Murilo Mendes (1901-1975) atuou como crítico de arte, colecionador, organizador de exposições e poeta – essa faceta será evidenciada, agora, na nova exposição do MAM São Paulo: Murilo Mendes, poeta crítico: o infinito íntimo, em cartaz de 5 de setembro a 28 de janeiro de 2024, na Sala Milú Villela.
Murilo Mendes, o poeta crítico: o infinito íntimo traz ao público um conjunto significativo de obras, formado por trabalhos de Abraham Palatnik, Achille Perilli, Alberto da Veiga Guignard, Alberto Magnelli, Aldo Caló, Alexandre Eulalio, Alfredo Volpi, Almir Mavignier, Antonio Corpora, Arpad Szenes, Axl Leskoschek, Bruno Giorgi, Candido Portinari, Carla Accardi, Carlos Moskovics, Cícero Dias, Djanira da Motta e Silva, Ettore Colla, Fayga Ostrower, Flávio de Carvalho, Foto Feruzzi, Frans Krajcberg, Franz Weissmann, Gastone Biggi, George Rouault, George Braque, Geraldo de Barros, Gino Severini, Giorgio De Chirico, Giorgio Morandi, Giuseppe Capogrossi, Glauco Rodrigues, Hans Richter, Ione Saldanha, Ismael Nery, James Ensor, Jean Arp, Jesús Rafael Soto, Joan Miró, Jorge de Lima, José Medeiros, Lasar Segall, Lívio Abramo, Li Yuan-Chia, Lucio Fontana, Marcelo Grassmann, Maria Bonomi, Maria Helena Vieira da Silva, Maria Martins, Max Ernst, Michelangelo Conte, Milton Dacosta, Oswaldo Goeldi, Pablo Picasso, Piero Dorazio, Sophie Tauber-Arp e Victor Vasarely.
“É com satisfação que o Museu de Arte Moderna de São Paulo, como parte da celebração de seus 75 anos de atividades culturais e artísticas, realiza a mostra Murilo Mendes, poeta-crítico: o infinito íntimo. A exposição conta com o inestimável apoio do Museu de Arte Murilo Mendes, ligado à Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais, cidade onde nasceu o escritor, e com sua realização, o MAM contribui para a pesquisa e difusão da arte moderna, em especial de um capítulo ainda pouco conhecido, a atuação marcante de Murilo Mendes como crítico de arte e colecionador, tanto no Rio de Janeiro entre os anos de 1920-1940, quanto na Europa a partir da década de 1950 até seu falecimento em 1975”, comentam Elizabeth Machado, presidente do MAM, e Cauê Alves, curador-chefe do museu, em texto que abre o catálogo da exposição.
Espalhados em jornais e revistas, em muitos poemas e prosas poéticas, o pensamento crítico de Murilo Mendes passou a ser organizado somente no fim de sua vida, quando ele compilou parte de seus textos críticos em um volume publicado postumamente, A invenção do finito. Em 1994, sua coleção de arte foi adquirida pela Universidade Federal de Juiz de Fora, que criou o Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM) e desde então organiza mostras e publicações sobre o acervo.
O curador Lorenzo Mammì explica que a exposição do MAM foi pensada a partir do acervo do poeta que está disponível em Juiz de Fora, sua cidade natal, e que foi complementada com outros artistas que marcaram sua trajetória. “Além dos nomes presentes nesta coleção, nós fizemos uma pesquisa minuciosa sobre as obras de Murilo Mendes e acrescentamos outros artistas importantes que não estavam lá, como por exemplo Jorge de Lima e Maria Martins”, diz o curador. Ele complementa que o trio de curadores percebeu a importância de incluir artistas como Djanira da Motta e Silva, Lasar Segall, Milton Dacosta, Jesús Rafael Soto e Lucio Fontana, dada a relação que tiveram com Murilo Mendes. De acordo com Mammì, esses foram alguns nomes relevantes que foram descobertos ao longo da pesquisa, tanto do Brasil quanto do exterior. Além de Soto e Fontana, fora do país Murilo também teve contato com outros artistas, como o italiano Alberto Magnelli, que o ajudou a pensar em uma abstração que não era construtiva no sentido da arte concreta, sendo isso uma de suas divergências com Mário Pedrosa.
