No irresistível universo da música pop hoje existe um termo muito usado entre que os alimentam e que são alimentados, chamado farofa. Em suma, quer dizer aquele tipo de música, geralmente de alcance popular forte, comunicação fácil e feita para o indivíduo arrasar nas pistas de dança.
Ainda que a música pop seja naturalmente democrática para ser tanto conceitual como política, o termo ganha (algum) sentido – discutível, vale dizer – ao observarmos o novo álbum de uma artista da estatura de Lady Gaga.
Chromatica, seu sexto disco, vem quatro anos depois do polêmico (pelo menos para os fãs) Joanne, em que ela mergulhou forte no viés pessoal e até melancólico de sua vida pessoal. A pecha “conceitual” foi difundida sobre o resultado, mas músicas como o single “Perfect Ilusion” eram a parte que cabia a Gaga nesse latifúndio farofeiro.
No novo trabalho, a cantora se sustenta (bem) em dois extremos: a energia da house music noventista (o vintage na sonoridade de hoje, tem sido muito bem reinterpretado) com a melancolia algo ressentida das letras. Essa fricção torna o disco mais denso, ainda que divertido.
Os dois singles primeiros – “Stupid Love” e “Rain on Me” (a eficiência de um hit com Ariana Grande) – já davam um sinal da competência pop por trás do conceito que Gaga trazia. Daí, ao enfileirar hits dançantes e de sofisticadas camadas sonoras como a ótima “Enigma”, “Sour Candy” (numa bela sacada de feat com BLACKPINK), a belíssima fusão de “Chromatica II” para vibrante “911” e o encontro bem original com Elton John em “Sine From Above”.
Gaga consegue satisfazer a ânsia por farofa, sem abrir mão de sua habilidade de impor sua marca. Tanto que essa expertise chega a perfeição quando se somatiza às referências do passado mais presente que nunca em “Babylon”, a pérola do disco que tem cacife para sobreviver para além dele.
Obviamente que dentre tanta ânsia de dançar suas dores, acabe deixando a ressaca sobressaltar em algumas espécimes mais genéricas como “Fun Tonight”. Entretanto, Chromatica acaba sendo um recado de Lady Gaga ao mainstream que tanto faz parte: não subestime a farofa muito bem temperada que pode fazer de sua música.
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