50 anos do golpe de 1964: a arte da repressão

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Cinquenta anos depois do golpe militar, duas exposições atualmente em cartaz no Rio de Janeiro convidam o público a relembrar e até mesmo a conhecer e a descobrir fragmentos importantes deste período tão violento quanto criativo da recente história brasileira.
A mostra Resistir é Preciso, idealizada pelo Instituto Vladimir Herzog e curadoria de Fábio Magalhães, traz de volta estes fragmentos do passado com um número expressivo de trabalhos documentais e artísticos. É a primeira vez, por exemplo, que são expostos os dois atestados de óbito do Vladimir Herzog – o falso atestado em que ele teria se suicidado e o atestado conseguido recentemente, em que o Estado reconheceu que ele morreu em decorrência dos maus tratos na prisão.
Ivan Serpa 1964_ResistirPreciso
Uma série de cartazes cria uma linha do tempo que se inicia nos anos que antecedem o golpe, com a inauguração de Brasília em 1960, e termina com a posse de Tancredo Neves, eleito indiretamente no Congresso Nacional, em 1985. Em outra sala, o longo período de ditadura é mostrado através de imagens produzidas por Luís Humberto e Orlando Brito, dois fotojornalistas que conseguiram retratar o que as palavras censuradas não podiam dizer. Personalidades que lutaram para a volta da democracia foram lembradas, como Tancredo Neves e Ulisses Guimarães.
A arte como forma de expressão da dor e da luta pela sobrevivência pode ser observada na coleção de Alípio Freire, jornalista e ex-preso político, com obras criadas por artistas dentro do presídio Tiradentes, em São Paulo. A mostra apresenta ainda as ilustrações de Rubem Grilo, ilustrador de publicações como Movimento, Opinião e Pasquim, da década de 70.
Uma instalação em vídeo lembra as 480 pessoas que morreram pela resistência, número que vem crescendo com as recentes revelações apresentadas pela Comissão Nacional da Verdade. Mas a mostra Resistir é Preciso também olha para frente: trinta obras produzidas em 1991 por artistas brasileiros ilustram a Declaração dos Direitos Humanos.
Obras assinadas por Carlos Vergara e Ivan Serpa, nomes de referência no cenário artístico, também estão presentes na exposição que já passou por Brasília e São Paulo e que fica em cartaz no Rio de Janeiro até 28 de abril encerrando seu circuito em Belo Horizonte.
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A mostra Em 1964 nos ajuda a entender o Brasil com uma rica apresentação da intensa produção cultural da época. Em uma pequena sala está uma parte valiosa deste material que mostra Paulinho da Viola recebendo seu primeiro cachê pelas mãos de Cartola, o primeiro disco gravado por Nara Leão, além de um espaço dedicado ao Zicartola, o restaurante-bar comandado por Cartola e sua mulher Zica, que virou sensação na época e precursor das casas de samba.
Em 1964 foram publicados dois dos livros mais importantes da escritora Clarice Lispector, A paixão segundo G.H. e A legião estrangeira. Outro livro que marca o período é O braço direito, romance pouco conhecido e bastante discutido de Otto Lara Resende, que o reescreveria pelo resto da vida. Destaque também para as duas paredes dedicadas às capas da revista Pif Paf, de Millôr Fernandes. Players trazem entrevistas do programa Roda Viva comandadas por Caio Fernando Abreu e Marília Gabriela com Rachel de Queiroz, em que a escritora e imortal fala sobre seu apoio ao golpe militar.
A exposição exibe ainda imagens do cineasta Jorge Bodanzky, produzidas em Brasília no momento do golpe militar, mas trará também fotos de Chico Albuquerque e Henri Ballot documentando o cotidiano dos brasileiros.
Com a curadoria do jornalista Paulo Roberto Pires, a mostra reserva um espaço especial para contar a história da Caravana Farkas, projeto do fotógrafo Thomas Farkas que reuniu jovens cineastas para documentar a cultura popular brasileira nos anos 1960, com fotos da equipe e a exibição de Viramundo, documentário de Geraldo Sarno.
Em 1964 será renovada ao longo do ano diversas vezes e outras partes do acervo do Instituto Moreira Salles serão disponibilizadas ao público. Mensalmente serão exibidos filmes que estavam em cartaz no Brasil no ano de 1964, além da realizações de ciclos de palestras e debates até o encerramento da exposição, no dia 23 de novembro.

Serviço:

Resistir é Preciso
Até o dia 28 de abril no RJ
Gratuito
Centro Cultural Banco do Brasil
Rua Primeiro de Março, 66, Centro
Tels.: (21) 3808-2020
De quarta a segunda, das 9h às 21h
Visitas monitoradas para escolas: agendar pelos telefones (21) 3808-2070 / (21) 3808-2254
Em 1964
Até o dia 23 de novembro
Gratuito
Instituto Moreira Salles
Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea
Tels.: (21) 3284-7400/ (21) 3206-2500
De terça a domingo, das 11h às 20h
Visitas monitoradas para escolas: agendar pelo telefone (21) 3284-7400

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