“Liga da Justiça” recupera a esperança para a DC Comics no cinema

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Quando “Batman Vs Superman: A Origem da Justiça” foi lançado, em 2016, executivos da Warner Bros. tinham certeza de que o filme seria um verdadeiro arrasa-quarteirão nas bilheterias. Afinal, uma produção que junta os dois maiores super-heróis da DC Comics, que ainda por cima iriam fazer um tira-teima que boa parte dos fãs dos quadrinhos adoraria ver na telona, certamente renderia tanto que chegaria à desejada casa dos bilhões de dólares. Um feito que o estúdio havia conseguido alcançar apenas com “Batman: O Cavaleiro das Trevas”. Mas as coisas não aconteceram deste jeito.

Embora tenha conquistado uma legião de admiradores (que defendem o filme com a mesma paixão de um torcedor de futebol), muita gente torceu o nariz e, mesmo arrecadando bastante dinheiro, não alcançou as cifras esperadas. A situação não melhorou muito com o filme seguinte deste recém-nascido Universo Cinematográfico da DC, “Esquadrão Suicida”, que teve um resultado artístico bem pior do que “Batman Vs Superman”. Mas mesmo assim fez sucesso de bilheteria e chegou até a ganhar um surpreendente Oscar de Melhor Maquiagem. A Warner, então, decidiu fazer uma série de mudanças para garantir a sobrevivência do DCU.

Após uma série de problemas de bastidores, rumores e até mesmo troca de comando (enquanto “Mulher-Maravilha” corria por fora e conquistava público e crítica), finalmente chegou às telas “Liga da Justiça” (“Justice League”, 2017), que une alguns dos mais populares personagens da DC Comics para salvar o mundo, recuperar o tempo perdido e fazer com que as coisas fiquem mais fáceis para a Warner. Felizmente, mesmo aos trancos e barrancos, o filme acaba entregando tudo o que os fãs sempre quiseram ver: uma boa aventura estrelada por heróis carismáticos, um pouco de humor e a sensação de que há esperança para este admirável mundo novo.

Ambientada pouco tempo depois da morte do Superman (Henry Cavill), a trama mostra que a população entrou numa era de tristeza e desesperança, com conflitos acontecendo em várias partes do mundo. O cenário se torna propício para que o Lobo da Estepe (Ciarán Hinds), um ser de outro planeta, invada a Terra em busca de três artefatos que ajudarão a realizar seu plano de conquista.

Preocupados com a ameaça, Bruce Wayne/Batman (Ben Affleck) e Diana Prince/Mulher-Maravilha (Gal Gadot) decidem recrutar um grupo de pessoas com habilidades especiais: Barry Allen (Ezra Miller), conhecido como Flash por correr em altíssima velocidade, Arthur Curry (Jason Momoa), capaz de respirar debaixo d’água e de se comunicar com peixes e, por isso, ganha o nome de Aquaman e Victor Stone (Ray Fisher), que teve seu corpo mesclado a um tipo diferente de tecnologia para sobreviver após um grave acidente graças aos esforços do pai, o cientista Silas Stone (Joe Morton). Juntos, eles tentam impedir que o vilão consiga realizar seu objetivo, que pode ter graves consequências para a humanidade.

O que mais chama a atenção em “Liga da Justiça” é a troca de tom em relação a “Batman Vs Superman” e “O Homem de Aço”, também dirigidos por Zack Snyder. Embora tenha sido substituído por Joss Whedon (que comandou “Os Vingadores”) após uma tragédia familiar na reta final das filmagens, o seu estilo de filmar cenas de ação, com muitas explosões e câmera lenta, ainda está lá. Mas, dessa vez, há menos histeria e exagero. Além disso, as sequências estão a favor da história e não como um mero malabarismo estético, como aconteceu nos filmes anteriores. À medida que a trama avança, é possível notar quais cenas foram comandadas por Snyder e quais foram por Whedon. As mais físicas são do cineasta de “300” e “Watchmen”. As mais bem-humoradas, com diálogos mais consistentes, foram do criador de “Buffy: A Caça-Vampiros” e “Firefly”. O resultado final, que poderia dar muito errado, acaba funcionando em boa parte do longa.

O que também torna “Liga da Justiça” uma produção bastante agradável é a maneira encontrada para que nenhum dos heróis ficasse com mais evidência do que outro. Assim, mesmo tendo personagens já bastante conhecidos pelo público em geral, como Batman e Mulher Maravilha, o roteiro escrito por Whedon e Chris Terrio não descuida dos “novatos” Flash, Aquaman e Cyborg, dando bastante espaço para que eles se tornem essenciais para que a dinâmica do grupo seja muito boa e cative o espectador, reforçando a ideia de espírito de equipe.

Em compensação, o texto não trabalha muito bem o Lobo da Estepe, que surge como um vilão genérico e pouco carismático, ainda mais por ser criado por uma computação gráfica que nunca convence. Problema, aliás, que também atinge o Cyborg, que em alguns momentos mais parece um boneco digital. Isso sem falar do desperdício de atores como Amy Adams (Lois Lane), Diane Lane (Martha Kent) e JK Simmons (Comissário Gordon), que pouco têm a fazer na história.

O elenco principal, embora não tenha nenhuma grande atuação, ajuda a tornar o filme ainda mais envolvente. Ben Affleck consegue transmitir bem a culpa que Batman carrega por causa dos eventos ocorridos no filme anterior e passa bem a sensação de liderança do grupo. Gal Gadot, sempre graciosa, se mostra cada vez mais confortável como Mulher-Maravilha.

Ezra Miller já mostrou que é um ator com grande talento e se sai muito bem como um Flash inseguro e deslumbrado por fazer parte de uma equipe, além de deitar e rolar com os momentos de humor. Jason Momoa usa sua fisicalidade e seu jeito de “bad-ass” para fazer com que seu Aquaman seja levado mais a sério do que as versões anteriores que surgiram em quadrinhos e desenhos animados. E ele é bem sucedido em sua empreitada. O destaque negativo vai para Ray Fisher que, embora seja prejudicado pelos efeitos pouco eficazes, não se esforça para deixar o Cyborg mais interessante, mesmo com um bom arco dramático.

E quanto ao Superman? Bem, este texto não dará spoilers sobre o que acontece com ele no filme. Mas dá para dizer que ele é muito importante para que a trama aconteça e, finalmente, os roteiristas perceberam que o personagem estava sendo desenvolvido de forma errada e fizeram um bom trabalho para colocá-lo de volta aos eixos. Isso se reflete no trabalho que Henry Cavill faz no filme. Contar mais estraga a surpresa.

“Liga da Justiça” consegue tirar o gosto amargo que “Batman Vs Superman: A Origem da Justiça” deixou e dá um norte para as próximas produções inspiradas nos quadrinhos da DC Comics. O principal mérito do filme é, no fim das contas, despertar um maior interesse para este universo e deixar o público com mais vontade de ver novas aventuras com esses e outros heróis num futuro não muito distante. Ainda bem!!!

Um conselho: Não deixe de ver as duas cenas extras durante os créditos. Com certeza, são duas das melhores feitas em 2017.

Filme: Liga da Justiça
Direção: Zack Snyder
Elenco: Ben Affleck, Henry Cavill, Gal Gadot
Gênero: Ação e Aventura
País: Estados Unidos
Ano de produção: 2017
Distribuidora: Warner
Duração: 2h
Classificação: 12 anos

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