A Netflix não é o único streaming que desenvolve grandes franquias. A Amazon Prime chegou já mostrando a que veio, com a quantia exorbitante que pagou por uma série baseada em O Senhor dos Anéis. Teremos que esperar para ver o que a adaptação da obra de Tolkien nos oferecerá, mas temos já uma outra série de fantasia adaptada, A Roda do Tempo (The Wheel of Time); a popular franquia literária de Robert Jordan.
A Roda do Tempo é uma das sagas literárias de fantasia mais vendidas de todos os tempos e está claro que a Amazon faria que sua adaptação se tornasse uma de suas séries de referência. Talvez até aspire a ser o novo Game of Thrones, série com a qual a comparação será inevitável – e compreensível até certo ponto – por mais que os livros de Jordan tenham começado a ser publicados antes dos de George R. R. Martin. Pelo menos, a saga está completa.
É um universo literário quase infinito, perfeito para uma produtora de filmes de Hollywood em uma época em que quase todos os executivos de Los Angeles buscam licenças para definir suas narrativas cada vez mais gigantescas.
Iniciada por Jordan, que faleceu com treze livros publicados, e continuada e finalizada por Brandon Sanderson, a série literária conta com um total de 15 livros diferentes. Não exageramos nem um pouco quando dizemos que é uma saga com toneladas de personagens, uma tradição muito extensa e uma série de tramas e subtramas dignas de um texto sagrado.
Estabelecendo as bases
Só o tempo dirá se tudo será adaptado, mas, por ora, temos uma série com ambição que se preocupa em criar as bases de um vasto universo, tanto pela multiplicidade de localizações como pelo grande número de personagens que irão surgir ao longo dos anos. O resultado é muito bom, mas também passa uma sensação de que a série ainda não terminou de se encontrar, o que a torna realmente especial em comparação com outras produções semelhantes.
A ambientação se dá em um mundo épico, onde a magia existe, mas apenas algumas mulheres podem acessá-la, depois que os homens quase destruíram sua própria existência, quando enlouqueceram com o uso.
A história começará com Moiraine (Rosamund Pike), membro das Aes Sedai, chegando à pequena cidade de Dois Rios. Uma vez lá, inicia uma uma perigosa jornada ao redor do mundo com cinco jovens, um dos quais foi profetizado como o Dragão Renascido, que salvará ou destruirá a humanidade.
Seu início lembra, em parte, o que a própria Galadriel fez nas versões de Peter Jackson de O Senhor dos Anéis, com uma narração apresentando o que aconteceu no passado para entendermos a narrativa.
E a série vai tecendo o universo, embora seja verdade que aqueles menos familiarizados com a obra de Jordan e Sanderson podem se sentir perdidos em uma enxurrada de termos difíceis.
Contextualiza, mas é normal sentir-se um pouco sobrecarregado no início, mais e quando, pelo menos no primeiro episódio, mal dá tempo de assimilar tudo. Vai do dia a dia e do quotidiano em Dois Ríos, a vila onde tudo começa, até uma invasão de Trollocs – criaturas verdadeiramente aterrorizantes – em que a magia e o combate vêm à tona.
Reviravoltas, mortes, ataques violentos e várias linhas narrativas que tentam agarrar o espectador, mas tudo parece um tanto convencional. A culpa seria da adaptação ou das muitas adaptações de obras de fantasia já terem sido feitas no cinema e na televisão? Uma dúvida que levantamos em nosso primeiro artigo do ano de 2022, mas talvez seja a escolha de uma abordagem mais clássica e com, pelo menos por enquanto, uma presença reduzida do elemento fantástico para além dos diálogos.
O elenco
Rosamund Pike tem levado a sério o papel que desempenha, refletindo com seus gestos e coreografia aquele dom mágico que carrega consigo, o do Poder único . Altiva quando brinca, etérea quando viaja a cavalo pelas paisagens naturais em que foi gravada a série, nos conquistou completamente.
Além de Pike, a série tem vários atores e atrizes notáveis, como Sophie Okonedo, que interpreta a poderosa Siuan Sanche; Kae Alexander, que assume o papel de Min, uma mulher com a capacidade de ver a aura das pessoas e prever o futuro.
Vale enfatizar que o nível de produção é avassalador, parece um daqueles filmes com grande orçamento, algo que elimina de uma só vez aquela sensação de barateamento e série B que tínhamos com The Witcher em sua primeira temporada.
Não espere personagens vagando por campos abertos ou efeitos digitais de computador dignos dos anos noventa. Temos um notável trabalho de fotografia, com cenários gigantescos, repletos de elementos e hordas de seres desprezíveis.
Talvez o que dá personalidade à mitologia por trás da série, seja a ambientação que estamos em um mundo que foi salvo de uma destruição quase total e que pode estar à beira de outro. Toda a tela em que a história se desenrola é pintada aos poucos, com referências à mitologia e ao pano de fundo dos personagens, heróis e vilões.
No entanto, algumas dúvidas surgem. Embora seja divertido, pelo menos nessa primeira temporada, a sensação de situações que se prolongam desnecessariamente incomoda. Não temos nada contra isso, A Roda do Tempo mantém sua própria fórmula, apesar de ter vários lugares comuns inerentes ao gênero em que está estabelecida, mas não seria errado ir com entusiasmo.
Em qualquer caso, a série já confirmou uma segunda temporada para continuar a nos contar uma das maiores, mais épicas e divertidas histórias da literatura fantástica. Como testemunhas excepcionais deste início, acreditamos que a luz também está com a Amazon e os responsáveis por esta brava e notável adaptação.