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Quando a ficção não dá conta da realidade em "Sem Evidências"

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Um dos crimes mais chocantes e, até hoje, misteriosos dos EUA, há muito já suscitava alguns (bons) documentários e matérias jornalísticas. Já era de se esperar que chegasse a ficção e foi o que aconteceu com o lançamento de “Sem Evidências”, sob a direção do canadense Aton Egoyan. Trata-se do controverso caso “West Memphis Three”, um comentado julgamento que causou comoção no início dos anos 90, onde três adolescentes do Arkansas foram presos pelo brutal assassinato de crianças, encontradas mortas, amarradas, imersas em um riacho. A acusação era baseada em prováveis indícios de satanismo. O caso não foi solucionado até hoje por causa da fragilidade das investigações e complexidade dos suspeitos, para além dos acusados. O filme é baseado no livro da premiada jornalista investigativa americana Mara Leveritt (“Devil’s Knot“, 2002), e isso fica bem evidente já que ali, é esmiuçado a trapalhada que foram os procedimentos legais do caso, e o filme é bem isso: após um prólogo emocionalmente forte, vai narrando o caso pela pendor jurídico com as partes envolvidas estabelecendo suas versões do caso, e as razões para que os acusados sejam condenados, ou não.

Devils-Knot-movie

Egoyan pouco acrescenta a narrativa, com uma direção um tanto protocolar, apesar do cuidado em não cair no melodrama da questão. Mas o grande problema está no roteiro, que ao externar a controvérsia do caso, opta pela fragmentação do ponto de vista, sem tornar isso uma norma narrativa, mas sim uma colagem de indícios. Daí o longa se pretende complexo, mas resulta esquizofrênico. Juntando a isso atuações fracas (Reese Whiterspoon) ou apáticas (Colin Firth), fica a sensação de que, do jeito que ficou, era bem melhor investir em um outro documentário sobre o caso, pois a dramaturgia ficcional vira quase um engodo para a perturbadora história em si. A gente percebe que o filme é problemático, quando fica ansioso para que acabe logo, para poder ler os desdobramentos do caso real, que são citados depois do fim. A ficção de Aton Egoyan não deu conta da realidade da qual é extraída. 

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