O solo Azira’i, que rendeu à Zahy Tentehar o Prêmio Shell de melhor atriz em 2023, volta a São Paulo para uma nova temporada gratuita, de 7 a 17 de novembro no Itaú Cultural. As apresentações acontecem de quinta a sábado, às 20h, e aos domingos e feriados, às 19h.
Durante a temporada, no dia 9 de novembro, Zahy Tentehar também lança o livro com a dramaturgia do espetáculo no evento “Uma conversa sobre “Azira’i – Um musical de memórias”, com Zahỳ Tentehar e Duda Rios”. Será no próprio Itaú Cultural, na Sala Vermelha, às 16h.
A peça, que acaba de realizar apresentações no Festival de Artes Vivas de Bogotá e em Chicago, no Chicago Shakespeare Theatre, é um solo autobiográfico que trata da relação entre Zahy e sua mãe, Azira’i, a primeira mulher pajé da reserva indígena de Cana Brava, no Maranhão, onde ambas nasceram.
Azira’i foi uma mulher muito sábia e herdeira de saberes ancestrais, com vasto conhecimento sobre o mundo espiritual. Como pajé suprema, ela usava três ferramentas tecnológicas para curar: as plantas, a mão e o canto. Ao gerar e criar a filha nesta mesma aldeia, deixou para ela seu legado espiritual.
Ao longo da jornada como artista, Zahy fez do canto uma de suas expressões, que pode ser visto no espetáculo, em que ela canta lamentos ensinados por sua mãe e canções originais compostas por ela com Duda Rios, sob a direção musical de Elísio Freitas, produtor responsável pelo premiado álbum ‘Nordeste Ficção’, de Juliana Linhares, que também divide a autoria de algumas composições com a atriz e o diretor.
É neste verdadeiro ‘musical de memórias’ que se apresentam Azira’i e Zahy, mãe e filha, mulheres nucleares, distintas, diversas e espelhadas: “Sou a filha caçula da minha mãe. A nossa relação, como muitas de nossos brasis, foi diversa: cheia de semelhanças e diferenças, com muitos afetos e composições importantes para nossa trajetória. A presença de minha mãe é tão viva, que a nossa relação se faz continuamente importante. Quando pensei em trazê-la ao teatro, não foi para falar apenas dos meus sentimentos, foi para dialogarmos com nossos reflexos enquanto sujeitos coletivos. Gosto de nos ver, humanos, como espelhos, pois nossas histórias se entrelaçam e se compõem”, analisa Zahy.
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Azira’i faleceu em 2021, ao longo do processo de criação da montagem, que começa em 2019, quando Zahy e Duda Rios se conhecem no elenco da montagem de ‘Macunaíma’, dirigida por Bia Lessa e encenada pela companhia Barca dos Corações Partidos, também um projeto da Sarau. Nas conversas de camarim, Duda se surpreendia com o que Zahy contava – ela mesma se define como uma contadora de histórias – e surgiu ali mesmo a semente de criar um espetáculo a partir daquela vivência em um contexto tão próximo, mas também tão distante.
Duda formatou a dramaturgia junto com a atriz, em uma estrutura narrativa que percorre a história por diversos pontos de vista, como os da própria Zahy, mas também o de sua mãe e de uma narradora. No último ano, Denise Stutz se juntou à dupla de amigos criadores e a encenação propriamente dita começou a ganhar uma forma.
‘O nosso maior desafio foi selecionar, entre tantas histórias que ela havia me contado ao longo de quatro anos, quais iriam compor a dramaturgia da peça. Às vezes queremos abordar muitas coisas num espetáculo e terminamos perdendo o fio da meada. Mas se temos um eixo narrativo claro, a chance do público se envolver é maior. Nesse aspecto, a chegada de Denise foi fundamental, pois ela entrou no projeto pouco antes do início dos ensaios, com um olhar fresco que nos ajudou a identificar o que era essencial para nossa narrativa’, conta Duda Rios.
Zahy, Denise e Duda conceberam então um espetáculo focado na performance, com apenas uma cadeira e uma cortina de corda crua como elementos de cena, além das projeções do multiartista Batman Zavareze (direção de arte e design gráfico), cenografia de Mariana Villas-bôas, os figurinos de Carol Lobato e a iluminação de Ana Luzia Molinari de Simoni.
