Crítica teatral: Paraíso Zona Sul – Ambrosia

Crítica teatral: Paraíso Zona Sul

A peça Paraíso Zona Sul está em cartaz em sua última semana, no Teatro da Sede das Cias, no bairro da Lapa. O texto inédito, de Jô Bilac, com direção de Nirley Lacerda, é uma costura de fragmentos que têm como temática encontros e desencontros, esquetes em que a histeria e o histrionismo dos personagens, confrontados com impasses e fraquezas, parecem ser a única maneira que encontram para lidar com situações-limite.

O histrionismo parece, então, ser a linguagem e a solução, em suma: uma ferramenta de comunicação. Referências a Nelson Rodrigues dão um toque especial a alguns desses esquetes, e a cidade é o que parece ligar cada um deles, representada por marcas no palco que remetem a Dogville, do cineasta Lars Von Trier, que, por seu turno, também remete ao teatro. O Grupo Fragmento tem a atuação de Ana Carolina Dessandre, Carolina Ferman, Diogo de Andrade Medeiros, Elio de Oliveira e Monique Vaillé, que se desdobram com engenhosidade para dar corpo e voz aos dezessete personagens do espetáculo.

No entanto, assistindo à peça, fica a questão: o que há de específico da Zona Sul em cada uma das cenas e na construção dos personagens, como a puta de Copacabana, a noiva do dentista que lhe faz uma promessa curiosa e bizarra e, com isso, o faz cair de amores por ela, o dono da doceria desconfiado da mulher, a nova namorada defensora dos animais que é apresentada à futura cunhada, entre os demais? Os conflitos ali existentes e as características dos personagens são específicos da Zona Sul? O fato de a peça se passar em bairros da Zona Sul e algumas indicações do cenário não podem ser o suficiente para uma caracterização que remeta a essa parte da cidade. Então, o que mais seria?

Fica essa dúvida insistente para o espectador, isso se ele conhece mais do que a Zona Sul da cidade, se percorre, frequenta ou é de outros bairros. É possível dizer que não faria diferença se qualquer um dos esquetes, inclusive aquele que se passa na Avenida Prado Júnior, fosse ambientado na Gamboa, na Tijuca, em Deodoro ou Campo Grande. E essa é uma questão significativa, uma vez que se trata do nome da peça e do cenário em que as histórias se desdobram.

Foto: Divulgação Foto: Divulgação

Por outro lado, os esquetes e sua distribuição ao longo do espetáculo fazem um percurso crescente de complexidade e sofisticação. O começo, mais linear e tradicional, felizmente vai dando lugar a uma coreografia estética que intercala as diferentes cenas, quebrando a linearidade monótona e terminando de modo brilhante.

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