Hoje é a vez de Estevão Ribeiro falar um pouco mais sobre seu trabalho.
Pra quem ainda não conhece, o Estevão é o criador da tirinha dos Passarinhos, que em pouco tempo já atraiu a atenção de muita gente, incluindo Neil Gaiman e Paulo Coelho.
Aproveito para avisar que no dia 25/01 acontecerá o lançamento do livreto com tirinhas inéditas do Hector & Afonso, Os Passarinhos.
Nome: Estevão da Matta Ribeiro, Estevão Ribeiro
Nascido em: 02 de abril de 1979, em Vitória/ES. Moro há um pouco menos de dois anos em Niterói/RJ.
HQD: Porque quadrinhos?
ER: Foi a minha porta de acesso à alfabetização, quando ainda moleque bombardeado pelas revistas em quadrinhos dos meus irmãos mais velhos. Um gostava mais de poemas, queria ser escritor. O outro queria ser desenhista. Eu tentei fazer os dois.
HQD: Pelo que nos conta em seu próprio site, você já tem um trabalho de quadrinhos anterior aos Passarinhos. Fale mais sobre os quadrinhos que chegou a criar antes.
ER: Bem, desde sempre tentei fazer quadrinhos, mas meu primeiro trabalho profissional foi editar quadrinhos para o jornal Notícia Agora, em 2000. Eu roteirizava e diagramava histórias curtas para três desenhistas. Elas tinham cerca de 5 a 12 páginas que saiam diariamente no jornal, e os leitores acompanhavam, como uma novelinha… Fiz cerca de 380 páginas de quadrinhos, entre elas histórias do Tristão, que estreou nas páginas do jornal. No ano seguinte, publiquei a primeira revista do personagem em circulação nacional, o pela editora Escala, alguns trabalhos independentes como editor e roteirista, como Contos Tristes, Tristão – O Senhor do Fogo e minha autobiografia romanceada, Enquanto Ele Estava Morto. Também já roteirizei algumas histórias da Turma da Mônica, mas não mando nada para o mestre Mauricio há meses.
HQD: Como foi e tem sido a recepção do público no site? Até o Neil Gaiman e o Paulo Coelho entraram na dança. Certamente serviu para promover a tirinha, mas eles se tornaram fãs?
ER: Calorosa, dentro do campo de divulgação que disponho. Tenho um número de leitores fixo que não chega a ser muito, mas é fiel e já fez muita diferença: não conseguiria fazer com que Neil Gaiman notasse a tirinha se não fossem os leitores do blog, pois eles “retwittaram” o post referente à tirinha dele.
Sobre Paulo Coelho, o que dizer? É um cara ocupado, assediado, acho difícil fazer mais de uma visita num blog de um desconhecido. Ele foi elegante, comentou no blog, postou uma tirinha no blog dele, no post sobre “Por que você odeia Paulo Coelho”, e cumpriu o que prometeu: tirou do ar um mês depois. Pena que eu estava tããão ocupado que não copiei a tela do post pra guardar de recordação…
HQD: O que o incentivou a criar o site? Apenas a divulgação do trabalho?
ER: O blog é uma ferramenta de contato com pretenso leitor. Hoje é impossível você fazer um trabalho sem uma ferramenta de divulgação como Twitter ou um blog. Mas na verdade, o blog foi criado para separar as coisas: eu tenho um blog chamado Eu Rio Muito, onde conto causos sobre a minha adaptação ao Rio. O problema é que, tudo o que eu fazia, postava no blog. Os Passarinhos (que ainda se chamavam Os Pássaros) foram divulgados no blog e lá estavam tendo visitações altas em relação aos posts sobre a minha rotina, então, para não usar os pobres penosos como bengala, eu separei os blogs. Confesso que agora o Eu Rio… está parado, precisando de uma sacudida, enquanto Os Passarinhos me tomam um tempo danado…
HQD: Qual o seu ritmo de criação?
ER: A proposta é uma tira por dia, mas estou em dívida com isso porque voltei a trabalhar com jornal, que toma um tempo danado. Como quero lançar um livreto dos Passarinhos a cada cem tiras, a idéia é passar 3 meses produzindo 100 tiras e 15 dias diagramando o livro e 15 dias descansando, fazendo cerca de 3 livretos por ano.
HQD: Como costuma trabalhar? Escreve algo antes ou sai desenhando e criando os textos a partir das imagens e vice-versa?
ER: Eu escrevo os roteiros no Word, deixando uma frente de cinco tiras, pelo menos. Depois desenho no computador de acordo com o tempo. Tem dias que faço três tiras ou apenas uma. Estou há um mês sem desenhar efetivamente por causa do primeiro livreto dos personagens.
HQD: Qual o material de trabalho predileto? O que prefere usar para desenhar?
ER: Bamboo Fun J e Photoshop. Trabalho diretamente na mesa digitalizadora (tablet), sem esboços. Apenas desenho e ctrl+Z. Atualmente tenho feito as pazes com o papel e caneta, com a volta da para a redação de um jornal, mas o processo de produção das tirinhas dos Passarinhos precisa ser dinâmico, e o desenho no computador me dá isso.