“Fui conhecendo as memórias de Zahy durante os meses de ensaio e fui me impressionando a cada dia pela potência das histórias de vida que ela contava e das narrativas sobre a mãe. Quando recebi o convite do Duda para me juntar a ele na direção desta montagem, tivemos conversas quase infinitas e o trabalho não faria sentido se a gente não escutasse primeiro os desejos de Zahy , afinal, é a história dela e são muitas memórias junto com sua mãe. A partir dessa escuta e dos textos que ela e Duda escreviam começamos a tecer esse musical de memórias. O mundo da Zahy está no seu corpo, no seu canto, na sua presença, nas suas histórias, no que é único nela e que é também o outro”, reflete Denise Stutz.
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“Azira’i” nasce ainda do desejo que Zahy tinha de contar as suas histórias reais, mas mostrando uma visão absolutamente não romantizada dos povos indígenas. “Uma história que é minha, mas também é a verdade de muitos brasis. É muito libertador poder falar do ser indígena de uma forma mais humanizada, sem estereótipos ou políticas. Quero poder contar a história de uma pessoa, como outras, que saiu de sua reserva, foi para a cidade, aprendeu uma outra língua e teve uma relação intensa com a mãe”, reflete a atriz.
No palco, ela alterna cenas em português e em Ze’eng eté, trazendo para o centro da cena o debate sobre os processos de aculturamento aos quais sua mãe foi submetida. Neste momento em que o país tem pela primeira vez um Ministério dos Povos Originários, a realização de um espetáculo como Azira’i ganha ainda um contorno mais especial.
“Não por acaso, estamos realizando alguns projetos em que pensamos o Brasil a partir do que veio antes da chamada História Oficial. Ao falar de biografias que foram atravessadas e violentadas pela colonização, pensamos também no país que somos e projetamos o futuro que queremos”, celebra Andréa Alves, da Sarau Cultura Brasileira, que recentemente foi responsável pelas montagens de ‘Museu Nacional (Todas as Vozes do Fogo)’ e ‘Viva o Povo Brasileiro (De Naê a Dafé)’, trabalhos marcados por um acerto de contas com a turbulenta biografia do País nos últimos séculos.
Sinopse
Azira’i é um solo autobiográfico que trata da relação entre Zahy Tentehar e sua mãe, Azira’i Tentehar, a primeira mulher pajé da reserva indígena de Cana Brava, no Maranhão, onde ambas nasceram. No palco, ela alterna cenas em português e em Ze’eng eté, trazendo para o centro da cena o debate sobre os processos de aculturamento aos quais foram submetidas. Foi indicado ao Prêmio Shell 2023 em quatro categorias – atriz, iluminação, dramaturgia e cenário, sendo vencedora na categoria Melhor Atriz e Melhor Ilumanção. E no Prêmio APTR nas categorias – espetáculo, direção, iluminação e jovem talento – atriz.
Ficha Técnica
Um solo de Zahy Tentehar
Dramaturgia: Zahy Tentehar e Duda Rios
Direção: Denise Stutz e Duda Rios
Direção de arte e design gráfico: Batman Zavareze
Cenografia: Mariana Villas-Bôas
Figurinos: Carol Lobato
Iluminação: Ana Luzia Molinari de Simoni
Trilha sonora: Elísio Freitas
Design de som: Gabriel D’angelo
Direção de Produção e Produção Artística: Andréa Alves e Leila Maria Moreno
Coordenação de Produção: Rafael Lydio
Produtor Executivo: Matheus Castro
Produção: Sarau Cultura Brasileira
Serviço
Azira’i, de Zahy Tentehar
Temporada: 7 a 17 de novembro
De quinta-feira a sábado, às 20h, e aos domingos e feriados, às 19h
No dia 15 de novembro a sessão será às 19h
Itaú Cultural – Avenida Paulista, 149 – Bela Vista, São Paulo
Ingressos: gratuitos, com reserva obrigatório pelo site
Classificação: 12 anos [violência]
Duração: 80 minutos
Acessibilidade: espetáculo acessível em Libras e o espaço é acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida
Uma conversa sobre “Azira’i – Um musical de memórias”, com Zahỳ Tentehar e Duda Rios
Data: 09/11/24 (sábado)
Horário: 16h
Duração: 01:30
Local: Sala Vermelha do Itaú Cultural (Piso 3)
Lotação: 70 lugares
Classificação indicativa: Livre
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