Murilo Mendes em três blocos
A exposição é organizada em três blocos, começando por destacar o círculo de Murilo Mendes e Ismael Nery no Rio de Janeiro nas décadas de 1920 e 1930, com alguns desdobramentos na década seguinte. Nessa fase, Murilo conviveu com um conjunto de artistas como o próprio Nery, Cícero Dias, Alberto da Veiga Guignard e Jorge de Lima, que cultivam uma relação estreita entre artes plásticas e poesia, próximos das poéticas surrealistas e metafísicas, mas com divergências. Por outro lado, o crítico opõe-se às tendências dominantes na época, realistas e defensoras de uma volta ao métier, a serviço do nacionalismo e do engajamento social. É a fase “rebelde” de Murilo.
“É notável como sua coleção de arte privada, que se inicia nos anos 1920 com trabalhos de Ismael Nery e de artistas que circundam mais diretamente a estética surrealista, nas décadas seguintes se abre a outros nomes, em geral de artistas em plena atuação no momento em que o crítico coleciona as obras”, comenta Taisa Palhares em texto que integra o catálogo da exposição.
O segundo bloco da exposição abrange desde meados da década de 1930 até sua mudança para a Itália em 1957, quando Mendes já é um poeta famoso e um crítico conhecido. Seu leque de interesses se amplia: Lasar Segall, Bruno Giorgi, Maria Martins, Alberto Magnelli. Começa a montar uma coleção de arte que reunia várias obras adquiridas em suas viagens à Europa. Esse recorte também retrata a relevante convivência com artistas que chegaram ao Rio de Janeiro vindos da Europa em fuga do nazismo, em particular o casal Maria Helena Vieira da Silva e Arpad Szenes. O círculo que se forma em volta desses artistas inclui Milton Dacosta, Djanira, Ione Saldanha, Almir Mavignier, Oswaldo Goeldi, Fayga Ostrower, entre outros. Murilo passa a se interessar por poéticas abstracionistas, mas não adere ao concretismo.
O terceiro bloco contempla o período em que Murilo viveu em Roma, a partir de 1957, onde leciona literatura brasileira na universidade. Lá, ele se aproxima do crítico de arte Giulio Carlo Argan, com quem compartilha o interesse por artistas italianos que praticavam um abstracionismo não geométrico, sem aderir de todo ao informalismo. É quando se interessa, também, pela arte óptica e cinética e colabora com artistas como Alberto Magnelli, Lucio Fontana e Soto em mostras e publicações. Neste momento, “os convites para escrever sobre exposições se sucedem e estão registrados nos textos dos catálogos; o próprio Murilo organiza exposições na Casa do Brasil pertencente à Embaixada Brasileira”, conta a curadora Maria Betânia Amoroso. Nas exposições que organiza, inclui artistas brasileiros contemporâneos, como Volpi, Weissmann, Mavignier, dentre outros.
Dessa última fase destaca-se a curadoria da representação brasileira na Bienal de Veneza de 1964, a primeira em que o Brasil conta com seu próprio pavilhão: “Com esta exposição, espera-se que o espaço reservado a Murilo Mendes crítico de arte e colecionador, tanto na sua biografia como na história da crítica brasileira, se afirme e se expanda”, afirma o trio de curadores em texto sobre a mostra.
Na grande parede que liga o espaço expositivo do começo ao fim, é exibido em painéis um conjunto de arquivos de Murilo, que conta com fotografias, publicações e outros documentos. O projeto expográfico, concebido pelo escritório UNA barbara e valentim, estabelece diálogos entre cada painel com os núcleos que ficam paralelos a eles. A mostra termina com o documentário Poesia em Pânico (1977), de Alexandre Eulálio, gravado em Roma entre 1971 e 1974. O filme de 21 minutos contém um dos únicos depoimentos filmados do poeta.
Serviço:
Murilo Mendes, poeta crítico: o infinito íntimo
Curadoria: Lorenzo Mammìi, Maria Betânia Amoroso e Taisa Palhares
Abertura: 5 de setembro, terça-feira, 19h às 21h30
Período expositivo: 6 de setembro de 2023 a 28 de janeiro de 2024
Local: Museu de Arte Moderna de São Paulo (Sala Milú Villela)
Endereço: Parque Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portões 1 e 3)
Horários: terça a domingo, das 10h às 18h (com a última entrada às 17h30)
Ingressos: R$25,00 inteira e R$12,50 meia-entrada. Aos domingos, a entrada é gratuita e o visitante pode contribuir com o valor que quiser.
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