HQD: Dois amigos conversando é uma constante em tirinhas. É difícil criar novidades a partir disto? A princípio o diferencial dos Passarinhos é o fato do Hector ser escritor como você.
ER: Não é não… É claro que não dá para ser original sempre, mas até mesmo essas repetições de comportamento, a impressão de que você já ouviu aquilo em algum lugar torna você cúmplice dos personagens, se o tipo de assunto te agrada.
Mas para mim o diferencial dos personagens é que eles são… Pássaros! A idéia da brincadeira é que, num diálogo, quando você espera uma atitude humana dos personagens, eles agem como pássaros e vice-versa. Um deles é escritor, o que lhe faz ter aspirações e ambições muito mais humanas do que a maioria das pessoas que conhecemos, pelo menos me sinto assim. Usar um personagem carismático para passar as agruras de uma vida incerta, que é a de autor, além de ser divertido, chega a ser crítico e didático, sem ser chato… pelo menos por enquanto.
HQD: Qual(is) o quadrinho que mais curte na web e no formato impresso?
ER: Tenho lido pouca coisa, mas acompanho Bichinhos de Jardim, da Clara Gomes e Puny Parker, do Vitor Cafaggi. Essas pessoas conseguem fazer quadrinhos com uma facilidade invejável.
Dos impressos eu adoro os clássicos, como Asterix, Garfield, Calvin & Haroldo, material da DC e Marvel eu leio por rotina e Disney, Mônica e outros leio por saudade…
HQD: Possui alguma profissão além de quadrinista/roteirista?
ER: Sou ilustrador do jornal O Dia/RJ.
HQD: Fora criar tirinhas, o que curte fazer nas horas vagas?
ER: Vale trabalhar? Sou meio viciado nisso. Tento jogar videogame, ver TV, brincar com o meu enteado, mas me bate um remorso por não estar no PC escrevendo algo. Só me desligo totalmente numa ida ao cinema. Pipoca e tela grande me fazem desligar do mundo.
HQD: Possui outro site ou link, seu ou não, que nos recomendaria?
ER: Tenho! O http://euriomuito.wordpress.com . É o meu blog encostado, o tadinho… além disso, tem o blog da patroa, http://talkativebookworm.wordpress.com/ demora a postar como eu, mas tem coisa boa lá pra ler…
HQD: Possui ou possuía alguma meta para seus quadrinhos? Ainda tem planos para novas criações, seja em HQs, ou em outras mídias?
ER: Claro! Meu plano básico é: escrever muito para tudo o que me interessar e receber por isso. Eu tenho um roteiro de um curta metragem em fase de captação, o álbum Pequenos Heróis, um projeto envolvendo grandes desenhistas brasileiros que será publicado em 2010, tenho um livro de terror sendo analisado por editoras e ainda penso em trabalhar com roteiros de programas ou novelas. O primeiro passo foi dado, há quase um ano e estou torcendo para que renda frutos logo.
HQD: Você se vê trabalhando no estrangeiro, desenhando ou escrevendo outros títulos?
ER: Me vejo escrevendo feliz da vida, não saberia te dizer o que. Não tenho um título na cabeça, talvez um projeto fechado, uma série limitada, até porque tenho tantas idéias na cabeça que não dá para se apegar a uma idéia e ficar uma vida toda nela… Já passei dez anos com o Tristão na cabeça, ele está um pouco de molho, mas quando puder escreverei a sua história definitiva, aí sim poderei deixá-lo em paz.
HQD: Tendo o Neil Gaiman como fã, pintou algum desejo de publicar em inglês as tirinhas?
ER: O Neil Gaiman conheceu a tirinha no blog em inglês dos Passarinhos, também parado por causa do livreto. É porque as tiras traduzidas são o segundo lote, da número 30 a 60, enquanto no blog em português estavam sendo postadas ainda de 1 a 30… então, resolvi dar um tempo, mas o blog http://hectorandalfonse.wordpress.com logo estará com novidades.
HQD: Alguns criadores querem apenas entreter, outros pretendem deixar alguma mensagem, ou abrir a mente das pessoas para outros pontos de vista. Como você se vê?
ER: Eu acho que nada é gratuito. Entreter é uma forma de educar, de socializar um leitor e passar uma mensagem, claro.
Se você gosta das tirinhas e elas são bem escritas, você aprenderá a forma certa de escrever ou falar em determinadas situações, uma vez que boa parte das tirinhas é sobre cotidiano.
Além disso, se a piada é boa, você a repercute de forma verbal, em roda de amigos, colegas de trabalho, ou em outras ocasiões (até impróprias, às vezes, mas a vida segue…) ou até mesmo informa: Nas tirinhas do Niquel Náusea, do Fernando Gonsales, volta e meia tem uma informação séria sobre o reino animal que dá a deixa para a piada. Isso porque o Gonsales é veterinário e sabe se valer disso em seu humor.
Atualmente Laerte tem usado nos convidado a refletir pesadamente em suas tiras. Não sei aonde isso vai dar, mas estou adorando!
Prezados Srs
Represento uma livraria, e estamos necessitando de alguns livros de Estevão da Matta Ribeiro.
Eunice