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A justa medida entre o hard rock e um refrão magnético

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No último sábado, a banda Ego Kill Talent subiu ao palco Sunset do Rock In Rio para abrir os trabalhos do dia. Nome confirmado para a abertura dos shows da próxima turnê do Metallica no Brasil em 2020, o EKT inflamou o público, apesar do mau tempo, e mostrou consistência na sua segunda apresentação no RIR, onde já havia tocado em 2017.

A competência na performance ao vivo agradou tanto os seus fãs, quanto os ouvidos de quem não conhecia seu som, confirmando, assim, sua sólida caminhada rumo à condição de uma das principais bandas de rock pesado do Brasil.

Depois de apresentações em Barcelona, Londres e Amsterdam e em festivais como o Download Fest, Rock Am Ring e Rock In Park no último ano, o EKT fez seu show tendo como base o repertório do disco homônimo de 2017. Em músicas como “We All”, “Last Ride” e “Still Here”, o grupo apresentou a justa alquimia entre o peso de um hard rock impetuoso e o poder de sedução de magnéticos refrães. Como num Foo Fighters nos seus mais pesados momentos, mas também com referências subterrâneas, como Tears For Fears, Phill Collins e até Bruno Mars. Com essa medida na mistura, o som do EKT é capaz de cativar roqueiros tradicionais, entusiastas do Stoner Rock e sensibilidades mais interessadas num rock pesado que deixa espaço aberto para o desfile da canção.

O que se viu no show de sábado foi exatamente isso. Uma rica alternância entre a roda de pogo gerada pelo barulho maciço que sai das guitarras distorcidas e deixa os corpos tomados por uma energia maravilhosamente disruptiva e o coro redentor que canta em uníssono as agradáveis notas de um chorus perfeito. A música do EKT tem com um de seus maiores trunfos a destreza com a qual se movimenta na fronteira entre uma coisa e outra. Partindo sempre do rock pesado – muitas das músicas têm afinação em lá sustenido (4 tons mais grave do que o padrão) – as composições sabem o momento exato de dosar as intensidades entre volume e silêncio, agressividade e contenção. Com isso, conseguem surpreender a audição de quem está acostumado e entediado com as obviedades tão comuns na estética do hard rock. No show de sábado, tocaram “The Searcher”, com seu elogio do riff, num clima Kyuss, seco, de Desert Rock, e tocaram a extraordinária “Heroes Kings and Gods”, com sua narrativa melódica precisa.

Esse equilíbrio vibrante, que emana da massa sonora produzida por todos os membros do grupo, é mantido pela habilidade do vocalista Jonathan Correa. Jonathan nos lembra como é decisiva a presença de um cantor talentoso numa banda de rock. Com seu vocal repleto de ecos dos melhores momentos do Grunge, Jonathan consegue alternar os climas e as ambiências com maestria. Evocando a faceta mais eletrizada do Pear Jam, Jonathan saber ser fluído, como em “Old Love and Skulls” e sabe vociferar, como em “Sublimated”.

Neste exercício de execução, sustentou o show do início ao fim com volume e compressão. Durante o percurso, soube aplicar a proporção necessária na economia dos sons. Quando as circunstâncias pediram momentos de erupção, invadiu as canções com o grito febril e rasgado que quase transforma o EKT numa banda de metal. Ao mesmo tempo, quando preciso, costurou com calma as histórias por detrás das letras, encontrando, cirurgicamente, aquela certeira nota de alívio.
No sábado, o cantor foi decisivo para incendiar o show, ao descer para a galera e agitar o público, depois de problemas técnicos com o equipamento no palco. Mas o EKT faz jus ao nome. E apesar do quase inevitável protagonismo na comunicação por parte do vocalista, a banda atua compacta e mutuamente confiante, sem exibicionismo egóicos. Seu espírito coletivo fica evidente no fato de que todos assinam a autoria das músicas. Além de Jonathan, o EKT é formado por Theo Van Der Loo (Baixo/Guitarra) e Niper Boaventura (Guitarra/Baixo) e por dois bateristas fora de série, Raphael Miranda (que também toca Baixo) e Jean Dolabella (que também toca Guitarra). A interação entre eles deixa transparecer a sensação de que estão satisfeitos de estarem tocando juntos, ali, naquele momento, naquele lugar e para aquela audiência, que recebe a mensagem e retribui.

Em meio à troca de instrumentos por parte dos integrantes e uma sonoridade permeada pelo bom gosto na escolha dos timbres, o EKT ainda apresentou no RIR um aperitivo do que será o novo disco. Tocou “Life Porn”, faixa inédita do álbum que será lançado em 2020, e que foi gravado no estúdio 606, de Dave Grohl, em Los Angeles. Produzido mais uma vez por Steve Evetts, que já trabalhou com Symphony X, Sepultura, Misfits, Hatebreed, The Cure e The Used, o disco terá 12 músicas e conta com a participação de Bob Burnquist, megacampeão de skate, Roy Mayorga, baterista do Stone Sour, ex-Soulfly e Shelter, e de John Dolmayan, baterista do System of a Down.

Tudo isso estava em jogo ali naquele palco Sunset, no último sábado. Depois de duas passagens pelo festival Lollapalooza, e shows de abertura para Foo Fighters, Queens of The Stone Age, Shinedown e System of a Down, foi a vez do RIR ver o EKT entregar tudo que tinha ao público.

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Por
Gabriel Gutierrez -

Pesquisador e jornalista interessado na música pop produzida nas Américas.

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