Hell’s Paradise é um anime que desde foi anunciado já sabíamos que não seria discreto. Uma produção da Twin Engine e do Studio MAPPA, a série tinha um dos estúdios mais cobiçados adaptando a história do mangá criado por Yuji Kaku. Seguindo a esteira de Chainsaw Man, outra série com elementos de terror, e o estúdio acertou em cheio. Trazer à vida uma série que utiliza horror corporal, elementos religiosos, cenas de morte viscerais e grandes cenas de ação, enquanto captura a profundidade emocional dos personagens, não é tarefa fácil. Não foi um equilíbrio fácil de capturar para o mangaká em sua obra original, e certamente é uma tarefa diferente ao trazê-la para a tela. Dito isso, a primeira temporada de Hell’s Paradise é uma série que emocionalmente supera vários parâmetros e deixa uma impressão significativa para quem assiste.
Para aqueles que não conhecem, o gancho da primeira temporada de Hell’s Paradise é que temos essencialmente uma versão do Esquadrão Suicida no Japão Feudal. Quando o Xogum decide que quer a imortalidade e para isso precisa do elixir da vida escondido em uma ilha de onde ninguém jamais retornou vivo, reúne os condenados mais crueís e implacáveis para reivindicar tal bebida. Se sobreviverem à ilha e trouxerem o elixir de volta, serão libertados. Se não sobreviverem ou tentarem escapar, seus Asaemon executam a vida dos escolhidos na hora. Isso atrai o público para a série, mas, assim como Chainsaw Man, são os personagens e sua profundidade que mantém o interesse.
O principal condenado no centro desta história é Gabimaru, o Vazio. Chamado assim por causa da sua apatia em relação ao ato de matar, ele simplesmente não morre. Ele foi queimado e sobreviveu. Teve uma espada quebrada no seu pescoço e sobreviveu. E, apesar de suas alegações de vazio, ele está muito conectado ao mundo, graças à sua esposa. Um assassino que nega sua humanidade.
A outra figura central da história é sua executora designada, Sagiri Yamada Asaemon. Uma mulher fazendo o trabalho de um homem e enfrentando adversidades suficientes em sua vida de executora. Filha de um carrasco, ela não tem a posição ou o gênero para ser um samurai, mas pode ser uma executora. Mesmo assim, seu posto é limitado pela forma como as pessoas percebem. Ao contrário de Gabimaru, ela sente críticas. Ela vê o passado daqueles que matam e oferece a libertação da morte como uma fuga de seus pecados. Mas aprende a aceitar matar, mas também aprende a não matar simplesmente. Gabimaru e Sagiri são um equilíbrio numa balança conectada pela camaradagem e respeito mútuo que se constrói ao longo do tempo na ilha, mas nunca é envolta pelo romantismo.
Gabimaru e Sagiri não são as únicas partes importantes desta primeira temporada. Temos um elenco massivo de condenados e seus executores. Cada novo personagem tem um design forte que deixa um impacto visual contra uma ilha vibrante e maligna. Mais importante, o elenco estendido da série também impulsiona o núcleo emocional da história. Em vez de fazer de Sagiri e Gabimaru o núcleo de cada momento emocional, a narrativa tira personagens que são vistos por um episódio e aqueles que são vistos desde o início na mesma medida. Em suas mortes, o MAPPA foi capaz de capturar e até ultrapassar a narrativa, gerando a importância com um personagem que conhece há tão pouco tempo. Como público, lamentamos as mortes de condenados e executores, ao conhecer suas lutas, pelas razões pelas quais se tornaram quem são, criamos um vínculo entre nós e eles. É construído apenas para ser rápido, mas também para garantir um espaço para cada personagem da série em nossas memórias como fãs de anime.
Além disso, o anime deixa espaço para que os condenados maus sejam apenas mais humanos. Moldados por suas vivências, mas impulsionados pelo egoísmo e pela conquista pessoal, torcemos pelo que enfrentam, não por quem eles são. Hell’s Paradise constantemente equilibra a moralidade contra a personalidade de seus personagens, e por isso, é um sucesso.
Tratando da animação, Hell’s Paradise é deslumbrante. A beleza da série vem da capacidade do Studio MAPPA dar tanta atenção e cuidado aos elementos grotescos da série, como as criaturas e deuses, que permitem destacar também os designs bonitos. A ilha é vibrante e deslumbrante, como também decadente, e as criaturas que a habitam são vislumbres de criaturas e organismos. O estúdio, com sua experiência em Jujutsu Kaisen e Chainsaw Man, faz com justiça.
A primeira temporada de Hell’s Paradise nos deixa com uma sensação de vazio, principalmente por conta de seu final inconcluso. Adaptando apenas metade dos 13 volumes da série original, o episódio 13 se concentra mais em preparar o terreno para o que está por vir do que em oferecer um desfecho satisfatório.
Embora sabemos que nem todo final precise ser grandioso e devastador, Hell’s Paradise tinha o potencial para um final memorável. Em vez disso, a temporada termina com um futuro sombrio, mesmo com a confirmação de uma segunda temporada. Essa escolha narrativa levanta a questão de se realmente valeu a pena deixar tanto peso para uma possível continuação.
Dito isso, a primeira temporada de Hell’s Paradise é tremenda. É bela, reflexiva e, em momentos, cruel. A série é tudo o que o MAPPA faz bem, mas precisa de mais.