Se a presença feminina foi de suma importância na carreira de Jacob do Bandolim, nada mais justo do que uma ilustre homenagem feita por mulheres talentosíssimas a um dos maiores nomes da música brasileira. Trata-se do novo trabalho de Daniela Spielmann e Sheila Zagury, “Entre Mil… Você”. O disco é um belo tributo a Jacob, em onze faixas, lançado pelo selo Kuarup.
A influência das mulheres na trajetória de Jacob começa com sua mãe, Raquel Pick, que lhe presenteou com o primeiro bandolim. Sua esposa era responsável pela manutenção de seu arquivo e a filha Elena foi fundadora e primeira presidente do Instituto Jaco do Bandolim.
O disco abre justamente com a música que deu título ao trabalho, executado com maestria pela dupla (Daniela no sax soprano, tenor e flauta e Sheila no piano). A abertura é o cartão convite para participar da festa proposta. A irresistível leitura de ‘Receita de Samba’ é outro exemplo da acertada escolha para criação dos arranjos.
Merecem bastante atenção as cordas em ‘Vibrações’, a faixa mais contemplativa do álbum. Ela é seguida pelo balanço de ‘Bole-Bole’, numa transição cromática de atmosferas (de uma faixa para a outra) e executada com precisão. Apesar de esfuziante, repete o apuro técnico da faixa anterior, abrindo até um espaço até para uma (equilibrada) virtuose.
A pompa e a sobriedade com que ‘Doce de Coco’ é executada salta aos ouvidos e revela mais camadas do que se supõe em uma audição superficial. ‘O Voo da Mosca’ é tão deliciosa como engenhosa. ‘Migalhas de Amor’ envereda por um tom mais dramático, no qual as cordas e o piano criam uma simbiose de variegados tons.
‘A Ginga do Mané’ e ‘Santa Morena’ encerram o disco mantendo o alto nível apresentado ao longo das faixas anteriores. As duas faixas cantadas, ‘Naquela Mesa/Benzinho’ e ‘Modinha’ são executadas pela cantora e também atriz Soraya Ravenle, que faz um ótimo trabalho de interpretação.
“Entre Mil… Você” é um disco tributo diferenciado, que reverencia com todo o devido respeito esse que é uma das principais referências do choro trazendo tintas bossanovistas. Sem dúvida um discos para se colocar entre as mais felizes empreitadas dentro do gênero que para muitos parou de se reinventar, no entanto sempre há surpresas.
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