço
Criatura, Uma Autópsia, de Bruna Longo
Classificação: 10 anos
Duração: 70 minutos
Ingressos: Grátis, distribuídos sempre uma hora antes de cada sessão
Teatro Cacilda Becker
R. Tito, 295 – Lapa
Quando: 29 de junho a 02 de julho, de quinta a sábado, às 21h, e no domingo, às 19h
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