Não é raro uma série fantástica, com uma primeira temporada espetacular, ser estragada por uma segunda temporada fraca. Vimos isso, mais recentemente, com Big Little Lies, da HBO. Agora mais uma série foi vítima da síndrome de “já poderia ter acabado”: a aclamada e profunda Boneca Russa, da Netflix.
Não vamos ao extremo de dizer que a série foi estragada por sua segunda temporada, mas que ela ficou aquém da primeira, isso sim podemos dizer.
Se na primeira temporada a ruiva desbocada Nadia Vulvokov (Natasha Lyonne) tinha de se desvencilhar do feitiço do tempo que a fazia morrer e voltar num eterno loop, nesta segunda temporada Nadia e seu novo amigo Alan (Charlie Barnett) se veem presos a tramas de viagens no tempo, ambos com o objetivo de mudar alguma coisa no passado de suas famílias. Isso acontece no mesmo momento em que Ruthie, que é como uma segunda mãe para Nadia, adoece.
Ao entrar em um trem na Nova York atual, Nadia desembarca na Nova York de 1982. Mais do que isso: ela desembarca no corpo da mãe, Nora (Chloë Sevigny). Nós, os telespectadores, vemos Nadia, mas todas as outras pessoas da cena veem Nora, que está grávida de Nadia.
Envolvida com o vigarista Chez, Nora acaba perdendo a fortuna da família, que consistia em vários Krugerrands, moedas de ouro de origem sul-africana.
Alan, por sua vez, entra em outro trem e desembarca em 1962 na Alemanha Oriental, no corpo de sua avó, uma imigrante ganesa que está envolvida em um plano para escavar por baixo do Muro de Berlim.
A trilha sonora continua sendo o destaque da série. Se por um lado não temos mais a icônica “Gotta Get Up”, que embalou muitos momentos da primeira temporada, por outro são adicionadas muitas músicas sensacionais, que casam perfeitamente com as cenas.
Não podemos negar que a segunda temporada mantém o esforço narrativo, com roteiros elaborados e muitas referências à primeira temporada, referências que podem passar despercebidas se você só viu a estreia da série em 2019, num distante mundo pré-pandemia.
Não são referências essenciais para entender a intrincada trama, mas sim pequenos momentos que servem como presentes para os mais ardorosos fãs da série. Além disso, não podemos deixar de elogiar a maneira como a série lida com traumas familiares, através de metáforas.
Natasha Lyonne, que está no mundo do entretenimento desde os seis anos de idade, é cocriadora de Boneca Russa, e nesta temporada atua, roteiriza, produz e dirige.
Desde o início, Lyonne e as outras criadoras da série, Amy Poehler e Leslye Headland, visualizaram Boneca Russa como uma série antológica de três temporadas.
Em entrevista ao The Hollywood Reporter, Lyonne define a segunda temporada com uma questão para o duo de personagens principais: “agora que eu parei de morrer, como faço para começar a viver?”
A segunda temporada foca muito mais em Nadia que em Alan, o que é uma pena. Sim, suas histórias se entrelaçam e realmente eles precisam um do outro, mas seria interessante ter visto mais de Alan nesta nova história.
Outro destaque no elenco, na parte de volta a 1982, é Annie Murphy como Ruthie, melhor amiga da mãe de Nadia.
Quem nunca desejou mudar o passado? Alan e Nadia – principalmente Nadia – tiveram essa oportunidade na segunda temporada de Boneca Russa.
Ao bagunçar com a linha do tempo, quebram o contínuo espaço-tempo e aprendem uma já bem difundida lição: é melhor não mexer com certas coisas – como teria sido melhor não mexer mais com a série Boneca Russa.
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