AgendaArtes Visuais

Galatea apresenta “Carolina Cordeiro: o tempo é”

Individual reúne trabalhos inéditos e imersivos, que conjugam materiais e aspectos recorrentes na prática da artista.

Compartilhe
Compartilhe

A Galatea recebe, a partir de dia 2 de setembro, a exposição Carolina Cordeiro: o tempo é, individual que reúne trabalhos inéditos da artista, de caráter instalativo. Com textos de Paulo Nazareth e Fernanda Morse, a exposição se estrutura em três séries pensadas em conjunto para a ocasião: O tempo é; Sinais iniciais e Retirar tudo o que disse, que conjugam materiais e aspectos recorrentes na prática da artista mineira, como o zinco e o papel, o branco, as superfícies refletoras e os jogos de luz.

Experimentando diferentes níveis de intervenção no espaço — obras suspensas no teto, presas à parede, dispersas ao chão — Cordeiro aborda grandes temas — como o tempo e a questão da linguagem — sem preciosismos. Se, como diz Giorgio Agamben, contemporâneo é aquele que percebe o escuro do seu tempo como algo que lhe concerne e não cessa de interpelá-lo, Cordeiro, com o seu espelho prateado que nos vê, mas não nos mostra, trama no escuro seus feixes luminosos.

Sobre os materiais utilizados, a artista plástica afirma que o zinco, particularmente, tem uma conotação afetiva: “Faz parte da minha produção, como algo que me atravessa pela poesia e pela canção popular. É um elemento muito poético, que não entra na história oficial da arquitetura, mas está nas casas e nos barracos. Eu uso esse material pela forma que ele agrega e se torna construtivo”.

A primeira vez que Carolina usou zinco em sua obra foi em Dizem que há um silêncio todo negro (2019-2020), instalação em que chapas perfuradas foram instaladas na claraboia da biblioteca do espaço de arte Auroras permitindo a passagem de luz pelos vãos e trazendo o imaginário da violência. Agora, as mesmas chapas são reutilizadas na obra O tempo é, que ocupa a primeira sala da exposição da Galatea.

A poesia brasileira também é uma influência para a artista, mostrando-se principalmente através dos títulos dos trabalhos. América do Sal (2021) e As impurezas do branco (2019), por exemplo, são obras anteriores cujos títulos remetem a dois poetas brasileiros consagrados, respectivamente, Oswald de Andrade e Carlos Drummond de Andrade.

Sobre Carolina Cordeiro

Carolina Cordeiro (Belo Horizonte, MG, 1983) formou-se em Desenho pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, em 2008. Concluiu, em 2014, o mestrado em Linguagens Visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, e, em 2021, o doutorado no departamento de Artes da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo – USP, com período sanduíche no Chelsea College of Art and Design, em Londres. Atualmente, vive e trabalha em São Paulo. 

Iniciou a prática artística com o desenho e, na sequência, passou a explorar outras linguagens. Já em sua primeira individual, Quase é um lugar que existe (2006), reuniu ao desenho fotografia e objeto. De lá para cá, a sua produção mostrou-se cada vez mais plural em termos de suporte e cada vez mais interessada em se desenvolver a partir da influência e dos recursos que o ambiente onde se dá pode oferecer. Cordeiro se interessa em processos imersivos e defende uma relação de contaminação com a paisagem. Não busca, portanto, simplesmente propor intervenções no espaço, mas apresentar o quanto os elementos que o compõem a afetam e se desdobram em sua obra.

Uma noite a 550km daqui (2010-2017), instalação com feltro e carrapicho, demonstra bem esse princípio. Seu título se refere à distância entre o Ateliê Fidalga, um dos lugares onde já foi exposta, e um município do estado de Minas Gerais, no Brasil, onde a artista recolheu as sementes de Xanthium cavanillesii, popularmente conhecidas como carrapichos. Com essas sementes, com o poder de se dispersar por se agarrarem nos pelos dos animais, criou um céu estrelado fixando-as em feltro azul-escuro. O título do trabalho marca, ao mesmo tempo, a distância e a conexão que ele opera entre dois espaços, podendo variar conforme o local em que é montado, sempre tendo como referência a sua origem (a cidade em Minas Gerais). 

O caráter coeso da pesquisa de Cordeiro se mostra na interpenetração dos temas e materiais e em como um projeto não implica no abandono do outro, mas se estende no outro. Entre o trabalho das assadeiras (Sem título), de 2009, que segue sendo montado, e Paisagem, de 2019, pode-se estabelecer diversas conexões, como a economia de linguagem, o interesse geométrico e um grande fundo simbólico — como a vida doméstica ou a terra vermelha da cidade da natal. 

Em 2021, Carolina Cordeiro fundou, com os artistas Bruno Baptistelli, Frederico Filippi e Maíra Dietrich, a Galeria de Artistas, projeto criado por e para artistas como meio de experimentar novas forma de inserção no mercado. Em 2020, foi indicada ao prêmio PIPA. A artista participou de diversas residências artísticas nacionais e internacionais, entre elas: CASCO: Programa de integração arte e comunidade, Rio Grande do Sul, Brasil, 2020; Pivô Arte e Pesquisa, São Paulo, Brasil, 2019; Red Bull Station, São Paulo, Brasil, 2016; Homesession, Barcelona, Espanha, 2011; GlogauAIR Art Residency Berlin, Berlim, Alemanha, 2009. 

