Olhos Puxados: O que comer? – Parte I

30
2


Nas edições anteriores, preocupei-me em falar das diferenças de comunicação entre japoneses e ocidentais, mas hoje vou abordar os hábitos alimentares que tornam os japoneses um povo de fenótipo magro e saudável.
É lendária a longevidade oriental e os costumes saudáveis que a mantém assim tão milenar. Em primeiro lugar, a alimentação segue um padrão mais parecido com o dos países europeus em termos de quantidades por cada refeição, tornando o café-da-manhã o mais completo possível, parecendo-se com o nosso almoço e o almoço por sí só algo mais leve e rápido.
O arroz é a base fundamental das refeições, afetando inclusive o nome que usamos para cada uma delas: asagohan, hirugohan e bangohan (respectivamente, numa tradução literal, seria algo como “arroz da manhã”, “arroz da tarde” e “arroz da noite”).
O consumo normal inclui muitas verduras cozidas, tofu (queijo de soja), macarrão e peixe/frango grelhado ou frito. As gorduras saturadas são pouco usuais até mesmo nos lanches ocasionais: em vez de se comer um salgado ou snack calórico, prefere-se muito mais optar por sucos energéticos e biscoitos feitos de arroz e gergelim queimado. Em realidade, não há o hábito de se “beliscar” entre as refeições – por isso que as mesmas tendem a ser muito fartas.

Hirugohan

As refeições também desempenham um papel importante no âmbito familiar, já que é durante o jantar que a família consegue estar em grande parte reunida e conversar sobre o dia-a-dia de cada um. Há também um outro momento em que a refeição se torna importante: em funerais é comum servir um banquete para todos os convidados e, no lugar one o falecido estaria, coloca-se uma chawan (tigela)  cheia de arroz com o par de hashi (os palitinhos de madeira usados para comer; no Japão, cada um tem o seu em casa) encravados no centro para simbolizar sua ausência.

No ano novo, pelas questões de respeito ao momento de introspecção que ele representa, faz-se comida especialmente dedicada ao período, em quantidade especial para três dias seguidos, pois é esperado que ninguém “trabalhe” durante tais dias.

Bangohan

Nos restaurantes, é de praxe servir gratuitamente água gelada e chá verde como cortesia aos clientes, até mesmo porque não existe o hábito de se comprar líquidos quando se faz uma refeição. Infelizmente, hábitos americanizados, como o tradicional ovos-com-bacon no café da manhã e os fast-foods, têm se popularizado muito no Japão, o que criou um problema antes incomum: o surgimento de japoneses obesos.
E pra desmistificar algo padrão que se passa na mente de muitos brasileiros: não, não se come sushi todos dias! Na realidade, o sushi lá é considerado um prato fino e que é comido com a família ou amigos em restaurantes ou em casa, em ocasiões especiais.
Semana que vem me aprofundarei um pouco mais e falarei especificamente sobre alguns pratos famosos (outros nem tanto) da culinária japonesa.
Até mais!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

2 thoughts on “Olhos Puxados: O que comer? – Parte I

  1. Essa questão dos pratos finos eu já conhecia.
    Mas uma coisa que me fica a dúvida é o shoyo. O fato de se usar pouco shoyo por este retirar o gosto da comida é verdade?
    Porque aqui se faz o completo oposto; em geral as pessoas encharcam seus pratos com o molho, tendo inclusive muita gente que “não consegue” comer comida japonesa sem ele..
    Beijos, bruno. Ótima coluna.

  2. Pois é…esse tipo de comida é fina mesmo.
    Em família, eu só como isso em funerais pra falar a verdade. Rola a cerimônia budista-xintoísta e depois o povo serve um banquete pq “os convidados tiveram o trabalho de vir de longe ao funeral”. E os convidados também dão um envelope com dinheiro pra família do morto pagar as despesas.
    Diana, use pouco shoyu pq os japoneses têm muito problema de pedras nos rins por causa do sódio do shoyu.