Quando a Marvel anunciou, em 2007, durante a ComicCom daquele ano, nos Estados Unidos, a criação de um estúdio para a criação de filmes com seus próprios personagens, que culminaria com uma produção que unisse todos em “Os Vingadores”, muita gente olhou aquela proposta com grande ceticismo. Mas, um ano depois, a surpresa foi geral com o lançamento e o incrível sucesso de “Homem de Ferro”, que tornou Robert Downey Jr um astro mundial e mostrou que todos os envolvidos estavam no caminho certo. Depois, vieram “O Incrível Hulk” (2008), “Homem de Ferro 2” (2010) e “Thor” (2011). Mas a maior responsabilidade para que o projeto Vingadores desse certo caiu sobre o Capitão América, um herói que, até então, tinha problemas para ser adaptado para o cinema, por ser, em alguns países, um personagem ofensivo por representar a superioridade ufanista dos EUA, nestes tempos complicados politicamente falando.
Mesmo assim, em 2011, a Marvel lançou “Capitão América: O Primeiro Vingador”, que embora não tenha conquistado completamente o público e a crítica, pelo menos teve o mérito de tornar o universo de Steve Rogers minimamente interessante, o suficiente para que ele se tornasse uma das peças essenciais para o sucesso avassalador de “Os Vingadores” (2012). Com o terreno ganho, ficou mais fácil fazer uma continuação das histórias do Sentinela da Liberdade. Mas, com certeza, ninguém esperava que houvesse um ganho de qualidade tão grande quanto o visto em “Capitão América 2: O Soldado Invernal” (“Capitain America: The Winter Soldier”).
Ambientada cerca de dois anos após os eventos ocorridos em “Os Vingadores”, a trama mostra Steve Rogers (Chris Evans) ainda tentando se adaptar ao mundo moderno que encontrou após hibernar por dezenas de anos. Ele passa a fazer parte de missões secretas da S.H.I.E.L.D., comandada por Nick Fury (Samuel L. Jackson), e conta com a ajuda da Viúva Negra (Scarlett Johansson). Mas os problemas começam quando Fury é vítima de um atentado, que acabam revelando ao Capitão América que algo está muito errado dentro da organização e uma das pessoas que pode estar envolvida nisso é Alexander Pierce (Robert Redford), um dos fundadores da S.H.I.E.L.D. Steve, sem poder confiar em quase ninguém, investiga o que está acontecendo junto da Viúva Negra e um novo amigo, Sam Wilson (Anthony Mackie) e descobre que o autor do ataque contra Fury é o Soldado Invernal, um perigoso e misterioso criminoso ligado aos russos e tudo leva a crer que, na verdade, ele é Bucky Barnes (Sebastian Stern), ex-parceiro do Capitão América, e que teria morrido durante a II Guerra Mundial.
Uma das grandes surpresas positivas de “Capitão América 2: O Soldado Invernal” é o roteiro bem amarrado, criado por Christopher Markus e Stephen McFeeley, os mesmos do primeiro filme. Aqui, os dois desenvolvem melhor a trama, com muitos toques de espionagem, que são mais do que adequados ao protagonista, já que ele estrelou histórias deste estilo nos quadrinhos, inclusive a saga “O Soldado Invernal”, escrita por Ed Brubaker em 2005 (e que faz uma ponta do tipo “piscou-perdeu” no filme), que inspira levemente o filme. Há muitas reviravoltas na história, algumas previsíveis, outras nem tanto. Mas todas elas são necessárias para que o interesse seja mantido, o que faz com que a longa duração (duas horas e 16 minutos) passe bem rápido, sem cansar o espectador. Outro detalhe interessante é a forma encontrada pelos roteiristas para ligar elementos dos outros filmes da Marvel, como o Homem de Ferro, e possíveis futuras franquias, como o Doutor Estranho, na história, como se tudo estivesse realmente fazendo parte de um mesmo universo. Além disso, os personagens, novos e antigos, são bem mais desenvolvidos, inclusive o Capitão América e a Viúva Negra (que possui alguns segredos que devem render mais em filmes futuros). Talvez o que poderia ter sido melhor tratado é justamente o Soldado Invernal, já que, por ser essencial aos acontecimentos da trama, aparece menos do que devia. Mas não chega a comprometer o resultado final.
Outro destaque de “Capitão América 2: O Soldado Invernal” está na direção dos pouco conhecidos Anthony Russo e Joe Russo. A dupla mostra muito mais controle da produção e ritmo do que Joe Johnston, que comandou o primeiro filme, e não se descuida nem nas cenas dramáticas nem nas de ação. Aliás, os diretores conseguem resultados excepcionais nas sequências de combate corpo a corpo e duas se destacam: a luta entre o Capitão e o vilão Batroc (interpretado pelo lutador de MMA, Georges St-Pierre) logo no início do filme e os confrontos entre o herói e o Soldado Invernal, especialmente um deles, envolvendo facas e o famoso escudo indestrutível do protagonista. Vale também destacar as cenas de voo do Falcão, que estão muito bem realizadas. O único porém é que o 3-D do filme não foi tão bem feito. Quem for ao cinema esperando ver algo espetacular neste formato, com certeza irá se decepcionar.
Quanto ao elenco, todos estão muito bem em seus papéis. Chris Evans está ainda mais confortável como Steve Rogers, calando a boca dos críticos por sua escolha para o papel. Scarlett Johansson continua exalando sensualidade como a Viúva Negra, mas dessa vez, mostra bom humor, especialmente nos momentos em que quer dar uma “forcinha” na vida amorosa do Capitão, além de vigor nas inúmeras cenas de ação em que se envolve. Samuel L. Jackson ainda impressiona na telona com seu Nick Fury e se mostra essencial para as mudanças que virão para o Universo Marvel no cinema. Entre os “novatos”, Robert Redford se destaca com o seu carisma e conduz muito bem a ambiguidade de seu Alexander Pierce. Já Anthony Mackie se revela uma boa adição ao elenco, rendendo bem nas cenas em que mostra sua cumplicidade com o Capitão América, que deve render bons momentos nas próximas continuações. Quem merecia mais oportunidade é Emily VanCamp, famosa como a protagonista da série “Revenge”, que interpreta a Agente 13, mas acaba sendo pouco aproveitada. Talvez tenha mais chances na terceira parte, planejada para estrear em 2016.
Apesar de não ser superior ao filme “Os Vingadores”, “Capitão América 2: O Soldado Invernal” é um projeto bastante feliz da Marvel , que diverte não só pela ação mas também por um bom humor e algumas ótimas referências a alguns clássicos pop, como “Pulp Fiction” e o oitentista “Jogos de Guerra”, além, é claro, da tradicional (e ótima) ponta de Stan Lee, presente em quase todas as adaptações de quadrinhos da Marvel. Uma dica: Não saia até o fim dos créditos, pois há duas cenas extras que valem a pena serem conferidas, sendo uma delas ligada ao vindouro “Os Vingadores: A Era de Ultron”. Quem assistir o filme até o final não vai se arrepender.
O maior problema dessa análise são os spoilers. Eu vi o filme já, e mesmo se tivesse dito, não choraria. Mas há quem chore, então seria bom avisar que há spoilers no texto.
No mais, boa análise! 🙂
Concordo com você Hebert, um exemplo é falar a identidade do soldado invernal que em nenhum momento é suspeita, e só é dito quem é quando a máscara é retirada. Claro que quem é fã de quadrinhos da Marvel já sabia quem era o soldado invernal, mais muitos dos que assistiram e irão assistir não são, e desconhecem esse fato.Mais no geral, ótima análise.