Entre suas exposições, destacam-se as individuais: América do Sal, Galeria de Artistas – GDA, São Paulo, 2021; Dizem que há um silêncio todo negro, Auroras, São Paulo, 2019; Una nit a 8360 km d’aquí, Àngels Barcelona, Espanha, 2018; Carolina Cordeiro, Ciclón, Santiago de Compostela, Espanha, 2018; Entre, Memorial Minas Gerais Vale, Belo Horizonte, 2013; Carolina Cordeiro, Homesession, Barcelona, Espanha, 2011. E as coletivas: Casa no céu (para Rochelle), Galeria Vermelho, São Paulo, 2023; Semana sim, semana não, Casa Zalszupin, São Paulo, 2022; Lenta explosión de una semilla, OTR. Espacio de arte, Madri, Espanha, 2020; I remember earth, Le Magasin des horizons, Grenoble, França, 2019; Estratégias do Feminino, Farol Santander, Porto Alegre, 2019; Agora somos mais de mil, Parque Lage, Rio de Janeiro, 2016; Blind Field, Krannert Art Museum, Champaign, Illinois, EUA, 2013.

Sobre a Galatea

A Galatea é uma galeria que surge a partir das diferentes e complementares trajetórias e vivências de seus sócios-fundadores: Antonia Bergamin esteve à frente por quase uma década como sócia-diretora de uma galeria de grande porte em São Paulo; Conrado Mesquita é marchand e colecionador, especializado em descobrir grandes obras em lugares improváveis; e Tomás Toledo é curador e contribuiu ativamente para a histórica renovação institucional do MASP, de onde saiu recentemente como curador-chefe.

Tendo a arte brasileira moderna e contemporânea como foco principal, a Galatea trabalha e comercializa tanto nomes já consagrados do cenário artístico nacional quanto novos talentos da arte contemporânea, além de promover o resgate de artistas históricos. Tal amplitude temporal reflete e articula os pilares conceituais do programa da galeria: ser um ponto de fomento e convergência entre culturas, temporalidades, estilos e gêneros distintos, gerando uma rica fricção entre o antigo e o novo, o canônico e o não-canônico, o erudito e o informal.

Além dessas conexões propostas, a galeria também aposta na relação entre artistas, colecionadores, instituições e galeristas. De um lado, o cuidado no processo de pesquisa, o respeito ao tempo criativo e o incentivo do desenvolvimento profissional do artista com acompanhamento curatorial. Do outro, a escuta e a transparência constante nas relações comerciais. Ao estreitar laços, com um olhar sensível ao que é importante para cada um, Galatea enaltece as relações que se criam em torno da arte — porque acredita que fazer isso também é enaltecer a arte em si.

Nesse sentido, partindo da ideia de relação é que surge o nome da galeria, tomado emprestado do mito grego de Pigmaleão e Galatea. Este mito narra a história do artista Pigmaleão, que ao esculpir em marfim Galatea, uma figura feminina, apaixona-se por sua própria obra e passa a adorá-la. A deusa Afrodite, comovida por tal devoção, transforma a estátua em uma mulher de carne e osso para que criador e criatura possam, enfim, viver uma relação verdadeira.

Serviço

Carolina Cordeiro: o tempo é

Local: Galatea

Endereço: Rua Oscar Freire, 379, loja 1 – Jardins, São Paulo – SP

Abertura: 2 de setembro, sábado, das 11h às 17h

Período expositivo: 4 de setembro a 14 de outubro de 2023

Funcionamento:  Segunda a sexta-feira, das 10h às 19h; sábados, das 11 às 15h

Mais informações: https://www.galatea.art/

Estacionamento: Estacionamento no local

Compartilhe
Por
Bruna Lira -

Assessora de imprensa de cultura

Comente!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sugeridos
AgendaArtes Visuais

Conversa com ex-paquita e artistas plásticos no CCBB RJ

A mostra “Fullgás – artes visuais e anos 1980 no Brasil” está...

AgendaInfantilTeatro

“Disney Princesa, o espetáculo” chega a São Paulo

Mais de 20 produções clássicas da Disney são relembradas através de canções...

Artes VisuaisEducaçãoNotíciasTecnologia

Descoberta revela tatuagens de múmias peruanas de 1.200 Anos

Um avanço emocionante na arqueologia tem iluminado novos e intrigantes detalhes das...

AgendaTeatro

“A Gaivota”, de Anton Tchekhov, no Teatro Itália

De 15 de janeiro a 19 de fevereiro de 2025, às quartas-feiras,...

AgendaTeatro

A comédia “As artimanhas de Molière” reestreia

Com direção de Márcio Trigo, o monólogo com Luiz Machado reúne em...

AgendaTeatro

“Devastação Hécuba” reflete sobre a atual crise ambiental brasileira 

De 25 de janeiro a 16 de fevereiro de 2025, sexta-feiras e...

AgendaTecnologia

Videomapping inédito na fachada do Museu Afro Brasil Emanoel Araujo no aniversário de São Paulo

Em projeção de escala monumental, a obra AKOMA reflete sobre histórias e...

AgendaArtes VisuaisEducação

SESI São José dos Campos promove Roda de Conversa e Oficina sobre Terra Terreno Território

Integrando a temporada da exposição Terra Terreno Território, o Centro Cultural SESI...