Maria Valéria Rezende é sinônimo de qualidade e premiações. Escritora tardia – ao menos no que diz respeito às publicações de suas obras, pois imagino-a escrevendo desde sempre – a paulista de Santos, e paraibana faz muito, conseguiu estabelecer o seu nome no raro panteão das celebridades literárias reconhecidas em vida. Capaz de mobilizar críticos e leitores ao deleite em suas obras, quase unanimidade em um universo mesquinho e arrogante que é o meio literário, Valéria transita com extrema maestria por linguagens tão distintas da prosa como o conto, romance e a crônica. Tendo estreado na literatura apenas em 2001, é uma das maiores ganhadoras de prêmios literários dos últimos anos sem dobrar-se à concessões ou abrir mão de seus princípios e estilo de vida.
Em A Face Serena, livro de contos publicado pela Editora Penalux e finalista do Prêmio Jabuti em 2018, Valéria apresentou algumas das suas melhores técnicas: uma objetividade que chega a ser cortante, fina compreensão de uma realidade atemporal, pois, escrito há mais de dez anos e apresentado até então apenas em prêmios (o livro, sob outro título, recebeu Menção Honrosa no Prêmio Cidade de Recife em 2008 e no Prêmio cidade de Belo Horizonte em 2013), Face Serena permaneceu deliciosamente atual e assim será por muito tempo, estabelecendo-se como uma das obras obrigatórias da literatura das nossas gerações.
Em contos curtos e que são narrados no limiar entre a poesia inerente à construção das mulheres mais fortes e toda carga que as transforma – uma escrita soprando na exata dimensão em que se fundem pele e alma – A Face Serena é um dos mais belos livros de contos de toda a literatura brasileira. Obra essencial para a compreensão da alma humana.
Considerando o indivíduo como fruto de seu meio, das suas experiências, dores e acertos, as personagens de Face Serena, evoluem em momentos de confronto com a realidade, com sensações ou com sentimentos distintos: o acolhimento familiar, a ansiedade, a violência, a morte. E, incrível, mantendo a objetividade, a escrita de Valéria consegue ser onírica, envolvente, marca que poucos escritores conseguiram imprimir às suas obras.
Fôssemos justos, reconheceríamos em Maria Valéria Rezende, rapidamente, o seu real lugar na história da literatura nacional. Suas obras deveriam estar em todas as escolas públicas desse país, seus contos deveriam ser discutidos largamente, seus romances adaptados para a televisão e o cinema, e – o mínimo – é uma escritora que deveria comandar com sua voz generosa as reuniões da Academia Brasileira de Letras. Sou dos que defendem Maria Valéria na ABL, enchendo de qualidade uma academia de letras em que poucos escrevem de fato.
A Face Serena está à venda no site da Editora Penalux. Uma amostra do livro pode ser lida gratuitamente por lá. Visite, leia, compre.
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